sábado, 9 de novembro de 2013
A difícil arte de ser quem é
Ele, então, me perguntou: Amanda, você faz alguma coisa que realmente gosta?
Lembrei de uma frase muito forte a esse respeito: “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem” – Rosa Luxemburgo. Acontece que muitas vezes, em decorrência da acomodação ao olhar e à vontade do outro, ficamos parados, imóveis, inertes. Ficamos subjugados, pois achamos que o conforto de agradar e ser aceito vale mais do que a satisfação de escolher e de ser quem somos. Não sei se esse é um problema e um desafio apenas para mim, mas infelizmente percebo-me muitas vezes em volta da escolha de me anular e anular minha vontade, para seguir a expectativa de outrem. Com o passar do tempo, de tão acostumada que estou, esqueço até mesmo o que realmente gosto e do que me dá prazer. E nessa hora de confusão, de desencontro, me vem uma forte dúvida: quem sou eu? Exercitar minha vontade, dentro dos limites sociais e legais, tem sido um importante desafio de auto-descoberta. Dizer não ou sim, conscientemente. Fazer o que me dá prazer sem me sentir incomodada ou culpada. Aprender a separar o "outro" do "eu", e a me focar mais no "eu". São tarefas que parecem primárias (e talvez sejam), mas para mim só tem sido, com algum custo, executadas agora. O medo da solidão, do abandono pode justificar esse comportamento, entretanto, perceber quão bom pode ser desfrutar o tempo consigo mesmo é algo libertador. Estou bem e feliz comigo mesma, posso estar acompanhada ou não. Posso escolher sair ou ficar em casa. Posso decidir o que vou fazer com meu tempo e recursos. Eu posso, eu escolho, eu decido. Longe de ser uma atitude egoísta, é um exercício de "ser".
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Não sei se caso ou compro uma bicicleta
Não sei se caso ou compro uma bicicleta. Eis um dilema que não se resume em si mesmo. Ando pensando nessa cultura machista que ainda povoa o pensamento brasileiro, na qual a mulher só é completa se casar. Cada dia me distancio mais desse sonho de casar, ter filhos e ser feliz para sempre, da forma convencional. Não é que não queira isso para mim, é que simplesmente não sei se quero isso para mim. Uma diferença, sutil diferença, mas que muda tudo.
Resta comprar uma bicicleta, que, além de não anular a possibilidade de um casamento mais tarde, há de me proporcionar um pouco de mobilidade nessa caótica Fortaleza lerda... O certo é que não dá para esperar durante três horas e não aparecer nenhum ônibus ou topic com capacidade de me transportar com dignidade e ter que andar por dois terços do caminho para casa a pé, até conseguir um transporte minimamente "entrável".
Como dizem por aí, não está fácil para ninguém. Daqui a pouco vai ser preciso esperar que o príncipe encantado apareça mesmo montado num cavalo e torcer para que seja príncipe mesmo e não um assaltante. É, até disso tem por aqui. Pegar ônibus é correr o risco de ser asfixiado, esmagado ou assaltado. Amar é correr o risco de ser rejeitado, traído ou abandonado. Resta comprar uma bicicleta, pois como diria a poetisa contemporânea Ivete Sangalo (tsc tsc): "Amar a pé, amor, é lenha".
Resta-me rir, tentar fazer piada e ironizar as dificuldades do cotidiano. E vou, caminhando e cantando e seguindo a canção. Vou, sem lenço e sem documento, sem celular ou bem valioso. Vou, por quê não? Por quê não?
É, não sei se caso ou compro uma bicicleta, não sei mesmo...
Resta comprar uma bicicleta, que, além de não anular a possibilidade de um casamento mais tarde, há de me proporcionar um pouco de mobilidade nessa caótica Fortaleza lerda... O certo é que não dá para esperar durante três horas e não aparecer nenhum ônibus ou topic com capacidade de me transportar com dignidade e ter que andar por dois terços do caminho para casa a pé, até conseguir um transporte minimamente "entrável".
Como dizem por aí, não está fácil para ninguém. Daqui a pouco vai ser preciso esperar que o príncipe encantado apareça mesmo montado num cavalo e torcer para que seja príncipe mesmo e não um assaltante. É, até disso tem por aqui. Pegar ônibus é correr o risco de ser asfixiado, esmagado ou assaltado. Amar é correr o risco de ser rejeitado, traído ou abandonado. Resta comprar uma bicicleta, pois como diria a poetisa contemporânea Ivete Sangalo (tsc tsc): "Amar a pé, amor, é lenha".
Resta-me rir, tentar fazer piada e ironizar as dificuldades do cotidiano. E vou, caminhando e cantando e seguindo a canção. Vou, sem lenço e sem documento, sem celular ou bem valioso. Vou, por quê não? Por quê não?
É, não sei se caso ou compro uma bicicleta, não sei mesmo...
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Dia de consulta médica
Saí do consultório pesando 20 quilos menos. Não, não fiz redução de estômago. Apenas fechei mais um ciclo. Saí leve, feliz, confiante. Aproveitei a "viagem" e caminhei até a clínica em que fazia pilates. Cheguei perguntando se me aceitavam de volta e fui recebida com um grande sorriso e elogios. Sim, sei da lógica mercadológica, mas prefiro acreditar na sinceridade da gentileza alheia, porque afinal de contas com ou sem elogios voltarei a frequentar as aulas de pilates naquele lugar. Mesmo assim fiquei satisfeita com a recepção e ainda mais confiante para essa nova fase.
Eu que sempre tentei me esconder, passar desapercebida, me sinto ultimamente completamente exposta. E felizmente já consigo me expor sem tanto medo do olhar do outro. Enquanto nas outras idas ao médico, eu passava a hora de atraso do profissional lendo algum livro, hoje pude conversar um bom tempo com uma estranha e trocar risos e cumprimentos com a família de uma futura enfermeira, estudante da Unifor e cuja mãe não se importa que o curso não dê muito dinheiro, desde que a filha possa ter um salário de R$ 3 mil trabalhando seis horas no PSF de algum interior da vida.
Achei o máximo toda essa troca, me senti meio antropóloga, meio humana. Não lembro de ter conversado com estranhos nos últimos tempos, mas foi bom. Assim como ontem, com a mulher que estava à minha frente na fila do supermercado. Ela olhava de esgueira para mim e eu imaginando que ela me reconhecia de algum lugar. De repente a senhora se encorajou e me perguntou se meu cabelo é natural, expliquei que a parte cacheada é e ela soltou uma exclamação seguida de um sorriso, elogiando a beleza do meu cabelo. Poxa, não tenho lembrança de já ter recebido qualquer elogio pelo meu cabelo natural. Mal sabe ela, mas aquela senhora me fez fechar mais um ciclo. (É muita gestalt acontecendo!)
Sei que o caminho de me aceitar como sou é longo e não facilmente trilhável, mas estou nele e percebo que não posso (e não quero) voltar atrás. Sabe o efeito dominó? Pois é, ele tem acontecido comigo, mas ao invés de peças caindo, vejo cadeados se abrindo. Não é fácil de viver, tampouco acredito que seja simples compreender do que falo, mas o importante é registrar que a vida acontece a medida que permitimos, estamos abertos e damos abertura. Muitas vezes me acho a pessoa mais aberta do mundo para a busca de conhecimento interior, mas não. Sou sabotada por meu ego, pelos meus exageros, pela minha intensidade. Sou assim? Tenho que integrar esses aspectos meus? Não sei, mas estou em busca...
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Quando uma imagem vale mais que palavras
E lá fui eu, feliz da vida depois da minha última catarse, ops... postagem, fazer aquela divulgação básica do blog no Facebook quando me deparo com essa imagem. Confesso ter uma certa ambivalência com relação aos meus escritos, pois ao mesmo tempo em que divulgo, morro de vergonha quando alguém comenta ou menciona que leu. Sinto-me despida diante do leitor, o que é bom de certo modo, porém igualmente embaraçador... Mas, voltando, fui procurar uma imagem para ilustrar minha divulgação e o Sr. Google me presenteia com esta. Poucas imagens conseguem me descrever tão bem neste momento, neste processo. Então, deixo-lhes à vontade para se deleitarem e fazerem sua própria interpretação e reflexão do que estou querendo mostrar/ falar/ compartilhar...
Para exorcizar (ou não) o cansaço...
Algumas pessoas me cansam. Termino o dia com esta constatação e com a cabeça fervilhando de raiva, de indignação, de abuso. Algumas pessoas abusam do direito de serem idiotas, inconvenientes, sem noção, estúpidas e outros mais (muitos outros mais).
A vida é uma correria louca, na qual nos equilibramos entre obrigações, vontades, metas, expectativas (nossas e dos outros). Só que às vezes percebemos simplesmente que não dá para equilibrar todos os interesses e papéis sociais, pois em alguns casos eles são conflitantes.
Hoje tentei trabalhar em um grupo reflexivo, mediado pela leitura de contos, noções de responsabilidade e empatia. Para minha surpresa, foi só terminar a atividade, já realizando outra tarefa, constato que para um dos sujeitos participantes do grupo (diga-se de passagem o mais participativo e, aparentemente, mais consciente da discussão) mostra que é muito fácil falar, mas na hora em que atitudes são testadas tudo vai por água abaixo.
Episódios como esse tiram um pouco mais da minha, já pequena, fé em alguns seres humanos. A atividade em questão foi realizada no serviço em que trabalho, um centro de tratamento do SUS para usuários de drogas. Imaginar que esses sujeitos já carregam consigo rótulos negativos e pesadíssimos, faz com que eu me esmere a cada dia para tentar contribuir com uma reflexão, uma palavra motivadora, uma nova oportunidade. Propiciar verdadeiramente um espaço de reconstrução, de questionamento cultural e discussão de valores que norteiam a vida, de forma geral, é algo que impulsiona meu agir profissional.
Porém pessoas como essa, da pior forma possível, mostram que realmente são merecedores de tantos estigmas. Ação e reação. Simples assim. Na vida todos nós temos escolhas. Por mais que a minha visão de assistente social me mostre que existem muitas desigualdades e tantos outros fatores que "justificam" tais comportamentos, na crueza da minha vida e na vida de tantos outros, sei que às vezes realmente é preciso aprender a fazer limonada com os limões que recebemos e não apenas reclamar, roubar, usar drogas, matar e se colocar como vítima da história (são vítimas sim, mas não só isso).
Sei que é um desabafo forte e até mesmo ambivalente, mas como falei antes, algumas pessoas realmente me cansam. E, para mim, essas que não sabem o que querem são as principais. Então mesmo ainda estando p. da vida, ensaio no espelho uma forma de abordar o brutamontes estúpido que me violentou verbalmente hoje e de driblar todo esse cansaço humano-existencial com um pouco de coragem, serenidade e exercícios de respiração.
A vida é uma correria louca, na qual nos equilibramos entre obrigações, vontades, metas, expectativas (nossas e dos outros). Só que às vezes percebemos simplesmente que não dá para equilibrar todos os interesses e papéis sociais, pois em alguns casos eles são conflitantes.
Hoje tentei trabalhar em um grupo reflexivo, mediado pela leitura de contos, noções de responsabilidade e empatia. Para minha surpresa, foi só terminar a atividade, já realizando outra tarefa, constato que para um dos sujeitos participantes do grupo (diga-se de passagem o mais participativo e, aparentemente, mais consciente da discussão) mostra que é muito fácil falar, mas na hora em que atitudes são testadas tudo vai por água abaixo.
Episódios como esse tiram um pouco mais da minha, já pequena, fé em alguns seres humanos. A atividade em questão foi realizada no serviço em que trabalho, um centro de tratamento do SUS para usuários de drogas. Imaginar que esses sujeitos já carregam consigo rótulos negativos e pesadíssimos, faz com que eu me esmere a cada dia para tentar contribuir com uma reflexão, uma palavra motivadora, uma nova oportunidade. Propiciar verdadeiramente um espaço de reconstrução, de questionamento cultural e discussão de valores que norteiam a vida, de forma geral, é algo que impulsiona meu agir profissional.
Porém pessoas como essa, da pior forma possível, mostram que realmente são merecedores de tantos estigmas. Ação e reação. Simples assim. Na vida todos nós temos escolhas. Por mais que a minha visão de assistente social me mostre que existem muitas desigualdades e tantos outros fatores que "justificam" tais comportamentos, na crueza da minha vida e na vida de tantos outros, sei que às vezes realmente é preciso aprender a fazer limonada com os limões que recebemos e não apenas reclamar, roubar, usar drogas, matar e se colocar como vítima da história (são vítimas sim, mas não só isso).
Sei que é um desabafo forte e até mesmo ambivalente, mas como falei antes, algumas pessoas realmente me cansam. E, para mim, essas que não sabem o que querem são as principais. Então mesmo ainda estando p. da vida, ensaio no espelho uma forma de abordar o brutamontes estúpido que me violentou verbalmente hoje e de driblar todo esse cansaço humano-existencial com um pouco de coragem, serenidade e exercícios de respiração.
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