A insônia me tira a paz e o juízo. Arrasta-me de sonhos vazios para me sufocar com pensamentos sem sentido. Sofro por algo que sei que não vai acontecer, machuco-me sem justificação, por mero deleite da minha razão. Que prazer existe em cogitar sofrimentos, em se preparar para perder? Por que não se atirar, cegamente, por entre as possibilidades e sorver, sem parcimônia, seus prazeres, suas dores, seus limites e sabores?
Ele que povoa meus pensamentos, meus desejos e fantasias. Ele que me abre um sorriso que ilumina o dia. Ele que se esforça para eu o tolerar. Ah, se ele soubesse! Se ele soubesse que eu também não sei, que não tenho o domínio, a versatilidade, a astúcia, a audácia, a certeza, enfim. Se ele soubesse que sou aprendiz, que sou andarilha, que aspiro aventura e estou no início da trilha. Se ele soubesse que eu não sei o que quero e que onde chegar será um bom lugar. Ah, se ele soubesse! Se ele soubesse como me arrastar...
Burlar minha consciência, espantar minha vaidade, curar minha necessidade de paixão. Mas por que ele tem que solucionar esta situação? Por que esperar dele, que tão despreparado é, um requinte que talvez nem exista? Por que atirar-lhe um jugo que a mim unicamente deve pertencer?
São momentos de loucura, de insanidade, em que me perco em devaneios e me encontro com o que sou. Minh'alma pulsa, latente, cobra do meu corpo e da minha razão libertação. Eu quero voar, eu quero ver o sol, quero caminhar por entre as nuvens. Na verdade eu quero mais, quero a concretude dos desejos, a abstração dos corpos, a simplicidade dos rituais pomposos de festa. Quero celebrar a vida, a contradição, e exorcizar essas amarras que me prendem ao que eu não sou e não me deixam aprender a ser, a fazer, a querer, a buscar, a ousar.
Uma alma violenta, ansiosa, à flor da pele. Um desejo insaciável. Vontade. Perplexa eu admiro este colorir, extasiada permaneço imóvel, inerte, como mera observadora da vida, da minha vida. Até quando?
Sei que nem sempre a minha paixão tem razão, mas desconheço se minha razão está preparada para uma nova paixão.
E meu coração no meio disso tudo não fala nada; antes ouve, pressente, adivinha e precocemente sofre. Não! O coração não faz nada disso, apenas trata de bombear os fluidos vitais. Basta de romantismo, chega de pieguice!
Às vezes gostaria de ter a irracionalidade dos instintos, deixar-me guiar pelos prazeres, pelos olhares, pelos suores, pelos desejos, pelos cheiros, pelos gostos. Braços, pernas, mãos, lábios, crus, mergulhar com os sete sentidos, avassaladoramente.
E meu coração no meio disso tudo não fala nada; antes ouve, pressente, adivinha e precocemente sofre. Não! O coração não faz nada disso, apenas trata de bombear os fluidos vitais. Basta de romantismo, chega de pieguice!
Às vezes gostaria de ter a irracionalidade dos instintos, deixar-me guiar pelos prazeres, pelos olhares, pelos suores, pelos desejos, pelos cheiros, pelos gostos. Braços, pernas, mãos, lábios, crus, mergulhar com os sete sentidos, avassaladoramente.
A vida dos que se fazem conscientes e pensam, escolhem, se sensibilizam e se culpam é muito dolorida. São tantos dogmas, afinal. Paradigmas que não explicam nada, nem sua própria razão de ser.
E no final se descobre que nem tudo é dor ou sofrimento. Há muita vida, muita ressaca, muita conquista, muita bebida, muita ilusão. Há muito humor, muito amor, muita decepção. Tudo se conjuga e se amplia, tudo se estende e contagia, significa, ressignifica e mostra a riqueza que há na vida.
E no final se descobre que nem tudo é dor ou sofrimento. Há muita vida, muita ressaca, muita conquista, muita bebida, muita ilusão. Há muito humor, muito amor, muita decepção. Tudo se conjuga e se amplia, tudo se estende e contagia, significa, ressignifica e mostra a riqueza que há na vida.
Há uma voz dentro de mim que me consola e que afirma que tudo se resolve no final. Mas eu não confio nela. E por que demora tanto a chegar o final? Pelo simples fato de eu não olhar para o agora e me deixar, insanamente, aprisionar pelas desventuras do vir a ser, despercebendo o que é. Perdendo-me por entre as possibilidades e esquecendo-me de me achar em meios a elas.
Consola-me, mais uma vez, a madrugada. E a voz renitente que há dentro de mim repetidamente me afirma, que tudo há de se solucionar, que tudo há de se encaixar. Razão, desrazão, saúde, insanidade! Ah, tudo é vaidade. Ah, tudo é vaidade! Eu quero ver o mar. Por que ele não me arrasta daqui? Ah, se ele soubesse... Se ele soubesse como quero ir!