segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Insanidade

A insônia me tira a paz e o juízo. Arrasta-me de sonhos vazios para me sufocar com pensamentos sem sentido. Sofro por algo que sei que não vai acontecer, machuco-me sem justificação, por mero deleite da minha razão. Que prazer existe em cogitar sofrimentos, em se preparar para perder? Por que não se atirar, cegamente, por entre as possibilidades e sorver, sem parcimônia, seus prazeres, suas dores, seus limites e sabores?
Ele que povoa meus pensamentos, meus desejos e fantasias. Ele que me abre um sorriso que ilumina o dia. Ele que se esforça para eu o tolerar. Ah, se ele soubesse! Se ele soubesse que eu também não sei, que não tenho o domínio, a versatilidade, a astúcia, a audácia, a certeza, enfim. Se ele soubesse que sou aprendiz, que sou andarilha, que aspiro aventura e estou no início da trilha. Se ele soubesse que eu não sei o que quero e que onde chegar será um bom lugar. Ah, se ele soubesse! Se ele soubesse como me arrastar...
Burlar minha consciência, espantar minha vaidade, curar minha necessidade de paixão. Mas por que ele tem que solucionar esta situação? Por que esperar dele, que tão despreparado é, um requinte que talvez nem exista? Por que atirar-lhe um jugo que a mim unicamente deve pertencer?
São momentos de loucura, de insanidade, em que me perco em devaneios e me encontro com o que sou. Minh'alma pulsa, latente, cobra do meu corpo e da minha razão libertação. Eu quero voar, eu quero ver o sol, quero caminhar por entre as nuvens. Na verdade eu quero mais, quero a concretude dos desejos, a abstração dos corpos, a simplicidade dos rituais pomposos de festa. Quero celebrar a vida, a contradição, e exorcizar essas amarras que me prendem ao que eu não sou e não me deixam aprender a ser, a fazer, a querer, a buscar, a ousar.
Uma alma violenta, ansiosa, à flor da pele. Um desejo insaciável. Vontade. Perplexa eu admiro este colorir, extasiada permaneço imóvel, inerte, como mera observadora da vida, da minha vida. Até quando?
Sei que nem sempre a minha paixão tem razão, mas desconheço se minha razão está preparada para uma nova paixão.
E meu coração no meio disso tudo não fala nada; antes ouve, pressente, adivinha e precocemente sofre. Não! O coração não faz nada disso, apenas trata de bombear os fluidos vitais. Basta de romantismo, chega de pieguice!
Às vezes gostaria de ter a irracionalidade dos instintos, deixar-me guiar pelos prazeres, pelos olhares, pelos suores, pelos desejos, pelos cheiros, pelos gostos. Braços, pernas, mãos, lábios, crus, mergulhar com os sete sentidos,
avassaladoramente.
A vida dos que se fazem conscientes e pensam, escolhem, se sensibilizam e se culpam é muito dolorida. São tantos dogmas, afinal. Paradigmas que não explicam nada, nem sua própria razão de ser.
E no final se descobre que nem tudo é dor ou sofrimento. Há muita vida, muita ressaca, muita conquista, muita bebida, muita ilusão. Há muito humor, muito amor, muita decepção. Tudo se conjuga e se amplia, tudo se estende e contagia, significa, ressignifica e mostra a riqueza que há na vida.
Há uma voz dentro de mim que me consola e que afirma que tudo se resolve no final. Mas eu não confio nela. E por que demora tanto a chegar o final? Pelo simples fato de eu não olhar para o agora e me deixar, insanamente, aprisionar pelas desventuras do vir a ser, despercebendo o que é. Perdendo-me por entre as possibilidades e esquecendo-me de me achar em meios a elas.
Consola-me, mais uma vez, a madrugada. E a voz renitente que há dentro de mim repetidamente me afirma, que tudo há de se solucionar, que tudo há de se encaixar. Razão, desrazão, saúde, insanidade! Ah, tudo é vaidade. Ah, tudo é vaidade! Eu quero ver o mar. Por que ele não me arrasta daqui? Ah, se ele soubesse... Se ele soubesse como quero ir!

domingo, 29 de agosto de 2010

Capitular



"Capitular, uma palavra portuguesa/espanhola, significa «uma letra no início de um texto». Uma inicial pode ter a altura de várias linhas de texto, o seu corpo sendo substancialmente maior que o do texto corrido. Em manuscritos medievais, algumas iniciais abrangiam o tamanho de uma página inteira"

(Fonte: http://tipografos.net/glossario/capitulares.html).

Com esta capitular eu inicio minha carreira neste blog. Espero que muitas outras capitulares sejam empregadas, que haja troca, que haja sintonia, que haja vida em tudo o que for compartilhado aqui. Ou melhor, não espero nada, assim o que vier será vantagem para mim e para os que vierem a ler minha alma.


Uma advertência, porém, devo fazer não me definam, não me rotulem, posso ser mais do que aparento. Não me dêem amarras, não me aprisionem, preciso voar em busca não sei de quem, não sei de quê, mas assim deve ser...

Clarice me entende!

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Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!
(Clarice Lispector)