Sabe quando sua vida se torna um campo de batalhas no qual você tem que lutar e resistir para sobreviver?
Sabe quando as dificuldades são tão grandes que você sente suas forças e esperanças se esvaírem?
Sabe quando você olha para o lado, na iminência de pedir socorro, mas não tem ninguém por perto?
De tal modo, não te resta outra alternativa a não ser 'ser forte'.
Hoje estou me sentindo assim, completamente esgotada.
E nem é um cansaço físico, mas cansaço existencial mesmo.
Cansada de ter que driblar o mundo inteiro.
De ser tida como forte e admirada por gente que nem sequer me conhece.
Cansada de uma imagem que criei e com a qual fui criada.
Cansada de tantas aparências.
Cansada de fazer batata parecer cogumelo.
E vice-versa.
Estava relendo um livro sobre relacionamentos (são os meus favoritos) e todos os questionamentos que os autores trazem me fizeram cair em reflexões um pouco mais profundas do que o habitual, sobre projeções, expectativas, comunicação. E parece que a cada vez que releio algo, compreendo um viés novo, um pormenor que passou despercebido na leitura anterior.
Assim, me peguei refletindo sobre essa imagem de força que alguns tem de mim, mas infelizmente é uma força pejorativa. Pode ser que eu esteja percebendo uma projeção ou que simplesmente esteja equivocada, mas a impressão que tenho, quando em contato com pessoas próximas, mas não tanto, é de que elas me veem como alguém auto suficiente, que não precisa de ninguém e que aguenta tudo sozinha.
NÃO. Definitivamente não sou assim, graças a Deus. Sou frágil, fácil de derrubar e completamente manteiga derretida, pessoas! O que se vê, geralmente à distância, é alguém que não desiste, que tenta se reinventar e construir novas possibilidades, que não entrega os pontos. Alguém que recebeu muitos nãos, muitas portas fechadas na cara e que se cansou de bater, alguém que foi embora procurar um lugar seu, do qual ninguém venha expulsá-la.
Mas isso não quer dizer que não me importe, que não sofra, que não deseje que a porta se abra para mim ou, melhor ainda, que eu consiga abrir minhas portas sem reservas para você. Acontece que quando se apanha da vida acaba-se ficando calejada, áspera até. E, talvez por isso, muito de quem eu sou não seja evidente para você que me admira ao me ver passar em frente à sua janela.
O que desejo é suportar a vida, sem perder a delicadeza, a suavidade, mas para isso eu preciso compreender e aceitar que não sou de modo algum uma pessoa fofa e meiga à queima roupa. Sou alguém distante mesmo, que não faz muita questão de quantidade em interações humanas. Alguém que se mostra indiferente à maioria das coisas, para depois chorar quietinha no escuro do quarto. Alguém que sonha e aspira com coisas fofas e meigas, ao mesmo tempo em que constrói seguranças para o próprio coração, seguranças essas que acabam arrebentadas ao primeiro toque. Já viu a confusão né? Coração e razão numa disputa sem fim, sem começo, sem se entender.
É, acho que se fosse escolher uma palavra para me representar neste momento seria confusão. E ainda ecoa a vez que ele me chamou de confusa. E eu me vi despida e dilacerada. O coração de vocês é divertido? O meu é um palhaço, mas daqueles palhaços tristes, contraditórios, que só consegue fazer o público sorrir, não vê mais graça em suas piadas, não tem mais coerência em seus afetos e seu bem querer às vezes tem gosto amargo.
Talvez tenha vindo até aqui só mesmo para admitir minha fraqueza, meu fracasso, minha imperfeição. Para entregar os pontos e dizer: "Tudo bem, vida, eu me rendo. Não aguento mais, faça o que quiser de mim!" Eu não sei - como você que lê o blog já deve saber - qual foi o ponto da conexão entre meus dados lógicos e emocionais que se rompeu. Não sei onde a conexão entre meu coração e minha cabeça se perdeu. Nem muito menos sei como é que liga o wi-fi que libera as coisas que eu penso e sinto para as pessoas que eu quero que saibam.
De repente estou lá, achando que estou arrasando, sendo amável, transparente e entregue, mas o feedback é todo outro. Coisinha estranha é mesmo amar. Acho que o C. S. Lewis tem razão quando fala que para amar é preciso ser vulnerável, mas o que ele esqueceu de dizer é como faz para transparecer a vulnerabilidade.
Será que preciso colocar uma placa pendurada no pescoço? Já ouvi e li muito sobre essas coisas e é consenso por aí as pessoas afirmarem que quando a gente está aberta ao amor, todos ficam sabendo. Oi? Acho que meu cadeado quebrou, mas ele tá aberto gente, tá aberto, só aparenta estar fechado, mas não está.
E é essa uma amostra grátis do misto de loucura, confusão e vontade que invadem meus dias de dúvidas, desconcertos e medo. Será que existe vida apesar das dúvidas? Será que existe amor após o caos? Será? São só perguntas, sempre elas...