terça-feira, 25 de outubro de 2016

Aos sonhos que acordam

Não sou daquelas pessoas que sonham muito, melhor dizendo, geralmente não lembro daquilo que sonhei durante a noite. Há quem diga que sonhos são fragmentos do que vivemos, pensamos ou desejamos ao longo do dia. Há quem diga que são momentos nos quais podemos extravasar algumas experiências. Há quem veja o sonho como uma mera junção de cenas sem sentido algum depois que acordamos.

Eu lembro da minha primeira redação "premiada" na escola. Estava na sétima série, eu acho, e a professora gostou tanto do que escrevi que disse que seria publicado num material qualquer produzido pela rede de escolas da qual a minha fazia parte. Se foi ou não publicada, ela ficou com a original e eu só lembro do tema: sonhos, e que era um texto bem bonitinho no qual eu abordava diferentes conceitos e interpretações sobre os sonhos.

O fato é que na semana passada, diante desta minha aridez em sonhar quando estou dormindo, tive um sonho. Era tão real que acordei, feliz e bastante perturbada também, meio que tentando me situar na realidade. E, neste caso, esse sonho foi um alento diante da realidade dura que tenho enfrentado em meus dias e da qual chego a acreditar que não há escapatória.

Outras vezes, porém, eu acredito que sonhos assim podem significar algo mais. Podem inspirar um novo modo de viver, de ver as coisas e pessoas, de pensar os problemas e achar soluções para as dificuldades e os pesadelos do cotidiano. Acordei daquele sonho, que tratava da resolução do meu maior problema atual, e o misto de felicidade e tristeza que me acompanhou naquele dia culminou numa possibilidade, ainda que remota, de resolver essa problemática.

Em outros tempos eu levaria isso como um sinal. E eu sinto falta dessa Amanda que cria, que enxergava as mãos cuidadosas de Deus em tudo, acho que esta fé bonitinha faz a vida mais leve, mais plena. Naquele dia eu apenas tentei abrir bem os olhos e ver se estava acordada. Cética, eu sorri. E abracei aquela possibilidade, por mais remota que me pareça.

Os problemas, na maioria das vezes, podem nos fazer esquecer dos nossos sonhos, da nossa capacidade de transcendência, da nossa fé bonitinha. E eu sei que aquela Amanda cheia de fé pode até não estar mais por aqui, mas sei que eu acredito que coisas boas podem acontecer. E acredito que mereço acordar de um sonho bom e viver uma vida boa, como a do sonho.

O que importa hoje é não esquecer de sonhar, dormindo ou acordada. E não esquecer de quem eu sou, de onde eu vim e para onde eu quero ir. Tenho planos, tenho desejos, tenho sonhos. E, principalmente, tenho uma vida pela frente para realizar o que pode ser realizado e superar a gélida sensação de que não há mais saída. Sempre há e eu hei de encontrá-la, em sonhos, acordada, perdida em meio aos dias sombrios, ou aos cheios de cor, que tenho pela frente.

Vamos em frente (enfrente)!

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Sobre a arte de florescer...

É quase primavera e, apesar de na região em que moro não haver uma diferenciação das estações do ano, esta é a minha estação favorita.

De todas as metáforas que penso para a vida a de florescer é sem dúvida a mais presente e significativa. Na verdade se tratam de ciclos... E a vida é repleta destes ciclos. Você semeia algo, alguma coisa, um sentimento, um pensamento, um projeto, etc... E depois você rala, dá duro mesmo, para cuidar daquilo que plantou, porque muitas vezes por um mero descuido tudo vai por água a baixo.

Mas como você não quer isso, você realmente se esforça e dá tudo de si para poder manter sua semeadura a salvo de pragas. Daí chega o momento em que você vê seu projeto "florescer", ainda não há frutos concretos do seus esforços, apenas um presságio do que virá, mas isso já é suficiente para lhe nutrir de força e destemor para continuar esperando.

A primavera, então, antes de significar a colheita, a recompensa pelos esforços empreendidos, aponta para uma chama de esperança, isto é, nos faz perceber que todo o nosso esforço não foi em vão e que mais cedo ou mais tarde poderemos alcançar as coisas pelas quais estamos nos empenhando.

Às vezes a vida da gente parece uma seca, nada vinga, nem mesmo uma flor aparece em nosso caminho. Hoje eu sinto esse desânimo tomar conta de mim. A tristeza por me esforçar tanto e ver tão poucos sinais de que meus esforços estão sendo direcionados para um objetivo viável.

E eu me pergunto se minha plantação está realmente acontecendo em terreno fértil. Porque não adianta utilizar as melhores sementes, regar religiosamente, adubar cuidadosamente e acompanhar carinhosamente o desenvolvimento da nossa semeadura. Se a terra for seca, nada dali brotará...

Existem esses momentos cruciais na vida da gente em que é preciso ser humilde o bastante para se abaixar até o solo e ver o que há ali. Ver as bases sobre as quais estamos construindo nossa história.

Olhar bem de perto para nossas sementes e compreender se elas tem capacidade de brotar. É preciso enxergar tudo aquilo que compõe nossa vida e questionar se esses elementos estão funcionando harmonicamente e colaborando para chegarmos aos nossos objetivos.

Enfrentar nossos piores temores e entender se temos a capacidade de nos doarmos por um propósito que pode não vingar. Porque simplesmente não há certezas no caminho, são apostas de tudo ou nada e precisamos pesar bem se temos condições de apostar para perder tudo, se já nos permitimos ganhar tudo.

A vida é hoje, A vida é agora. E preciso aprender a lidar com respostas e resultados que não virão hoje ou agora. Porque a fluidez da vida depende das nossas escolhas de hoje que reverberarão no amanhã. Mas o que eu quero para amanhã? Será que o que tenho hoje em mãos pode se transformar no que quero ter amanhã? Será que minhas escolhas são coerentes com minhas buscas?

Até onde posso enxergar, a vida traz necessariamente mais perguntas do que respostas. E eu preciso aprender a responder ao dia a dia da maneira mais honesta possível, seja para mim, seja para quem faz parte da minha vida. Não dá pra jogar sementes a ermo, não dá para fingir que a colheira não importa. Tudo importa. O hoje, o amanhã e o futuro são construções que nascem do agora.

E se a cada dia as coisas não estão como eu gostaria, e precisaria, que estivessem, será que não é hora de reconsiderar as possibilidades, as escolhas e tentar ver as coisas sob um ângulo diferente? Ficam mais algumas perguntas...

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Independência ou morte?

Tomo meu ônibus costumeiro de volta para casa. O mal-estar é tanto que sufoca minha capacidade de racionar. Antecipo minha parada e vou procurar por você.
Entro ofegante, suando, nervosa. Mais bagunçado que meu cabelo são minhas ideias, minha dúvida, minha intensa confusão.

São tentativas diárias de não surtar. São demandas que eu não tenho como responder. Sou uma só, tenho tão pouco. Mas vou, faço, ouço, tento insistentemente te mostrar que sou tão humana, tão frágil ou tão vulnerável como você. Mas é em vão. Me perco em meio ao vão que é insistir com quem não se importa. Gasto meus últimos centavos na última ligação. Foram meus últimos minutos. Eu tentei.

Bato na porta, chamo, ligo, pergunto, imploro. Mas não é sim nem não. Apenas silêncio, indiferença. A sensação de inadequação, de auto-ojeriza, o medo, a falta de espaço e de ar.
Não há lugar, - para mim, para meus pensamentos, para minha vontade, para o que eu não sei explicar - e em meio a tantos espaços vazios, eu me despeço.

sábado, 13 de agosto de 2016

13

Eu procuro escrever sobre minhas experiências. Sobre situações que enfrento, sobre medos, sobre pequenas, ou grandes, vitórias. E, na maioria das vezes, o blog acaba assumindo a função de diário, testamento de recordações.


Mas se eu for pensar, e contabilizar meus dias, certamente lembrarei de momentos ruins, de dias em que simplesmente acreditei que não dava mais, que não ia aguentar. A memória prega peças, mas, para mim, sempre foi, e continua sendo, bem mais fácil recordar os dias de "bad".


Hoje, dia 13, dia que recebeu um significado especial desde 13/08/13, devido a uma cirurgia envolvendo o risco de perder meu útero, quando tive de enfrentar um pesadelo e saí, embora com cicatrizes, inteira.


Mas são muitos os dias 13, em sua acepção de terror, de falta de sorte, de coisas ruins que acontecem, de eu me sentir no fim da estrada, sem saber ou ter para onde ir.


Aquela rede social me traz uma lembrança de 4 anos, em que eu falava sobre enfrentar medos. E hoje, esta lembrança, me deixa ainda mais triste do que já sou. Imagino o quanto algumas posições me deixam vulnerável. O quando alguns sentimentos me deixam cautelosa. O quanto algumas pancadas me deixam desanimada e sem coragem de enfrentar a vida e os agressores.


E é difícil não ser saudosista ou mesmo me sentir usando uma carapuça de vítima, é irresistível. E, como em tantos momentos já experimentados, eu olho para frente e não enxergo nada. Sinto gana de parar, de me esquivar, de desistir.... Mas como? Como não assumir a responsabilidade pela vida que eu tanto prezo e tento, com toda paciência e coragem, fazer dela algo melhor?


Como desistir de mim e assumir ou deixar que alguém assuma a consequência pela minha ausência, pelo medo e covardia que me invadem? Eu tento respirar, mas parece que os pulmões estão sobrecarregados, e em meus olhos e ouvidos eu assisto a histórias ruins que não param de se repetir.


Procuro por entre as paredes, sujas e bagunçadas, do meu interior uma razão para tudo o que estou sentindo. Procuro ao meu redor alguma saída, alguma maneira de me sentir melhor, mas tudo cada vez mais parece silêncio e dor. E se a dor física é incômoda, essa dor que emana de bem dentro da alma é algo insuportável. Não há como não sentir, não há como ignorar. E o apelo da vida é de seguir adiante, mas como?


Parece que tudo são perguntas sem respostas, e são perguntas demais... Eu não sei responder, não sei qual é a fórmula - mágica, física, matemática, se qual for - capaz de me devolver um lampejo que seja de lucidez. E as horas passam... Eu passo com elas e paro nelas.


Até onde?
Até quando?
Quanto mais?
Será que aguento?


Tudo é barulho e calmaria.
E eu, confusão.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Das coisas que aprendi com meu cabelo cacheado

Às vezes me parece que a vida é um grande jogo de blefe. Não importa realmente o que você é, e sim o que você transmite. Passei dos 15 aos 27 anos fazendo químicas de relaxamento/ alisamento em meus cabelos. Nessa época, não tinha a menor vontade de conhecer como era meu cabelo de fato. Importava mais, a mim, controlá-lo, domá-lo, torná-lo socialmente aceitável, me encaixando no padrão do cabelo disciplinado.

Hoje eu observo tantas situações em que minha atitude segue a mesma lógica de como cuidei do meu cabelo durante esses 12 anos. Não existe tempo nem vontade para realizar os cuidados necessários, então é praticamente óbvio recorrer à fórmulas que ajudem a colocar as coisas no lugar e não destoar do restante do gado. E assim vou disciplinando a minha vida a um molde absurdamente destoante de mim.

E assim acontece com amizades, com relacionamentos, com trabalho, com os sonhos de consumo e as aspirações diversas da vida (não tão) moderna.

Em 2013 eu disse a mim mesma, e por mim mesma, que não queria mais alisar meu cabelo, que não aguentava mais aquela tortura semestral e que estava disposta a pagar o preço que fosse preciso para ter meus cabelos naturais. Foi um caminho difícil tantas vezes. Meses depois de tomar essa decisão corri até o salão para novamente alisá-lo. Mas minha ficha realmente caiu e, ali no meio do procedimento, eu vi que não queria mais aquilo.

A vida e as situações do dia-a-dia me levam ao mesmo entendimento: não quero mais isso para mim. Não quero uma vida plástica, em que tudo tem uma aparência bonita, mas na verdade é oco, sem conteúdo, sem alma.

Para ter cabelos naturais, e ,consequentemente, cacheados, eu disponho de pelo menos 3 horas da minha semana de cuidados: higienização, hidratação, nutrição reconstrução, umectação, finalização... Testo produtos, sigo técnicas o mais naturais possíveis, invisto em cremes caros (para o meu orçamento) porque eu sei que nada é caro demais para eu ter o meu cabelo do jeito que ele é. E o amo. E cuido dele com toda felicidade, mesmo quando a preguiça e o cansaço da rotina me consomem. Porque faço por mim e não por quem quer que seja.

A minha necessidade, neste momento, é de também retirar todas as químicas nocivas com as quais venho nutrindo a minha alma, em relacionamentos tóxicos, em comportamentos autodestrutivos, em um desânimo que parece não ter fim. Dar um fim nisso. Abolir as más influências. Cortar. E deixar o que é natural emanar de dentro de mim e vir a tona. Parar de encenar e de tentar me adequar às expectativas dos outros

Sei, a exemplo do que experimentei com meu cabelo, que tal processo é vagaroso e provavelmente eu tenha ganas de desistir em muitos momentos. Outrossim, reconheço que a recompensa de tudo isso valerá cada lágrima, cada domingo solitário, cada vontade de desistir definitivamente. E no final, o que, e quem, virá/ permanecerá me fará entender que tudo valeu a pena.

É, a vida é assim mesmo... Nunca se pode ter tudo o que se quer, mas é imprescindível que se tenha a si mesmo, em abundância. E que se aprenda a construir a vida em bases possíveis, recíprocas e verdadeiras. Porque, afinal de contas, nenhuma maquiagem dura a vida inteira.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sobre mudanças

Estou revendo o seriado Dr. House e uma das grandes máximas do personagem é que as pessoas não mudam.

Contraditoriamente eu acredito nisso. Explico a contradição. Embora me mantenha convicta da falta de mudança substancial das pessoas, tenho consciência de que eu mesma experimentei uma grande mudança ao longo dos anos. Não se trata de caráter, valores ou algo equivalente, mas de opiniões, de crenças, de atitudes diante da vida.

Então, como descartar essa mudança se ela se processou justamente em mim?
Mas, ao mesmo tempo, como optar por uma realidade - seja ela qual for - às custas de fé de que aquilo vai mudar, porque desse jeito que está não é tão bom?

Eu prefiro escolher algo do jeito que é/está, sabendo que é com aquilo que vou ter que lidar. E não viver com a falsa esperança, e expectativa, de que aquilo vai mudar uma hora ou outra.

As pessoas seguem o mesmo caminho e esperam quase sempre chegar a lugares distintos. Os relacionamentos se fundam na busca de moldar o outro conforme suas predileções. As inúmeras separações mostram que geralmente não há mudança quando se trata de falha de caráter ou algo que o valha.

E então, o que fazer? 
Até onde acreditar que as mudanças são possíveis? 

Eu sempre me pergunto se consigo lidar com aquela situação, pessoa ou relação do jeito que está. E me pergunto também se há algo que eu possa fazer para tentar melhorar a coisa toda. Quando as duas respostas são afirmativas ou, ao menos a segunda, insisto mais um pouco.

Em muitas destas tentativas me deparei com a máxima de House: sim, realmente as pessoas não mudam. Mas em outras, felizes e raríssimas, ocasiões pude experimentar a felicidade de ver uma situação conflituosa se transformar em algo surpreendentemente bom.

Então, por que não tentar? 
Quem me conhece sabe quão teimosa e persistente sou. Não desisto fácil...
E, felizmente, há pessoas, relações e situações pelas quais vale a pena tentar novamente e dar uma oportunidade de se metamorfosearem em algo melhor.

Se em mim há a capacidade de mudar, por que eu não uso tal capacidade para melhorar? Esperar que o outro mude como condição para viver bem é um grande erro. Mas ignorar ou negar que não é mais possível seguir do jeito que está é o maior dos erros.

É preciso ter consciência também dos limites de cada um, seus e do outro, e saber respeitar o outro sem desrespeitar a si mesmo. Uma nova oportunidade que fere a moral e os sentimentos de que a está dando é sinal de que algo não está bem.

Amar é bom, mas só é bom se esse amor começar dentro de nós para daí fluir para qualquer direção
"Amar e mudar as coisas me interessa mais". :)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Ao meu presente especial

Passei por muitos momentos difíceis ao longo dos últimos 11 - 12 anos, e estes momentos foram responsáveis por me esculpir de certa forma. Acabei me tornando mais forte, mas também mais dura. Acabei me preparando para o pior, mas também esqueci - muitas vezes - de acreditar que algo de bom poderia me surpreender. Foram estratégias de sobrevivência para lidar com a solidão, mas que acabaram fazendo com que eu me fechasse mais e mais no meu mundo de dor e desamor.

Claro que neste caminho difícil sempre houveram pessoas do bem, amigos de verdade, que me estenderam a mão, me ofereceram o ombro e me deram palavras de ânimo para seguir adiante e tentar superar a mim mesma. E eu sou infinitamente grata a cada uma dessas pessoas maravilhosas que cruzaram meu caminho e me fizeram acreditar que nem toda a humanidade está perdida, que ainda existem pessoas que se importam umas com as outras e que fazem deste mundo algo um pouco menos insuportável.

Mas hoje eu quero falar de presente, quero falar de hoje e quero falar daquele presente surpresa que apareceu quando estava de bobeira e puff... simplesmente surpreendeu. Com ele foi assim, insistentemente obstinado a chamar minha atenção, depois de um ano do meu silêncio, ele acabou conseguindo algo mais. E o relacionamento aconteceu. Houveram momentos em que tudo foi tão complicado e confuso que, às vezes, não entendo como conseguimos chegar aqui, mas chegamos surpreendentemente muito melhores do que jamais poderíamos imaginar.

Ele que a cada dia me faz sorrir um pouquinho mais, faz eu me emocionar com suas fofuras meigas, faz eu me superar e querer ser melhor. Ele que me inspira os melhores sentimentos e atitudes, que me faz acreditar em tantas coisas que eu julgava perdidas para sempre dentro de mim. Ele que me traz paz com seu abraço de urso, que me faz perder o ar sério costumeiro e rir feito uma boba das besteiras bestas que a gente vê pela internet. Ele que tira meu sono com seu ronco persistente, que é chato e dramático - como eu, e que faz tudo parecer tão sincronizado.

Ele que me faz sentir, perceber e querer o amor.
Este amor que é construído dia após dia,
amor amigo,
amor cúmplice,
amor empático,
amor companheiro,
amor recíproco,
amor vida real, sem máscaras, sem faz de conta.

E é assim, sem me estender nessa pieguice que me inunda nestes últimos tempos, que eu quero simplesmente deixar registrado que ACREDITO em dias melhores, porque o presente tem se mostrado especial o suficiente para me fazer ir além da realidade sufocante que me cerca e aspirar mais, e ir em busca de mais, e fazer o que for preciso para que esta felicidade que sinto agora seja presente em outros tantos dias, até quando tiver de ser, porque eu mereço, porque a gente merece.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Como tratar um coração machucado?

Esses dias, sensibilidade à flor da pele, lágrimas à queima roupa, eu me sinto em frangalhos.
Cansada, quebrada, prejudicada, não há definição ou mesmo descrição completa sobre o que se passa dentro de mim.

Uma xícara de tristeza, duas colheres de incerteza,  400g de medo, três unidades de angústia e ambivalência o quanto baste. Eis a receita que faz meus dias mais amargos, menos prazerosos e muito mais difíceis. Mas como reverter isso? Como tratar minhas feridas e curar meu coração?

Quando as pessoas vivenciam situações de desamor elas sofrem, é óbvio, mas quando essas vivências se tornam rotina, mesmo em outros cenários e com outros personagens, o que há para fazer? Será que existe salvação para um coração que já não consegue alimentar a ilusão de ser acolhido em sua dor?

São dias tão difíceis e neles é bem mais fácil me ocupar das dores dos outros, de outras prioridades, porque olhar para mim, olhar para dentro de mim e ver o vazio, ver o caos que me consome, é muito perturbador. Assim como é perturbador saber que talvez não haja jeito para tamanha dor e desordem.

Na vida precisamos fazer escolhas e, em todas as escolhas, há perdas e ganhos. Será que as escassas gotas de felicidade são capazes de compensar a desilusão de uma vida inteira? Será que o amor é suficiente para abstrair tudo aquilo com o que não sei lidar?

Eu queria que houvesse uma receita...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

As voltas da vida

Acho que a vida da gente é como um novelo de lã. Fofinho, bonito, bem organizado, mas completamente inútil nesta condição. O novelo se torna útil justamente ao se desfazer, ao se enrolar, embolar, enroscar. Ele fica muito mais fofinho e bonito num tapete de lá, num cachecol, num agasalho qualquer. Ele admite formas de organização muito mais complexas, em ponto-cruz, ou em crochê, do que contido num novelo.

A beleza da vida é justamente essa. Você pode se guardar, se manter arrumadinho, sem arranhões, sem perdas, contudo, como Vinicius de Moraes, prefiro acreditar que "a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu". A vida se constrói assim, nesse caos cheio de sentido, nesse descontrole, perfeitamente aceitável, de si mesmo.

E, a cada volta, a gente se sente um pouco mais quebrado, cansado, desiludido, mas eu tenho esperança de que são essas voltas que nos fazem ser quem somos e chegar cada vez mais perto daquilo que almejamos.

A minha dor hoje é somada à dor de tantos outros. E eu acredito que a bagunça que toma conta de mim, trará um pouco de crescimento mais tarde. Eu prefiro seguir em frente e acreditar que haverá um amanhã melhor, porque o hoje eu prefiro não lembrar. E que haverá momento para escancarar os sorrisos contidos, as risadas silenciadas. Haverá amor para aquecer as noites que foram precedidas por lágrimas e haverá um tempo melhor, um tempo em que se terá tempo para o amor e que a preocupação com o ser amado inunde de prazer aquele que ama.

Enquanto houver "algo em que acreditar" deste lado / Aqui do outro eu "tentarei" me orientar

sábado, 7 de maio de 2016

Por favor, seja forte!

Hoje eu acordei com febre, dificuldade de respirar e um monte de outros sintomas desagradáveis...
Me sinto só ao extremo. Conecto no Facebook e a página me diz: Bom dia, Amanda. Este foi o único bom dia que recebi, esta é a única companhia com a qual poderei contar no dia de hoje. Sinto-me completamente triste, torço por um pouco de alento, mas é a voz dentro de mim que me faz cair na real: Você está sozinha, não espere consolo de ninguém, você só pode contar consigo mesma.


Vejo as pessoas alvoroçadas pelo dia das mães. E quanta falta me faz uma mãe, alguém que se importe se ainda estou viva, que ouça meus sofrimentos e não me deixe sofrer além do que as causas merecem. Que falta faz um abraço, um ouvido pra escutar que eu preciso de ajuda. Mas o que me resta é tentar administrar esses pedaços nos quais me deixei transformar.


Às vezes a única alternativa é seguir adiante, mesmo sem forças, mesmo sem vontade, mesmo sem saber como fazer...


Amanda, por favor, seja forte!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Correr...

Vagando pelas redes sociais me deparei com uma campanha publicitária da Reebok. Nela, a marca nos lembra que nossa expectativa média de vida são 71 anos, isto é 25.915 dias, e precisamos cuidar bem do nosso corpo, precisamos aproveitar cada minuto do nosso tempo, correndo.
(Veja a propaganda neste link: https://www.youtube.com/watch?v=bcJGh32e2Mw)

E pensar neste número, por mais generoso que seja, dá um certo aperto no peito, pois trata de relembrar que temos uma previsão limitada de vida. E isso gera, pelo menos em mim, uma angústia e inquietação para não perder tempo.

Quanto tempo desperdiçado em atividades, pessoas e sentimentos que não acrescentam em nada à vida? Quanto tempo gasto com inutilidades, autoagressões e baixo-astral? Quanto tempo ainda dispomos? Ao contrário da propaganda, não podemos olhar para nossas vidas e precisar quantos dias ainda nos restam.

Mas, a despeito de todas as pesquisas e estudos na área demográfica, ainda nos sentimos imortais. Acreditamos que temos todo o tempo do mundo. E seguimos a desperdiçar nossos momentos com o que não presta.

Eu me pergunto: O que faria se soubesse exatamente quantos dias me restam?
O que mudaria em termos de prioridade?
No que investiria meu tempo e energia?

Nós somos infinitos, assim como finitos na mesma proporção.
Como conciliar esse paradoxo existencial?
Como viver melhor e aproveitar ao máximo os dias?

A peça apresenta, claro que porque convém a marca tal solução, a ideia da corrida. Correr para cuidar do corpo, correr para manter-se vivo. Correr para marcar sua jornada tão limitada e transcender seus próprios limites. E então, mais uma vez eu questiono: Por que correr? Para onde correr? Qual é o seu objetivo?

Como disse Rosa Luxemburgo, "quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem". Pense nas suas trajetórias possíveis, em seus sonhos, nas metas que ainda não realizou... e corra! Corra como se tudo dependesse disso, mas - POR FAVOR - não esqueça de admirar a paisagem, porque eu realmente acredito que há mais prazer no caminho do que no destino.

Mantenha-se em movimento.

domingo, 10 de abril de 2016

As escolhas que a gente faz, as escolhas que fazem por nós

Às vezes eu vejo o quanto me fecho em minhas paredes, em minhas verdades, em meus medos. A zona de conforto existe, mas nem sempre é tão confortável assim estar aprisionada nela. Entretanto, aquela verdade inconveniente vem me assaltar de vez em quando: é tudo escolha minha.

Ver como escolha minha, isto é, minha responsabilidade, todas as situações - ou a maioria delas - de mal estar que vivencio gera um certo desconforto. Saber-me diretamente envolvida, protagonista de uma história medíocre, que o é graças a mim é um tanto deprimente.

Mas até onde vai, de fato, minha responsabilidade sobre o que acontece? Até onde minhas escolhas interferem na minha qualidade de vida, na qualidade de vivências que cultivo? Saber que existem outros fatores que interferem nesta conta não os determina. Ao contrário, gera uma angústia não saber realmente o que se passa ao meu redor, o que depende de mim, o que sou empurrada a enfrentar inocentemente.

Existe um espectro que ronda nossa individualidade, e não é o espectro do comunismo (risos). É como caminhar numa rua escura na qual não se enxerga nada. E o coração está sempre sobressaltado na expectativa de ser surpreendido por qualquer ser da escuridão.

Às vezes a gente vive assim consigo mesmo, numa completa escuridão, sem conseguir determinar muito bem o rumo que deu a vida, o rumo que ela tomou. Às vezes por não saber o que fazer a gente simplesmente "deixa a vida me levar", e esse piloto automático também é responsabilidade nossa.

Então, creio que, mesmo em meio às omissões que cometemos a nós mesmos, temos uma parcela de responsabilidade sobre as consequências, afinal é escolha nossa não nos posicionarmos, não tomarmos quaisquer atitudes mediante determinadas situações e a omissão, como a vida sempre nos mostra, não é o melhor caminho. Nada se resolve sozinho.

O mais difícil, todos os dias, é encarar a verdade de que somos responsáveis pelo que nos acontece e, em grande parte, depende de nós o rumo que a vida toma, dia após dia. Hoje eu quero manter a paz, mas sempre haverá situações a me estressar, me tirar do sério, testar essa minha capacidade de transcender meu temperamento explosivo, então o que fazer? A quem culpar?

Lembro de um psicólogo com quem trabalhei por alguns meses, ele sempre falava que não trabalhava com culpa, com culpados. Acredito que consigo entender um pouco mais do que ele dizia naquela época. Somos responsáveis, não culpados. Não é culpa nossa a graça ou desgraça que nos sobrevêm, mas somos - em certa medida - responsáveis por ela. Somos nós os arquitetos de nossas próprias existências, na maioria das vezes ninguém nos obriga a nada.

Então conciliar esses simplórios elementos e compreender que nós é quem podemos e devemos dar um rumo diferente àquilo que não nos agrada faz parte do processo de amadurecimento e evolução. Compreender que, sim, até determinado ponto fomos moldados, mas existe um momento em nossas vidas a partir do qual nós já não podemos culpar ninguém pelo que nos acontece.

Essa consciência deve chegar para cada um a medida que o sujeito se permita enxergar as coisas de um ângulo mais amplo, claro que nem todos chegam a tal compreensão e é muito difícil fazer qualquer um enxergar o que lhe compete ver por si mesmo. Talvez a melhor saída seja cada um olhar mais para si e para o que se passa dentro.

Se cada um acender sua vela interior talvez nos tornemos, de fato, seres iluminados - não por sermos superiores ou especiais, mas por enxergamos a nós mesmos e, por nós mesmos iniciarmos a mudança de que o mundo tanto precisa. Por mais tentados que sejamos a arrastar a humanidade inteira a enxergar "nossas verdades", Platão e sua caverna nos lembram que cada um precisa percorrer por si mesmo este caminho de despertar.

Muita luz em nossos caminhos!
Até a próxima... :)

quinta-feira, 31 de março de 2016

Pra frente, Amanda!

Último dia de um mês de dias conturbados. Parece que durou um ano tão longos foram esses dias. Tantas emoções vivenciadas. Tristeza, solidão, incompreensão, medo, angústia, inquietação, sofrimentos. Alegria, generosidade, gratidão, conquista, apoio, cumplicidade, reciprocidade, carinho, descobertas. Como li, em algum lugar, o carrossel nunca para.

Estou em um relacionamento depois de alguns anos sozinha, imagina o misto de felicidade e dor de cabeça? Pois é, nem tudo é simples quando se decide não estar sozinha. Compartilhar a vida é incrivelmente bom, mas isso não nos isenta de momentos desastrosos.

Estou estudando para uma prova, para ocupar um cargo público, que pode mudar minha vida. E mesmo tentando dar o meu melhor, depois de tantos anos sem estudar algumas coisas, é muito complicado correr contra o tempo, o cansaço e tantas outras obrigações cotidianas e me sentir preparada para concorrer com vinte mil candidatos inscritos.

Estou sentindo de um jeito novo o peso da idade, isto tem afetado a minha forma física, minha disposição em realizar algumas tarefas, a minha paciência e equilíbrio emocional, os meus projetos de vida adulta, entre outras "cositas" mais.

Estou em um dos piores momentos no trabalho. Indignada com tantas coisas erradas que vivem acontecendo, e sentindo que, diante das circunstâncias, por mais que eu faça o meu melhor, minha ação profissional naquele ambiente não fará muita diferença.

Estou assistindo o desenrolar de problemas familiares complicados e desagradáveis e me sentindo completamente atada diante das situações, sem poder alterar em nada a resolução dos acontecimentos.

E em meio a este turbilhão de coisas, não posso dizer que estou bem. Sinto-me sobrecarregada, perdida, confusa. É como se o mundo, de certa forma, desabasse todos os dias em minha cabeça e eu tivesse que, pacientemente, juntar todos os caquinhos remanescentes. Mas como?

Quase todos os dias a dor de cabeça vem como sintoma de que eu preciso desacelerar, cuidar mais de mim, mas como? Não tenho tempo. Não tenho ânimo. E o que me resta?

São momentos sufocantes em que por mais que eu busque uma postura positiva diante da vida, isso se torna mais encenação do que convicção. A tristeza vem e eu me deixo levar. As lembranças do passado vem para me fazer recordar que eu ainda sou a mesma de antes, que minhas dificuldades não se atenuaram tanto assim, que ainda tenho um longo caminho de aprendizados pela frente.

Então, preciso olhar para mim, diariamente, e ao menos tentar fazer um exercício de conscientização. De compreender a mim mesma e os meus motivos de estar mal, mas, ao mesmo tempo, de compreender que não posso "jogar a toalha" e desistir de tudo, simplesmente vivendo a vida no piloto automático.

Preciso estar atenta, presente e consciente. Preciso fazer valer cada decisão tomada. Preciso cuidar das pessoas com as quais escolhi compartilhar a vida, mas preciso cuidar também de mim. E são muitas responsabilidades, enfim. Quase sempre é complicado equilibrar todo esse peso numa bandeja e sair desfilando pelos salões da vida sem derrubá-la ou causar qualquer acidente.

É preciso ter coragem, sobretudo, para - a despeito de toda insegurança e medo de fracassar - tentar, tentar, tentar... Colocar o coração naquilo que faço. Colocar mais de mim. E não desistir de ser eu, não desistir de me entender e até de compreender meus bugs, ajudando-me a me aperfeiçoar. Porque eu acredito, por mais utópico que seja, que um dia a vida há de melhorar.

Enquanto isso, a luta continua. Uns dias com mais força, noutros sendo empurrada ladeira abaixo. Seguindo em frente, "porque pra trás não dá mais".

Abraço forte (com o pouco de força que me resta hoje), torçam por mim!
Darei notícias em breve! ^^

terça-feira, 15 de março de 2016

Eu insisto.

Às vezes a vida da gente traz tantos desafios, tantas dificuldades, tantas dores... que ficamos, algum tempo, perdidos, sem saber o que fazer ou para onde ir.

Já faz alguns anos que repito a máxima de que a vida é um teste de paciência. Porque é realmente assim que eu me sinto. E mais, me parece às vezes que é como um jogo que, ao avançar o nível, aumenta proporcionalmente o grau de dificuldade.

E nesse percurso caótico de tragédia e recomeço, cabe a cada um traçar sua estratégia campeã. Fácil não é, mas entregar os pontos nunca foi uma escolha (minha). Assim, a gente sofre, se angustia, se descabela, mas também se descobre mais forte.

Parece que mesmo quando nos sentimos esgotados, resta um pouco de vontade de ver as coisas melhorarem, de fazê-las acontecer. E é isso que nos empurra adiante, muito além do que nos achamos capazes. Mais na frente, eu quero acreditar que, entenderemos o porquê das dificuldades que nos assolaram e poderemos sorrir mais completos, mais fortes e mais vitoriosos.

Por hoje, eu insisto.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O que ninguém quer contar...

Esses dias tenho sentido fortes ondas de ansiedade. Aquele desconforto que nos lembra que é preciso olhar também para dentro, que é preciso parar, que é preciso cuidar de si. Hoje esse sentimento foi mais forte. E aquele aperto no peito me indicava que algo ruim estava por vir. E veio...

Assim como há um ano tive uma excelente surpresa, que foi a reaproximação com minhas irmãs. Agora a vida me traz a constatação, mais uma vez forte e dolorosa, que minhas companheiras de cativeiro sofrem. Ouvir o relato do sofrimento alheio é sempre difícil, trabalho com isso, mas é uma realidade com a qual não desejo ter uma relação naturalizada. Eu sofro e me desgasto na escuta dos usuários do serviço em que exerço minha profissão.

Porém, ouvir relatos de sofrimento de alguém tão próximo e não conseguir transpor o muro da impotência me faz muito mal. Sei que na maioria das vezes o simples fato de quem passa por dificuldades conseguir expressar sua dor já lhe traz alívio, contudo para mim, como família-ouvinte, não há semelhante sensação. A angústia toma conta e aperta o peito. Dói demais ver quem a gente ama se sentir mal e muito pouco ou quase nada poder fazer.

Observo, todavia, que o sofrimento pelo qual esta pessoa passa advém de sua escolha abnegada por cuidar dos outros em detrimento de si mesma e de permitir que os outros a tratem mal, a desrespeitem. Existe um dito popular segundo o qual: "Os outros nos tratam da forma que permitimos que eles nos tratem", isto é, nós somos diretamente responsáveis pela forma como somos tratados pelos outros, nós permitimos o desrespeito, o desamor, a injúria e a humilhação que nos dirigem.

Quando se está no meio de um momento de fragilidade é muito difícil perceber isso e, mais ainda, conseguir encontrar meios de transpor tal situação. Entretanto, cabe a nós esse papel de avaliar constantemente a forma com que as pessoas nos tratam, pois geralmente o abuso e o desrespeito tendem a se generalizar em nossas relações como sintomas de que algo em nós não está bem.

Às vezes precisamos estar cercados de amor, de reconhecimento por nossos atos nobres e altruístas. Precisamos preencher um modelo social que diz que devemos ser pessoas de família, com boa saúde e forma física, equilibrados psicológica e financeiramente. Enfim, devemos a todo custo preencher um padrão. O que poucos fazem é questionar se tal padrão se encaixa em sua vida, se lhe faz algum sentido ou se é só um eco que ressoa em seu autoconceito vazio.

Eu, pessoalmente, me entristeço sempre que vejo alguém sucumbir diante dos padrões de normalidade social e se prostrar ao "deus aparência" para encenar uma vida que não lhe pertence. Dói ver alguém humilhar outrem simplesmente por ver no outro os reflexos de um fracasso que é seu. Sei que muitas vezes é preciso descer ao fundo do poço e permitir que nos torturem e humilhem ao extremo para nos decidirmos a mudar.

Passei por algo assim e, em meio a uma relação familiar abusiva, tive de romper definitivamente o laço de convívio sociofamiliar com determinado parente. E ver essa história de abuso levar outra pessoa ao mesmo entristecimento que já experimentei me sufoca. E, assim como digo aos usuários do serviço em que trabalho, aos amigos que compartilham relatos pesados comigo, hoje eu tive de repetir a ladainha.

Diz a sabedoria das redes sociais que "Todo mundo que a gente encontra na vida está enfrentando uma batalha que você não sabe nada a respeito. Portanto, seja gentil com todos." E eu acredito que uma palavra gentil, uma preocupação autêntica, a tentativa de mostrar para quem está sofrendo suas qualidades e seu valor pode e vai aliviar sua carga.

Existem muitas situações complicadas acontecendo com pessoas que amamos neste momento. Talvez se conseguíssemos olhar com mais atenção, poderíamos lhes proporcionar algum tipo de auxílio. Ter alguém próximo sofrendo com os efeitos da depressão - como é o caso que relatei - é muito angustiante, mas é importante entender que não se trata tão somente de desânimo. E a depressão, como toda doença, requer tratamento.

Não é preciso ser super herói para ajudar, um pouco de empatia já faz muita diferença! :)
https://www.youtube.com/watch?v=VRXmsVF_QFY
Um forte abraço!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Finitudes

O ser humano é algo bastante complexo. Parece viver preso em dicotomias e contradições infindáveis. Parece sempre confuso e perdido entre escolhas: o presente X o futuro, a realidade X o sonho, o que se tem X o ideal. E sempre preso neste mar de possibilidades, esquece que, apesar da complexidade, é fundamental escolher, tomar partido, pois não se pode fugir a vida inteira.

Algumas pessoas crescem acreditando que tudo será fácil, que ao fazer sua parte todo o resto se resolverá, e aí a realidade mostra que nem sempre os frutos de nossas ações são imediatos, e, muitas vezes, a pessoa vai plantar laranja e colher banana. Não faz sentido algum.

Hoje eu estou realmente confusa, perdida em sentimentos, em aflições, me sentindo sozinha, me sentindo com medo. Minha gastrite dói, e dói mais ainda a sensação de bagunça que toma conta de mim.

O fato de eu me sentir oferecendo meu melhor gera um conflito dentro de mim, pois, erroneamente, me faz evocar o "falso direito"de receber mais. E isso é uma prisão doentia e perigosa. Primeiro porque não se deve dar o que quer que seja com a expectativa de obter algo em troca. Segundo porque nos relacionamentos esse tipo de cobrança tem geralmente o poder de atrair justamente o contrário. E quanto mais se cobra/espera, menos se recebe.

Eu sou orgulhosa, meus amigos que o digam. Eu não peço nada. E quando eu peço, pode ter certeza que é zoação. Ao mesmo tempo, sou de oferecer muito, seja em afeto ou em concretudes. E isso gera um déficit emocional gigantesco que nem terapia, nem reza, nem conselho, nem nada tem atenuado. Então, vivo em risco de criar um lugar de vítima, de coitadinha que tudo dá e nada tem, que, como a bíblia exemplifica, acredita tanto que será recompensada que doa tudo o que tem.

Hoje eu simplesmente invejo as pessoas egoístas. Na verdade essa inveja nem é de hoje. Me sinto encenando constantemente um certo papel de trouxa na vida. Deixando que as pessoas pisem em mim, se aproveitem do meu altruísmo e da minha boa vontade, e acabem muitas vezes a me usarem ao seu bel prazer.

Daí eu recordo de uma sessão de terapia, que inclusive já devo ter mencionado por aqui, em que discutíamos sobre ser aceita X ser rejeitada e que como o medo de ser rejeitada gera comportamentos autodestrutivos, como os que enumerei anteriormente. Em que nos colocamos em último lugar e nos ocupamos tão somente de agradar o outro, deixando totalmente de lado quem somos e o que queremos.

Ao passo que ser aceita engloba a mais absoluta transparência, inclusive daquelas características mesquinhas e deploráveis, de quem nós somos (com valores, falhas, exigências e limites). Ser aceito implica, muitas vezes, delinear claramente para - e na convivência com - o outro todos os contornos que nos compõem, sem medo de que isso signifique repulsa ou separação do outro. Ser você, sem qualquer maquiagem, e saber que o outro vai te acolher do mesmo jeito.

Mas o que fazer quando sempre que se abre esse ciclo de intimidade, de abertura e vem à tona as características mais desagradáveis, a vulnerabilidade e finitude que nos fazem ser quem/como somos o outro vai embora ou demonstra não nos querer desse jeito?

É sabido que não se pode trabalhar em terapia, autoconhecimento ou qualquer outro tipo de técnica de autodesenvolvimento a figura do outro, apenas o EU. Mas como fazer quando o eu se torna frágil e transparente diante do outro, mas não existe uma implicação da outra parte? Eu mesma respondo mentalmente enquanto digito...

É tudo tão complexo, finalmente. E, ao mesmo tempo, muito óbvia a maneira de se resolver. Eu e esse meu medo...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Con-jugar

Nesses primeiros dias do ano, tendo a oportunidade de falar quase diariamente com minha melhor amiga, venho percebendo as mudanças que a vida esculpiu ao longo dos anos em mim, nela, na nossa amizade e nos relacionamentos aos quais nos permitimos.

Cris disse-me um dia desses que talvez nossa amizade sobreviva para nos apoiarmos diante da confusão que os homens ainda conseguem nos causar. Não foram exatamente essas as palavras, mas creio ter reproduzido o sentido geral. O fato é que já são quase doze anos de amizade, regados de cumplicidade e da certeza de uma sempre estará do outro lado quando a outra precisar.

Essa amizade me faz feliz, mas faz, sobretudo, com que eu pense a respeito da minha vida, das minhas escolhas e da minha dificuldade em lidar com fins e, de muitas vezes, me colocar em primeiro lugar.

Esta noite eu me sinto terrivelmente confusa. Diferente dos dias de paz que experimentei recentemente, hoje sinto um buraco imenso no meu peito e uma vasta gama de incertezas e insuficiências se mostrando como catálogo de loja.

Entre devaneios e incertezas, mal-estar e inquietação, sinto um mosquitinho me perturbando o tempo inteiro. E apesar de figurativo, esse "mosquito" me tira a paciência. Há uma ânsia urgente em mim por entender a vida, entender meus sentimentos e por descobrir o final de todas as histórias que se desenrolam em minha vida agora.

E a agonia que essa ânsia me causa já é velha conhecida e ela, geralmente, me faz agir no calor da emoção. Me faz mergulhar de cabeça numa onda forte, entrar desafiante no olho do furacão, enfrentando medos e driblando minha própria razão.

Neste momento é inevitável não ponderar tudo o que ouvi de minha amiga recentemente. E é difícil me segurar, segurar minha ansiedade, não agir nem reagir.

Há uma frase atribuída a Rosa de Luxemburgo que eu considero muito interessante, ela diz: "Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem".

Desde o final de semana a palavra movimento me acompanhou. Eu senti uma necessidade enorme de me mexer, literalmente ou não, de fazer alguma coisa. De certa forma, senti uma ânsia por me libertar, por me resgatar. Tenho me sentido muito acomodada à vida medíocre que tenho hoje. Uma vida de acomodação, de medo de perder as seguranças e me deparar com o abismo.

Mergulhei nessa necessidade de movimento, experimentando muita satisfação em pequenas atitudes que tomei. E hoje, de certa forma, sinto as correntes me machucarem...

Sinto uma inquietação grande que me impele a desapegar de posturas de auto-boicote e de me permitir viver a vida que quero, preciso e mereço. De parar de me contentar com água de poço que não vai matar minha sede nem hoje nem jamais. De virar a mesa, mais uma vez, e outras mesas, outras vezes, indefinidamente.

E essa inquietação surge nesse contexto, de querer driblar o tédio, a mesmice e o morno - das pessoas, dos afetos, da profissão, de mim mesma. De querer seguir em frente, transgredir, reconhecer, perceber onde estou presa e me alforriar. De querer abraçar o infinito, agarrar sonhos e pessoas grandes, de não ter fronteiras nem limites, de poder me jogar sem rede de segurança, de rir na cara do abismo... Eu quero ser verbo.

Por onde começar?

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mais alma, até transbordar, por favor!

Uma pontinha de felicidade apareceu por aqui esta semana. Uma felicidade que eu conheço bem e que sempre experimento ao gozar da minha presença, da minha inteireza e da minha paz. Fiquei surpresa quando percebi essa sensação timidamente aparecendo, pois não a havia vivenciado antes concomitantemente com um relacionamento.

Ainda há pouco li, no Site Papo de Homem (http://www.papodehomem.com.br/), um artigo em que a autora descrevia sua experiência de um ano sem envolvimento afetivo-sexual e recordei das minhas experiências de solidão entre-namoros, de mais de um ano sem quaisquer tipos de envolvimento, e de como esses períodos foram essenciais para me reconstruir, para me reencontrar, para achar meu ponto de equilíbrio e de paz.

E nesses dias tumultuados de um relacionamento que acabou de começar, mas que traz uma série de desafios - que chegam a ser desconfortáveis em certos momentos, me sentir feliz comigo mesma é uma linda constatação do que minhas experiências me proporcionaram. Eu não posso depender de ninguém, eu não posso depender de nenhum relacionamento. Eu preciso estar bem comigo mesma.

Talvez Clarice descrevesse o que vivi como felicidade clandestina, mas essa felicidade, embora experienciada numa dose moderada, veio à queima roupa, se fez perceber nitidamente. Lembro que até pouco tempo ela era um dos indicativos de que eu estava indo pelo caminho correto, pois me sentia tão plena e feliz com o que tinha e com quem era que isso me bastava. Era um momento de trégua em meio aos sofrimentos cotidianos.

E, diante da crise que experimentei, receber este sinal de que estou bem me fez relaxar um pouco das tensões e dúvidas que me consumiam. Acho que a parte mais complicada da vida é que a gente nunca sabe quando está indo pelo caminho certo ou quando está completamente perdida. É o mesmo quando conhecemos alguém, à primeira vista interessante, mas ficamos com a dúvida - pelas suas atitudes dúbias - se é um cara legal ou mais um "fdp".

A vida é, também, como aquelas provas subjetivas que a gente faz e se sente tão desnorteada que pensa: ou fui muito bem ou me lasquei totalmente. Com os relacionamentos às vezes é assim, e a gente vai tateando, caminhando pelo escuro numa casa que não conhecemos. E a possibilidade de estar indo bem é a mesma de se machucar.

E o que a gente faz? Tenta. Tenta. E tenta novamente. Claro que vamos errar feio, machucar a perna, cair; mas em algum momento as coisas vão começar a fazer sentido e a gente vai encontrar um caminho e, mais importante, se encontrar neste caminho.

Noutras vezes, o que temos pelo caminho é a certeza inequívoca de que não era para ser, que tentamos e fizemos o que podíamos, mas não fomos premiadas. E a gente faz a autópsia da relação e vê que, sim, tinha tudo para dar certo, mas faltou alma. E um corpo pode se encontrar em perfeitas condições fisiológicas, mas sem alma ele não se sustenta.

Desse modo, o que nos compete enquanto tateamos toda imprevisibilidade da vida e dos relacionamentos humanos é doar o melhor de nós, e deixar que os outros possam também doar-se. Estar com alguém de quem se gosta e experimentar reciprocidade nessa relação é algo estupendo e não deveria ser rotulado, não deveria ser contaminado por cobranças, por inseguranças, e por tantos sentimentos tóxicos que nutrimos.

Eu não sei como será amanhã, não sei o que este relacionamento que experimento agora me proporcionará. Sei que o que cabe a mim, hoje, é estar bem e me fazer bem, pois é só estando bem e se respeitando que a gente consegue enxergar quando o outro não faz mais bem e não corresponde ao que merecemos.

Hoje, amanhã, depois... eu quero doses, doses generosas de bem-estar, de chamego, de reciprocidade, de respeito, de felicidade, de suor, de gargalhadas... com vontade. Quero que transborde o que for de verdade e que a escassez possa ser dissipada pela vontade de melhorar, de crescer, de aprender, de ser (sozinha e conjuntamente). E que essa felicidade possa aparecer, sorrateiramente, quando menos se esperar e traga um sorriso no rosto e a confirmação de que tudo vai ficar bem. Porque, afinal, a gente merece ser feliz.