segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Con-jugar

Nesses primeiros dias do ano, tendo a oportunidade de falar quase diariamente com minha melhor amiga, venho percebendo as mudanças que a vida esculpiu ao longo dos anos em mim, nela, na nossa amizade e nos relacionamentos aos quais nos permitimos.

Cris disse-me um dia desses que talvez nossa amizade sobreviva para nos apoiarmos diante da confusão que os homens ainda conseguem nos causar. Não foram exatamente essas as palavras, mas creio ter reproduzido o sentido geral. O fato é que já são quase doze anos de amizade, regados de cumplicidade e da certeza de uma sempre estará do outro lado quando a outra precisar.

Essa amizade me faz feliz, mas faz, sobretudo, com que eu pense a respeito da minha vida, das minhas escolhas e da minha dificuldade em lidar com fins e, de muitas vezes, me colocar em primeiro lugar.

Esta noite eu me sinto terrivelmente confusa. Diferente dos dias de paz que experimentei recentemente, hoje sinto um buraco imenso no meu peito e uma vasta gama de incertezas e insuficiências se mostrando como catálogo de loja.

Entre devaneios e incertezas, mal-estar e inquietação, sinto um mosquitinho me perturbando o tempo inteiro. E apesar de figurativo, esse "mosquito" me tira a paciência. Há uma ânsia urgente em mim por entender a vida, entender meus sentimentos e por descobrir o final de todas as histórias que se desenrolam em minha vida agora.

E a agonia que essa ânsia me causa já é velha conhecida e ela, geralmente, me faz agir no calor da emoção. Me faz mergulhar de cabeça numa onda forte, entrar desafiante no olho do furacão, enfrentando medos e driblando minha própria razão.

Neste momento é inevitável não ponderar tudo o que ouvi de minha amiga recentemente. E é difícil me segurar, segurar minha ansiedade, não agir nem reagir.

Há uma frase atribuída a Rosa de Luxemburgo que eu considero muito interessante, ela diz: "Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem".

Desde o final de semana a palavra movimento me acompanhou. Eu senti uma necessidade enorme de me mexer, literalmente ou não, de fazer alguma coisa. De certa forma, senti uma ânsia por me libertar, por me resgatar. Tenho me sentido muito acomodada à vida medíocre que tenho hoje. Uma vida de acomodação, de medo de perder as seguranças e me deparar com o abismo.

Mergulhei nessa necessidade de movimento, experimentando muita satisfação em pequenas atitudes que tomei. E hoje, de certa forma, sinto as correntes me machucarem...

Sinto uma inquietação grande que me impele a desapegar de posturas de auto-boicote e de me permitir viver a vida que quero, preciso e mereço. De parar de me contentar com água de poço que não vai matar minha sede nem hoje nem jamais. De virar a mesa, mais uma vez, e outras mesas, outras vezes, indefinidamente.

E essa inquietação surge nesse contexto, de querer driblar o tédio, a mesmice e o morno - das pessoas, dos afetos, da profissão, de mim mesma. De querer seguir em frente, transgredir, reconhecer, perceber onde estou presa e me alforriar. De querer abraçar o infinito, agarrar sonhos e pessoas grandes, de não ter fronteiras nem limites, de poder me jogar sem rede de segurança, de rir na cara do abismo... Eu quero ser verbo.

Por onde começar?

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mais alma, até transbordar, por favor!

Uma pontinha de felicidade apareceu por aqui esta semana. Uma felicidade que eu conheço bem e que sempre experimento ao gozar da minha presença, da minha inteireza e da minha paz. Fiquei surpresa quando percebi essa sensação timidamente aparecendo, pois não a havia vivenciado antes concomitantemente com um relacionamento.

Ainda há pouco li, no Site Papo de Homem (http://www.papodehomem.com.br/), um artigo em que a autora descrevia sua experiência de um ano sem envolvimento afetivo-sexual e recordei das minhas experiências de solidão entre-namoros, de mais de um ano sem quaisquer tipos de envolvimento, e de como esses períodos foram essenciais para me reconstruir, para me reencontrar, para achar meu ponto de equilíbrio e de paz.

E nesses dias tumultuados de um relacionamento que acabou de começar, mas que traz uma série de desafios - que chegam a ser desconfortáveis em certos momentos, me sentir feliz comigo mesma é uma linda constatação do que minhas experiências me proporcionaram. Eu não posso depender de ninguém, eu não posso depender de nenhum relacionamento. Eu preciso estar bem comigo mesma.

Talvez Clarice descrevesse o que vivi como felicidade clandestina, mas essa felicidade, embora experienciada numa dose moderada, veio à queima roupa, se fez perceber nitidamente. Lembro que até pouco tempo ela era um dos indicativos de que eu estava indo pelo caminho correto, pois me sentia tão plena e feliz com o que tinha e com quem era que isso me bastava. Era um momento de trégua em meio aos sofrimentos cotidianos.

E, diante da crise que experimentei, receber este sinal de que estou bem me fez relaxar um pouco das tensões e dúvidas que me consumiam. Acho que a parte mais complicada da vida é que a gente nunca sabe quando está indo pelo caminho certo ou quando está completamente perdida. É o mesmo quando conhecemos alguém, à primeira vista interessante, mas ficamos com a dúvida - pelas suas atitudes dúbias - se é um cara legal ou mais um "fdp".

A vida é, também, como aquelas provas subjetivas que a gente faz e se sente tão desnorteada que pensa: ou fui muito bem ou me lasquei totalmente. Com os relacionamentos às vezes é assim, e a gente vai tateando, caminhando pelo escuro numa casa que não conhecemos. E a possibilidade de estar indo bem é a mesma de se machucar.

E o que a gente faz? Tenta. Tenta. E tenta novamente. Claro que vamos errar feio, machucar a perna, cair; mas em algum momento as coisas vão começar a fazer sentido e a gente vai encontrar um caminho e, mais importante, se encontrar neste caminho.

Noutras vezes, o que temos pelo caminho é a certeza inequívoca de que não era para ser, que tentamos e fizemos o que podíamos, mas não fomos premiadas. E a gente faz a autópsia da relação e vê que, sim, tinha tudo para dar certo, mas faltou alma. E um corpo pode se encontrar em perfeitas condições fisiológicas, mas sem alma ele não se sustenta.

Desse modo, o que nos compete enquanto tateamos toda imprevisibilidade da vida e dos relacionamentos humanos é doar o melhor de nós, e deixar que os outros possam também doar-se. Estar com alguém de quem se gosta e experimentar reciprocidade nessa relação é algo estupendo e não deveria ser rotulado, não deveria ser contaminado por cobranças, por inseguranças, e por tantos sentimentos tóxicos que nutrimos.

Eu não sei como será amanhã, não sei o que este relacionamento que experimento agora me proporcionará. Sei que o que cabe a mim, hoje, é estar bem e me fazer bem, pois é só estando bem e se respeitando que a gente consegue enxergar quando o outro não faz mais bem e não corresponde ao que merecemos.

Hoje, amanhã, depois... eu quero doses, doses generosas de bem-estar, de chamego, de reciprocidade, de respeito, de felicidade, de suor, de gargalhadas... com vontade. Quero que transborde o que for de verdade e que a escassez possa ser dissipada pela vontade de melhorar, de crescer, de aprender, de ser (sozinha e conjuntamente). E que essa felicidade possa aparecer, sorrateiramente, quando menos se esperar e traga um sorriso no rosto e a confirmação de que tudo vai ficar bem. Porque, afinal, a gente merece ser feliz.