quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Das sensações de 2014

 Apesar de todos os pesares e dificuldades, 2014 deixará muitas lembranças. Nada melhor para recordar do que lembrar as sensações experimentadas ao longo do ano e torcer para que o ano que se inicia logo mais traga boas surpresas e sensações ainda melhores...

Pular de felicidade, literalmente, por entrar (de novo) na faculdade.

Ter a cara pintada descuidadamente com tinta guache no dia da matrícula da nova graduação.

Peregrinar, empolgadamente, para comprar facas, fardamentos, itens e mais itens que hoje abarrotam minha micro-cozinha.

Estar lado a lado com um estranho agradável, numa fila de fast-food e pensar: "Pode ser ele", mas não conseguir fazer/falar nada a respeito.

Me odiar por deixar oportunidades passarem.

Sair em busca de um amor.

Encontrar alguém, fazê-lo especial, me apaixonar, sentir a dor doer e recomeçar, catando os caquinhos do meu coração e da minha cara.

Sair em busca de mim.

Cuidar ainda mais da minha alimentação, optando por não mais comer carnes vermelhas.

Pedir socorro a amigas e receber palavras de apoio, abraço reconfortante e ajuda para segurar as pontas de ser adulta.

Me perder, me ajoelhar, entregar os pontos, suplicar a Deus.

Me olhar e me reconhecer de uma forma nova.

O reencontro com a família paterna, o choro, a dificuldade e a surpresa do perdão.

As sessões de terapia inusitadamente engraçadas.

Subir no palco para dançar, chorando por dentro de dor - dessa vez física -, e me sentir aliviada ao final, pela sensação de missão cumprida.

Sentir dificuldade para caminhar, ficar em pé, não suportar a dor. Condromalácia diagnosticada, medo de uma nova cirurgia, mas a certeza de que tudo vai ficar bem.

A felicidade de estar sozinha, de ser eu e de poder contar comigo.

A decepção com as traições, abandonos e deslealdades de falsos amigos.

A emoção do choro, durante a celebração do matrimônio entre a união e o amor, e da alegria de pegar o buquê. #EuAcredito

A vaidosa felicidade de ouvir uma pessoa elogiando minha comida perto de mim, sem saber que era "obra" minha.

A adrenalina de falar abertamente a desafetos boas e merecidas verdades.

A leveza de seguir o coração e a intuição.

A paz que sucede períodos de confusão, ansiedade e medo, proporcionada pela prática diária da meditação.

O acreditar no amor, na vida, em tempos melhores, em Deus e em mim mesma.

O amor-próprio e a não auto-hostilidade. A aceitação e o relaxamento. O amadurecimento.

Depois de tantos e tantos momentos a conclusão que tiro é que não tive o ano que eu queria, mas sim o que precisava. E que venha 2015 para me surpreender!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

É tempo de (re)nascimento!



Aqui estou eu, 24 de dezembro, véspera de natal, deitada na minha rede, com a tv ligada e uma sensação de ansiedade que me invade o peito e me tira o ar.

O ano passou rápido e devagar, ao mesmo tempo. Difícil acreditar que vivenciei em um único ano tantas experiências incríveis, tantos aprendizados, tanto amadurecimento. Mas fica sempre no ar aquela angustiante inquietação: será que tudo o que vivi e aprendi me servirão para lidar melhor com a vida e com as oportunidades vindouras? Quem sabe? Eu não sei.

Neste minuto, estou sozinha na minha sala, ouço barulho de fogos, vejo o estardalhaço do natal nas redes sociais. Me sinto só. Não sinto a menor vontade de interagir pelas redes. Quero o real, ou não. Este ano, mais uma vez, optei por passar o natal sozinha, comigo mesma. Não está sendo tão leve quanto o do ano passado, pois o peso da ansiedade e das preocupações com o amanhã me consomem bastante energia.

Sinto uma profunda sensação de inadequação, me faltam palavras para descrever, apenas observo o que se passa dentro de mim e percebo, com a clareza da luz do sol, que as coisas precisam mudar. Trocar de ares, de amigos, de amores. Trocar de locais, de pertença, de atitude. Acredito que o ano vindouro me trará o pedido que eu mais insisto em desejar, mas eu preciso fazer alguma coisa por mim e pela referida causa.

Hoje me sinto cansada, desgastada, exaurida por desperdiçar quem sou com tantas causas diminutas, com tantas pessoas superficiais, com tantas amizades que nunca estão aqui quando eu preciso. E como são tempos em que eu aprendi a me virar comigo mesma, vou levando, seguindo em frente e desejando transformar em oportunidades de fechar ciclos todas as experiências negativas - ou não - vividas.

Aos amigos, eu agradeço. Aos não amigos, agradeço mais ainda. A mim, eu brindo. E que recomece a vida, e que o novo se faça, e que a fé e o amor se renovem mais e mais... Seguirei divagando, acreditando, sonhando e tentando realizar.

Feliz (re)nascimento, hoje, amanhã e todos os dias do ano!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sobre 2014

Se eu fosse resumir meu ano em um livro certamente haveriam muitas histórias de amor, de crescimento, de dor, de felicidade e de superação.

Subir no palco com apenas quatro meses de treino de uma coreografia, pra mim, foi uma grande superação. Dancei bem? Não. Dancei mal? Talvez. Mas dancei, suei, vibrei, me enchi de adrenalina e sorrisos.

Me apaixonei e me senti uma adolescente, boba, perdida, insegura, confusa. Quebrei a cara e o coração. Foi bom? Não. Me arrependi? Talvez. Mas suspirei, sorri, suei, rezei, chorei e, no final de todas as contas - e apesar de um saldo negativo enorme - valeu muito a pena.

Conheci o Eneagrama mais a fundo, aprendi sobre mim, minha personalidade, meu temperamento, meus altos e baixos. Foi fácil? Não. Vou continuar neste caminho? Talvez. O importante é que aprendi a olhar pra dentro e enxergar, apesar da poeira que me hostilizava, a mulher maravilhosa que eu sou. E esse olhar de amor, de compaixão e de aceitação faz toda a diferença hoje e me faz bem diferente de quando o ano começou.

Voltei pra faculdade. A Gastronomia tem se mostrado uma companheira e tanto. É uma relação estável? Não. Vou conseguir concluir a graduação? Talvez. O que eu sei, e principalmente sinto, é que nessa relação de amor e ódio eu cresço, aprendo, amadureço e evoluo. Aprendo que cozinhar é muito mais do que preparar o alimento. É amar, é cuidar, é transmitir o que há de melhor dentro de mim para o outro. E eu simplesmente amo tudo isso.

Ganhei um livro que simplesmente me abriu os olhos, estapeou minha cara, me fez rever conceitos e me ajudou a aflorar minha essência. Era um livro que eu queria ler? Não. Mudou a minha vida? Talvez. De um jeito ou de outro, "Mulheres que correm com os lobos", de Clarissa Pinkola, me fez
uma mulher melhor e mais preparada para a vida, principalmente interior.

Eu não tive muitas respostas este ano. E percebi que minha razão precisa ficar em segundo plano, pois para mim a vida precisa ser guiada pelo coração e pela intuição. Talvez amanhã eu acorde e perceba que tudo isso é besteira e resolva seguir por outra direção, ou não. O que mais me importa de todo esse aprendizado é que o sentido da minha vida mudou e hoje só me interessa seguir em frente.

O que está por vir é uma incógnita, mas apesar desse não saber, meu coração se enche de esperanças e se aquece de amor. Viver vale muito a pena e eu não troco minha vida e esse caminho de tombos, aprendizados e crescimento por nada. 2014 foi o meu ano, por vários motivos, e espero apenas que 2015 me traga um amor calmo, profundo e maduro, se assim tiver de ser.

Estarei com vocês, estaremos juntos.
A aventura nunca acaba.
Em busca do infinito, com todo o meu amor e respeito,



Amanda.



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Troco respostas por amor

Olha só a vida! Hoje fazem nove anos do meu primeiro encontro com quem viria a ser meu primeiro namorado, mas parece que se passou uma vida toda. E recordando desse dia, que foi cheio de aflição e frio na barriga, hoje eu vejo que só restou uma vaga lembrança associada à data. Lembrança que fala muito mais de mim do que da situação em si, que, por final, ficou completamente desbotada pelo tempo.

Tempo, tempo, tempo... Dizem que o tempo é nosso amigo, que nos ajuda a ressignificar os fatos, que nos mostra sempre que a vida continua e que é possível recomeçar e tentar mais uma vez. Talvez pela lembrança do início real da minha vida afetiva, hoje foi um dia muito melancólico para mim, cheio de saudade e de nós na garganta.

Sabe aquele assunto que de tão debatido chega a hora em que você o dá por encerrado? Pois é. Não deu. E eu sempre me surpreendo, me incomodo e deixo escapar algumas lágrimas quando a história retorna. Quando bate a indignação do "Poxa, não devia ter sido assim!" E se eu deixar, fico o dia inteiro fantasiando como poderia ter sido. Fico sonhando com uma nova oportunidade. E me perco, perdendo o fio da vida real, das reais possibilidades. Aí eu já não falo do primeiro, mas do último amor, que é sempre o mais doloroso, não é?

Sempre fui uma menina muito tímida, reservada, de pouco riso, de poucas palavras, para poucas pessoas. Não me permiti viver no tempo certo farras com amigos, paqueras, rebeldia e tudo mais. No meu recato e zelo por "ser boazinha", sinto que perdi uma grande parte da vida. E essa percepção se torna torturante quando eu vejo o tempo passar e alguns sonhos não se realizarem.

E aí bate uma raiva da vida. "Mas eu fiz tudo certinho, por que as coisas não acontecem para mim?" E eu enxergo que estou sempre procurando por algo que não tenho, por borboletas que voam e não se deixam tocar, esquecendo o que tenho, o que não quis ter e o que já deixei passar. Assim, fico me torturando com um déficit total, pois não levo em conta, e nem ponho na conta, tudo aquilo que está bem resolvido.

Será que algum dia isso de estar plenamente feliz - com o que tenho, perdi e preferi deixar passar - vai acontecer? Será que esse amor-próprio recém descoberto e experimentado vai ser suficiente para mudar o curso da minha história? Será que as boas palavras que eu repito para mim nos tempos difíceis vão realmente se realizar? Será que consigo equilibrar a balança emocional e quitar todas as minhas contas mal resolvidas? Será que consigo gritar para aquele magricelo tudo aquilo que a teimosia e o orgulho dele não me deixaram falar, escrever ou demonstrar?

São tantas perguntas, gente! Não sei se uma vida inteira é suficiente para respondê-las, mas sei que estou aqui querendo mais do que nunca viver a vida, sentir, chorar, amar e acreditar. Estou aqui inteira e em busca contínua por inteireza, por infinitude, por integração. Acho que quando a gente responde todas as perguntas e alcança o grau de inteireza que tanto almejou a vida acaba.

Então, como estou querendo viver ainda muitos anos e realizar meu sonho de ter uma família com um companheiro para todas as horas, uma filha linda e cacheada, bichinhos de estimação e muuuuuuito amor, vou seguindo por esses caminhos loucos, cantando, chorando, rindo, sonhando, aprendendo, rezando, esperando e acreditando. Como diz a música "Levo a vida devagar pra não faltar amor".

E vou em busca, sempre, sempre, sempre... Pois acredito que sou capaz. Eu chego lá.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Laços

Tenho testemunhado, como protagonista e expectadora, nos últimos anos um interessante fenômeno no que diz respeito aos relacionamentos afetivos. Primeiramente vem o arrebatamento da "paixão" você não consegue esconder que está completamente envolvida com outra pessoa. Daí começam as fotos, as declarações de amor, os infinitos check-ins mútuos e uma felicidade que não tem fim...

A seguir vem o afastamento, a reclusão, um sumiço repentino, sem aviso prévio ou explicação e você se pergunta: "- Onde andará fulan@ e todo aquele amor que el@ vivia esfregando na cara da sociedade?" As fotos não são mais compartilhadas, muda o clima e teor das postagens ou a pessoa simplesmente exclui seu perfil na rede social.

O próximo passo é como o ressurgir da fênix. A pessoa volta repaginada, com um discurso zen, espiritual, religioso, automotivado ou algo equivalente. Ela se mostra mais confiante, mais autoconsciente e pela forma como se expressa e se expõe percebemos que aquela relação que parecia verdadeira e perfeita findou, e como diria Marx: "Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas".


Ao iniciar este texto, deixei claro que já protagonizei algo assim, então talvez fique mais fácil compreender esse movimento tão comum entre meus amigos de redes sociais. Entretanto, levando em conta minha experiência pessoal, o perigo está quando a descoberta do amor próprio, do autoconhecimento, da espiritualidade, ou seja lá qual ferramenta você opte por utilizar para se refazer, sejam usadas apenas nos momentos "fundo do poço", para superar o término.


Na minha vida, experimentei todo esse (ou quase) arrebatamento também. "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei". O relacionamento acabou (GRAÇAS A DEUS!) e eu tive que lidar com um escuro, frio e assustador fundo do poço. E foi só lidando com a dor e a tristeza de me ver perdida e sem referências que percebi um mapa, um guia, dentro de mim. E comecei o meu caminho de volta.


Depois disso já tive oportunidade de "quebrar a cabeça e o coração" com algumas pessoas. E quando terminou sofri bastante. Mas o que ficou daquele "relacionamento sério de rede social" é que eu venho em primeiro lugar sempre, sozinha ou acompanhada, apaixonada ou cínica. Aprendi que meu caminho é contínuo e que o processo de me conhecer e de pertencer a mim mesma não tem fim.


Pode ser que daqui a pouco eu esteja novamente estampando as redes sociais com aquelas fotos chatas que só alguém apaixonado é capaz de publicar, talvez não. Hoje o mais importante é o que é vivido na intimidade, e não a fotografia, as declarações públicas ou qualquer outro excesso "facebookiano".


Começo a acreditar que a felicidade deve ser vivida sem grandes alardes, no íntimo do ser, a sós, compartilhada apenas nos momentos certos e com pessoas de confiança, o resto é marketing pessoal e eu, honestamente, não tenho interesse nisso. "Amar e mudar as coisas (começando por mim) me interessa mais".

domingo, 30 de novembro de 2014

Minha rede invisível

Eu queria ter um blog que falasse sobre amor e coisas fofas, mas infelizmente nem sempre é tão bonitinho o conteúdo que escrevo, mas é verdadeiro apesar de tudo. A vida me deu o maravilhoso presente de conhecer o Ique, na verdade acompanho o blog dele há pouco mais de um ano e sou simplesmente fascinada pela forma e pelo conteúdo que ele escreve. Considero-o um amigo, um cúmplice, um semeador de esperança nessa seara tão árida que às vezes é o amor (Segue o link do The love code para quem se interessar: http://www.thebrocode.com.br/).

Fui ao cinema agora à tarde assistir ao filme Boa Sorte, havia visto o trailer anteriormente e me interessei bastante pelo tema. Filme forte, poeticamente dolorido, visceralmente bonito. O fato é que numa das falas do protagonista ele cita o hábito de andarmos todos ultimamente olhando apenas para frente, indiferentes a quem está ao nosso lado, não enxergamos os outros.

E dentre os muitos paradoxos desta vida, que nem sempre é vivida no amor, está justamente o fato de como seres humanos necessitarmos do outro para nos fazermos e socializarmos, embora ultimamente a cultura nos aponte para o egoísmo, a indiferença, o passar por cima sem olhar para os lados.

Talvez em última (ou primeira) instância tenhamos medo. Medo de sermos tocados pelo outro. Medo de criarmos laços. Medo da perda. Medo da solidão. E, confusa e contraditoriamente, atraímos para nós aquilo que mais tememos.

Sei que essa é uma experiência própria e recorrente da minha vida, mas acredito que muitos outros já se viram na situação de "antecipar uma desgraça pressentida" por acreditar que não aguentaria passar por aquilo. E o pior, a gente traz a "desgraça" para si e se vê tendo que aguentar o tranco da dor, da solidão, do desamor, do que podia ter sido, mas a gente por medo do fim finalizou.

Minha personalidade já me fez muitas vezes caminhar por estradas totalmente escuras, tortuosas e cheias de buraco. Até que eu consegui compreender que não sou a minha personalidade, mas a utilizo desde muito tempo para lidar com situações que de certa forma abalam minha segurança. E hoje, minimamente, consigo perceber quando ela está no comando e, na busca por me tornar consciente de tal, já consigo diferenciá-la de mim. 

Este final de semana foi de uma confusão de sentimentos que eu nem tentaria escrever a respeito. Passou um filme e tanto da minha vida. Tentei fugir dessa avalanche me refugiando em distrações, mas ela estava sempre lá, ou melhor, aqui, bem pertinho. As lágrimas vieram algumas vezes, o aperto no peito, aquele "se" tão mais torturante do que o "não". A vontade de fazer algo para mudar o final de determinada história. As mãos atadas. E os fantasmas...

Não entendo muito bem o que ocorre, nem o que me leva a ter esses arroubos repentinos de inquietação, ansiedade e nostalgia. Sei que já lutei muito contra tudo isso e atualmente simplesmente tenho deixado vir a tona, sentindo a dor doer, as lágrimas molharem meu rosto e todo o resto fluir.

Na caminhada de volta para casa ouço Frejat cantando Túnel do Tempo, chego em casa e ponho tal música para tocar e ela me fala:



Nosso encontro aconteceu como eu imaginava
Você não me reconheceu, mas fingiu que não era nada
Eu sei que alguma coisa minha, em você ficou guardada
Como num filme mudo antes da invenção das palavras

Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler
Nas nossas conversas demoradas
Mas há dias em que nada faz sentido
E o sinais que me ligam ao mundo se desligam

Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto, eu vou em frente
De volta pro presente

Sozinho no escuro nesse túnel do tempo
Sigo o sinal que me liga à corrente dos sentimentos
Onde se encontra a chave que me devolverá
O sentido das palavras ou uma imagem familiar
Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam

Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto, eu vou em frente
De volta pro presente


Talvez hoje seja apenas mais um desses dias "em que nada faz sentido", mas eu espero, desejo e torço pelo dia em que encontrarei essa chave ou, quem sabe, ela já esteja até comigo, mas ainda não aprendi a usá-la. O que eu sei é que enquanto isso "eu salto pro alto, eu vou em frente" e tomara que, como diz a música, haja sempre em meu caminho "uma rede invisível [que] irá me salvar".

domingo, 23 de novembro de 2014

E o novo vem!

E então um belo dia chega o momento em que você percebe que algo mágico aconteceu, que as sinapses funcionaram, que a química falou mais alto e que você está irreparavelmente apaixonada.

Chega um momento no qual você percebe que sua roupa favorita já está rala de tanto uso, que ela saiu da moda, que já não lhe cai tão bem quanto antes, que precisa substituí-la.

Acontece de você perceber que aquelas pessoas que você tinha grande apreço e consideração já não fazem mais parte da sua vida, sob nenhum aspecto, e nem lhe acrescentam mais coisa alguma, muito pelo contrário.

Você percebe que chegou ao ponto em que não há outra saída a não ser virar a página, seguir adiante e descobrir o que há por trás da nova porta que lhe aguarda, bem à sua frente, ainda fechada.

Então, meu amigo, quando a hora chegar na sua vida, não vai precisar ninguém te dizer, você mesmo saberá que a vida pede passagem, que novos caminhos se abrem e que você precisa escolher entre a comodidade sufocante do atual ou a oportunidade de novidade que lhe espera.

Saberá que não há muito espaço para onde fugir quando a vida decide se renovar e perceberá que o melhor mesmo é se lançar - de cabeça - numa nova aventura, num novo amor, num novo projeto, na vida.

Passei este final de semana em um retiro de eneagrama e o que eu vislumbrei foi apenas uma confirmação de que o amor bateu na minha porta e de que ele não vai arredar o pé. Na verdade, eu não o deixarei ir embora.

Das tantas e infinitas coisas - grandes, sutis, bobas, fantásticas, loucas, etc - que me acontecem diariamente, não posso negar a maravilhosa descoberta do amor, amor por mim, amor por quem sou e, em última e primeira análise, auto-aceitação.

Levou longos anos, muitas lágrimas e muitos remendos no meu coração até eu me sentir totalmente confortável com quem eu sou, com as escolhas que faço, com os desejos que tenho, com os sonhos que cultivo.

Levou tempo até eu entender minhas dores, meus medos, meus defeitos, minhas infinitas e estimadas qualidades. Levou tempo e muita persistência até eu olhar no espelho e conseguir sorrir diante da imagem refletida, até eu conseguir olhar nos meu olhos e declarar tudo o que sinto por mim. Passaram-se muitas sessões de terapia até eu ter pensamentos e ações positivos a meu respeito, a descobrir assertividade com meus sentimentos e emoções, a empreender o que amo, a me colocar em primeiro lugar, a assumir meu amor e minha predileção por mim.

Hoje eu sei que estou em frente a uma porta e que a simples decisão de abri-la já me deixa aos prantos. Pois sei, apenas sei, que muitas outras descobertas e situações estão em vias de se desdobrar e que não há volta neste caminho em que estou. E agora consigo ter consciência de quanto procrastinei chegar até este ponto, da mesma forma que sei que cheguei no momento exato e que tudo aconteceu da melhor forma possível para mim.

Acredito que cada trauma vivido, cada ato de violência interna ou externa praticados/sofridos, cada lágrima derramada, cada "eu não consigo" ou "eu não posso mais" tiveram um propósito maior. E eu estou aqui para me lembrar de que nada foi em vão e de que novos tempos, novos desafios, novas dores e novas descobertas sempre virão, assim como novos frios na barriga, novos amores, novos sonhos, novas conquistas e novas necessidades de recomeçar.

Ainda bem que a vida é assim, sempre dinâmica, em um movimento descompassado que não dá pra entender, mas que uma hora ou outra acaba fazendo todo sentido.

Poderia escrever sobre a intensidade do que sinto hoje, sobre o tamanho do meu sorriso ou sobre o descompassar do meu coração. Mas a mensagem que posso e quero deixar hoje, do mais profundo âmago do meu ser e do meu coração, é: Vale a pena insistir. Tenha coragem! Não desista nos 100km, ande mais um pouco. Não desista no quarto amor, o quinto pode ser melhor e mais verdadeiro. Acredite em Deus, mais na frente Ele vai te mostrar que sempre há outro caminho. Respeite seus valores, suas dores, seus sonhos, suas vontades, seus medos, sua intuição, pois todos eles fazem parte de quem você é. E se ame, se ame e se ame, mesmo que você seja a única pessoa a fazer isso. Ame-se. Respire fundo e siga em frente, o restante virá.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O acender das luzes

Ontem alguém no trabalho falava sobre insônia e eu tive o "insight" de que em minha vida a insônia estava sempre atrelada aos meus projetos de relacionamentos. Ledo engano. Aqui estou eu, às 00:53 para me mostrar o contrário. Ansiedade. Estou ansiosa, muito ansiosa. Amanhã, ou melhor, daqui a pouco, vou a uma consulta com um especialista em joelhos para "discutir" sobre o melhor tratamento para a minha mais recente aquisição clínica: condromalácia patelar.

De toda forma, de tudo o que me aconteceu nesta noite típica, que se tornou atípica, ficam algumas constatações. A ansiedade tem a capacidade de me desestabilizar por completo e é uma grande e desgastante luta sempre que tento domá-la, prova disso são os quatro, cinco dias passados em que tento fazer minhas práticas diárias de meditação e o máximo que consigo são dois, três minutos conturbados de relacionamento interior.

Mesmo assim é válido observar que a ansiedade, e não os relacionamentos, é a raiz do meu mal estar e a sementinha que me leva à quase total insanidade. Contudo, percebo também que a ansiedade nasce em momentos de dúvida, de incerteza, de ausência de controle, momentos em que preciso confiar em alguém "externo" para percorrer determinado caminho. Acredito que esta seja a raiz ainda mais profunda de toda essa problemática.

Considero de suma importância mapear essas "causas-efeito" em meu funcionamento psíquico para a organização de esforços para lidar com as consequências turbulentas que sempre vem. Observar o que me causa mal estar e de onde vem essa inquietação que me acomete e que não me deixa em paz serve para que eu busque novos mecanismos para lidar com essas situações ou outras similares.

E no meio de toda essa teorização-sistematização sobre meus mecanismos, nem sempre amigáveis, de funcionamento, me vem um novo "insight" (agora sim!). Sabe quando uma criança, no auge do seu medo e incerteza, fantasia monstros e todos os terrores possíveis nas sombras projetadas em seu quarto? Pois é, isso acontece porque ela não consegue enxergar o que realmente existe e não tem coragem para levantar da cama, acender a luz e perceber os objetos que criaram as projeções mentirosas. Crianças geralmente gritam pelos pais, para que eles mostrem a elas que o medo é infundado.

Nos últimos dias sinto-me acometida por uma incômoda sensação de solidão, independente de onde estou e de quem me acompanha, sinto-me inexoravelmente só. E essa solidão me causa uma angústia e um medo profundos e inexplicáveis. Neste caso, meu grito de socorro é direcionado a Deus. Mas minha incapacidade de "levantar e acender" a luz na minha psique me fazem procrastinar a percepção da ilusão das projeções que tenho criado. Deste modo, o medo, a angústia e o grito de socorro constante criam um estado de mal estar que só se desfaz quando passo a enfrentar meus fantasmas e, olhando corajosamente para eles, acendo a luz e os desfaço com um feixe de realidade.

O que há de reconfortante e alentador em tudo isso é que, metáforas a parte, tudo se processa realmente dessa forma. Enquanto minha luta contra os "fantasmas" se passa no nível mental, com argumentos racionais, lógicos, eu me afundo em trevas. E só quando - por coragem, acidente ou acaso - acendo a luz e vejo o que a realidade é, é que me convenço de que não há monstros e a ansiedade se esvai, ou pelo menos diminui, e eu posso voltar a apagar a luz e dormir em paz.

Amanhã (daqui a pouco, na verdade) é um novo dia, e eu espero que seja colorido, que a consulta transcorra bem e, principalmente, que meu joelho não acumule uma cicatriz causada por bisturi. Melhor ficar com a lembrança boa de outras cicatrizes (!!!), mas que o melhor aconteça...

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Da série: Do tempo em que não me amava. Parte Final.

Há 11 dias, num domingo atípico e cheio de emoções, pensei no título dessa postagem, mas as idéias fervilhando muito não me deram tato para escrever aquilo que me ocorria naquele momento. Passados alguns dias retomo o rascunho de um texto que só tem título, embora o conteúdo transborde ao longo dos meus dias. Vou tentar, vamos lá!

Você já pensou em oferecer um vinho fino e sofisticado a alguém que não entende, não gosta ou não tem o paladar sensível ao vinho? Eu já, ofereci a mim mesma inclusive. Sabe qual foi minha reação? Corri até a pia e cuspi o vinho todo. Horrível! Na verdade não era, escolhi o vinho com base em uma aula de introdução a degustação de vinhos na faculdade, mas como não tenho o paladar sensível para apreciar tal bebida, achei insuportável o vinho que, para alguém com um pouco mais de exposição à degustação de vinhos, poderia considerá-lo muito bom.

O que quero mostrar com isso é que não adianta oferecer algo bom para alguém que não tem condições de avaliar. E dessa forma, o algo oferecido não é melhor ou pior, bom ou ruim, em absoluto; tampouco o alguém que experimenta é bom ou ruim, digno ou indigno. Simplesmente não há compatibilidade de interesses, experiências e expectativas de uma parte para a outra e, deste modo, não é conveniente expô-las a um relacionamento.

Pode parecer que estou sendo taxativa e absoluta, mas me deixe explicar melhor usando um exemplo do domingo, dia 19, em que escrevi o título deste texto. Saí com uma amiga e uma amiga dela de manhã, a noite minha amiga veio me dizer que a amiga dela tinha um pretendente para mim e perguntou se poderia repassar meu contato telefônico para o rapaz entrar em contato, surpresa com a situação, consenti. Pouco tempo depois estou eu falando com a criatura que era simplesmente completamente inapropriada para o tipo de pessoa que eu sou. Você pode perguntar: "- Por que?", eu explico.

Eu sou aberta ao diálogo, à diversidade, ao respeito ao diferente. E o cara começou logo criticando meus hábitos e escolhas saudáveis de vida, ao mesmo tempo em que sua cultura de lazer era totalmente avessa à minha e eu simplesmente ouvi, sem criticar. Eu realmente me senti um vinho fino, e caro, sendo experimentado por alguém sem qualquer experiência enológica, já viu o desfecho? Eu sim.

Risos à parte, porque foi tudo tão grosseiramente ridículo que eu termino a descrição da conversa por aqui, é bom perceber na prática o movimento de amor próprio que tenho vivenciado. Reparar que meus valores e conceitos estão firmes e fundamentados e não é qualquer "abestado" que vai me ludibriar ou me fazer esquecer do meu valor. Apreciadores apreciarão, o restante é resto.

No tempo em que não me amava, faria malabarismos para convencer alguém de que sou legal e interessante. Hoje eu sei que sou e ponto final, se não repararem é problema deles não meu. No tempo em que não me amava, bastava uma crítica para me fazer ficar triste, embaraçada, perder o dia ou até chorar. Hoje dou risada de gente que não me conhece e que me julga porque é mais simples rotular do que conhecer e contemplar o diferente. No tempo em que não me amava, o desamor das pessoas nada mais era do que uma projeção do que eu sentia por mim mesma. Hoje eu sinto pena de quem prefere culpabilizar o outro (a mim) por suas próprias feridas, frustrações e desamor.

Hoje eu me amo e estou aqui não para repetir até me convencer, mas simplesmente afirmando uma constatação. Se eu me aceito o tempo todo, se continuo rígida demais nas cobranças para comigo mesma, se me vejo com um conceito pessimista a respeito do mundo e de mim mesma, são questões que se colocam e que nem sempre podem ser respondidas de uma forma absoluta. Existem dias ruins nos quais se eu pudesse nem levantaria da cama. Mas sabe quando você ama alguém e muitas vezes esculhamba essa pessoa, mas fica zangado e não permite quando outra pessoa vai avacalhar seu ser amado? Pois é, é assim que me sinto. Eu posso me colocar pra baixo algumas vezes, mas você não, então se comporte!

É uma delícia falar sobre essa descoberta do amor por mim, mas gostoso ainda é estar vivendo/sentindo isso. E me sinto feliz, em meio a tantas situações desagradáveis, de poder compartilhar esse momento novo, feliz e leve em que me encontro. A vida é movimento e eu quero continuar nessa levada de descobertas, de novidades, de reinventar-me diariamente. E que este seja o marco de um novo começo, o começo de uma nova fase, o começo de uma nova forma de viver a vida. O começo da série em que EU ME AMO.

domingo, 26 de outubro de 2014

Qual a minha escolha?

Hoje é 26 de outubro de 2014 e, mais uma vez, fomos às urnas escolher nossos representantes para o governo estadual e federal. E que triste pra mim foi ter que me arrastar até meu local de votação e votar por obrigação sem qualquer convicção de melhora. Triste escolher quando nenhuma das possibilidades realmente agrada ou representa.

Acredito que na vida passamos por muitos momentos assim, momentos nos quais, a despeito das opções, a vida nos obriga a escolher. E essas escolhas geralmente nos mostram que não há caminho de volta, por mais que você escolha mal, só resta seguir adiante e aceitar, se responsabilizar pelo que escolheu.

Eu estou triste. Já me sinto assim há alguns dias. Me sinto inundada por uma onda de sentimentos negativos que me fazem crer estacionada na minha própria história, inerte, incapaz de continuar. E encurralada nessa rua sem saída me pergunto quais são as escolhas que tenho...

Aceitar o pior, o menos ruim? Desistir de acreditar e de lutar? Abandonar os sonhos e a fé? Não sei. Tudo parece tão nublado, acinzentado. As rodas tão travadas. Falta óleo nas engrenagens e as articulações, literalmente, sofreram um derrame e estalam o tempo todo. Viver dói. Ou será só comigo? Crescer dói demais. Escolher dói também. Parece que escolha e dor são amigas íntimas, estão sempre juntas.

Mais uma vez sinto que a vida me pede algo além do que estou dando. O pior é que eu até imagino o que é, mas cadê que sai? Eu me sinto completamente travada, sem conseguir sequer dar o primeiro passo. Coragem, meu Deus, dá-me coragem.

sábado, 18 de outubro de 2014

É preciso recomeçar.

A vida é tão dinâmica que às vezes me assusto como de um dia para o outro tudo muda. De um dia para o outro o grande amor aparece, vai embora. De uma hora para outra sonhos se realizam, se desfazem. De um momento para o outro exultamos de alegria, afundamos na tristeza. E a vida segue sempre assim... Vida-Morte-Vida. É preciso morrer para nascer melhor.

E às vezes ficamos com o rosto encostado na janela, observando tudo isso se passar, inertes, tristes, esperançosos. Há de nascer um novo dia e nele as coisas hão de ser melhores. As folhas mais verdes, as flores mais cheirosas, os sorrisos verdadeiros e as realizações alcançadas. É preciso acreditar.

Só que tem dias em que tudo desmorona e, mesmo sabendo que nada é definitivo e que a morte é mais do que necessária - é fundamental - dói observar as partidas, os sepultamentos, os términos, os cacos do que antes foi bonito e real. É preciso seguir adiante.

Sei que pode parecer sombrio e pessimista esperar o pior, os desfechos, as partidas, as dores, mas a vida afinal não é feita também desses momentos? Tolice é esperar que tudo seja sempre flores, alegrias e festa, pois não é assim. É no mudar das estações, no fechamento dos ciclos, nas oportunidades de recomeçar, que a gente se transforma, ressurge feito fênix, mais bonito, mais forte, mais preparado. É preciso saber viver cada momento.

E de tantas experiências - boas e más - não é possível que algo bom não surja. Sempre haverá uma vida nova esperando por nós, a cada ano, a cada mês, a cada dia, a cada segundo, tem sempre algo novo, por chegar, batendo a nossa porta. E por mais que seja difícil desapegar de pessoas, objetos, situações, é apenas deste modo que abrimos espaço para que o novo aconteça em nossas vidas. É preciso arriscar.

Hoje eu olho pela janela da minha vida e não vejo nada, nem uma esperança no horizonte. Vejo uma bagunça e sujeira constrangedoras na minha casa e nos meus pensamentos e sentimentos. Sinto vergonha, medo, desmotivação. Sinto que não vou conseguir ir muito longe assim. Mas o que seria de mim sem esses momentos mais difíceis em que preciso vencer minhas próprias sabotagens e declarar - para mim mesma - em alto e bom som: "Eu consigo. Eu quero, Eu acredito."? É preciso reagir.

Então, meu caro leitor, se sua vida hoje está como a minha, numa completa e infinita desordem em todos os aspectos, não desanimemos, tem mais coisa pela frente. Às vezes o tempo nublado pelas tantas expectativas frustradas nos dificulta a visão. E nesta hora é preciso ter fé.

Pode não estar do jeito que queríamos, que sonhávamos, que merecíamos, mas está do jeito que precisamos que esteja pra, a partir disso, tomarmos impulso e alçarmos novos vôos, deixando de lado tudo o que não nos serve, enterrando nossos mortos, curando nossas feridas, fechando nossos portos aos inimigos. É preciso recomeçar. E esta é a hora, afinal, a vida é agora!

domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre casamentos e suspiros emocionados

Ontem tive o privilégio de participar da cerimônia de casamento de uma colega da faculdade e reacender a fé e a esperança na força do amor. Sei que parece meio clichê e óbvio evocar a relação entre casamentos e essa chama romântica que automaticamente brilha em nossos olhos ao pensar a respeito, mas pode haver mais do que o óbvio nesse tipo de vivência/constatação.

Deve haver algo muito forte e poderoso para juntar duas histórias e levá-las a permanecer unidas, idealmente, para sempre. Foi essa a sensação que tive ontem ao borrar a maquiagem trocentas vezes de tanto chorar. O amor é danado assim, quando percebemos ele já dominou tudo e assumiu o controle sobre nossas expressões físicas, emocionais e espirituais.

Foi bonito testemunhar, mas mais ainda, reacender a fé na união matrimonial, embora toda ideologia vendida ao contrário. Acreditar que o amor pode ser #DeVerdade. Acreditar que os sonhos podem se realizar. Acreditar que duas pessoas podem vencer as dificuldades, dúvidas e medos e se lançarem para uma vida em comum. É assustador e ao mesmo tempo fantástico imaginar o que de fato é casar.

Não sei se algum dia chegarei a experimentar tal realidade, espero que sim, mas desde já a percebo como algo muito grande, mas que se constrói com partículas mínimas, de amor, cumplicidade, tolerância e paciência. É meio que tecer um grande tapete ou costurar uma grande colcha, e são muitas as pecinhas que compõem o todo, mas nem sempre elas são simétricas ou se encontram em perfeito estado e, mesmo assim, cabe a quem está tecendo/costurando, ter sensibilidade e saber dosar cada elemento. É realmente uma arte.

O mais interessante em meio a tantas lágrimas e tantos pensamentos acerca do assunto é que naquele momento mágico, para as solteiras, em que a noiva joga o buquê, eu acreditei. E a força desse meu acreditar foi tão grande que o buquê veio parar nas minhas mãos. Que alegria! Não simplesmente por acreditar que quem pega o buquê vai casar brevemente, mas principalmente por ter me atrevido a estar lá, entre as disputantes, por ter acreditado que eu poderia pegá-lo e por ter conseguido dar mais este passo tão imperceptível para os outros, mas tão significativo para mim.

Talvez o texto assuma um tom sério ou melancólico. Estou emocionada até agora e, vez ou outra, uma lágrima rola rosto abaixo. É isso, casamentos me deixam assim. E só de me imaginar um dia ocupando o papel da noiva, tendo encontrado alguém que esteja disposto a se aventurar por essas searas tão confusas e delicadas dos relacionamentos afetivos, me deixa extremamente emocionada e chorona.

Fica a certeza de que o amor, o verdadeiro amor, é realmente lindo e capaz de superar qualquer dificuldade e tornar real todos os sonhos. Eu acredito. Eu quero isso para mim. O buquê já veio, que venha o noivo! E que eu esteja preparada quando a hora chegar.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Sobre um tal de amor-PRÓPRIO

Ultimamente tenho andado por entre desertos, distante e inalcançável. E tenho percebido que quanto mais vazia de cargas, de presenças, de sensações, mais repleta de fato estou, transbordando de e em mim. E quanto mais caminho neste despertar de esvaziamento/transbordar, menos disposição eu sinto para desperdiçar-me em caminhos vãos, entre pessoas superficiais, com promessas enganosas.

Será que estou desenvolvendo o instinto de autopreservação? Não diria desenvolver, mas acredito que as situações vividas tem me obrigado a cuidar mais de mim, dos meus afetos, dos meus sonhos, da minha saúde física e psíquica.

Esta semana não tive terapia, não tive sessões de bate-papo ao telefone com amigas, mas em compensação tive crise de enxaqueca por duas noites seguidas, tenho exercitado constantemente meu novo hábito de ler dentro do ônibus, fiz um catártico desabafo dirigido ao meu ex-quase-amor em frente ao espelho, tive uma aula prática bastante aromática na faculdade (Gastronomia) e tenho refletido sobre alguns aspectos do meu predador psíquico e suas manifestações em minha vida.

E nessas andanças pelo mundo, fazendo as coisas que me fazem bem, tenho percebido que não posso, não devo e não quero estragar a felicidade dos meus dias, o brilho dos meus olhos, o som do meu riso me deixando acompanhar do que é triste, sombrio e pesado.

Estava há pouco vendo um filme (Amor certo na hora errada) e me deparei com a história de um cara que tem a intimidade matrimonial rasgada pela ex mulher em seu blog. Fiquei rindo comigo mesma e pensando em, mesmo nunca tendo casado nem convivido sob o mesmo teto que alguém por mais do que um fatídico carnaval, quantas histórias podres, toscas, trashes poderia contar. Pensei em quantos blogs poderia escrever, e quantos "você é um saco" poderia dizer sobre alguns malas que povoaram o meu caminho.

Mas enfim, o que fica dessa tosqueira toda é perceber que: Beleza, a vida - e eu mesma - já me deu muita mazela e marmota e agora? Agora finalmente eu quero mais. Mas sabe porquê eu quero mais? Porque eu mereço. Gente, acho que olhei de verdade pra mim e tomei um susto: Puxa, que mulherão é este?

E quando você percebe o mulherão que se tornou, você começa a compreender que merece mais. Chega de caras com TOC, chega de babacas que não sabem o que querem, chega de ficar alertando o cara de que ele vai me perder, chega!!! Daí você simplesmente manda todos eles se lascarem, liga o foda-se, xinga o sujeito - a família, a descendência, os animais de estimação, dá aquela ajeitada básica no cabelo, retoca o batom e segue adiante.

É, gente! A vida pede passagem e não vale a pena continuar alugando, a diárias baratas, quartinhos no coração, o rebuliço que esses inquilinos fazem na cabeça extrapola o contrato de locação original. Hoje eu penso assim: "Quer privilégios? Se esforce para merecer." "Quer ficar ao meu lado? Faça por onde merecer."

Sou boa demais, mereço muito mais do que migalhas dessa gente confusa e usuária de psicotrópicos. "Não tá bom pra você? Procure outra." Estou muito eu e muito mais eu. O resto? Que se dane. Feliz demais com esta nova fase e torcendo muito para que ela dure.

Beijos, Sociedade! Até a próxima... ;)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Insights

Êêê! Outubro finalmente chegou. Na verdade o tempo tem passado numa velocidade absurdamente rápida por aqui. De um jeito que deixa a impressão de os dias serem longos, mas os anos curtíssimos, e assim vai...

Hoje eu fui, mais uma vez, sem assunto para a minha sessão de terapia. O olhar ingenuamente acolhedor do meu terapeuta me faz sentir em território amigo e, assim, desabo, desabafo. Podia falar de mentira, de fingimento, mas falei da dificuldade de permitir aproximação, da energia gasta em manter uma aparência de força, de controle, embora a realidade destoe e muito.

E simples como um devaneio me veio o insight. Por que não fazer diferente? Diz ele, o terapeuta, que vulnerabilidade atrai vulnerabilidade e que quanto mais se expõe a fraqueza, o medo, a dificuldade, maior a possibilidade de criar identificação no outro e, por consequência, o vínculo. Duvidosa como eu, só testando... Mas que constatação maravilhosa foi essa?! Imediatamente me senti um pouco mais leve.

Sabe, chega um ponto na vida em que a gente começa a se desapegar das bagagens, principalmente das emocionais e tenta, a todo custo, se tornar mais leve e transformar o caminho em algo mais simples e feliz.

Hoje me caiu esta ficha: de que não preciso gastar tanta energia em demonstrar completo controle nas situações a dois; de que não preciso afirmar total certeza com relação aos meus sentimentos; de que não preciso fingir ser forte demais, decidida demais, certa demais; mas que imprescindivelmente preciso ser inteira e completamente eu, autêntica e fiel aos meus valores e verdades; de que não devo mentir nem fingir em hipótese alguma, muito menos expulsar a gritos e vassouradas quem tentar chegar perto de mim, se eles tiverem de ir, irão por eles mesmos, sem eu precisar me exaltar.

Em síntese, já chorei muito, já sofri muito e já reprimi meus sentimentos e instintos mais ainda, já chega. Quero ver o outro lado disso tudo. Quero saber o que a vida tem mais a me mostrar. Quero permitir esvaziar-me da bagagem emocional negativa, destrutiva e derrotista que trago comigo e ver a vida sob novo ângulo. No fundo, quero apenas ser eu mesma, aquela eu que teimo em esconder e disfarçar. A sensação de sofrimento ao quebrar a cara eu já conheço, então, o que vier além disso é lucro e, se for só isso mesmo, eu sobreviverei.

Vou adiante, a estrada é longa, o caminho é cheio de desnivelamentos e eu ainda tenho um ma-ra-vi-lho-so processo de descobertas e enfrentamentos pela frente... Que me venham então todas as possibilidades das quais tenho me esquivado por tantos anos e que eu saiba ressignificar minha vida, minha história, meus amores e afetos!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Lentes desfocadas

Sou assistente social, meu instrumento de trabalho é, basicamente, a comunicação. Trabalho informando as pessoas, orientando-as de diversas formas, propondo reflexões e outros que se assemelhem. Não sou de dar conselhos. Não gosto de opinar quando minha opinião não é solicitada (e às vezes até quando é não consigo falar muita coisa).

Sou uma pessoa super observadora, calada, introspectiva, na minha. Até você chegar ao meu centro, haja chão. Até alguém conseguir arrancar algo do meu interior, haja lábia. Sou difícil, e dura às vezes. Sou a mais calma e a mais nervosa, depende do meu humor, dos meus hormônios, mas também da sua atitude.

O objetivo de eu estar escrevendo-lhes hoje é simplesmente para dizer que se eu fosse lhes dar um conselho, diria: Não seja a pessoa que tira fotos massas de momentos incríveis, mas sim aquela que os viveu na sua totalidade. Parece contraditório eu, que amo fotos, falar isso. Parece impossível propor tal disparate na cultura do selfie, mas eu explico.

Que o seu/ o meu/ o nosso intuito nesta vida e em tudo o que fizermos para colorí-la não seja um pretexto para mostrar aos outros nossas conquistas nem ostentar nossa superioridade cultural, emocional, intelectual, econômica, seja - antes de tudo - a simples expressão de nossa identidade. Que a importância dos fatos esteja neles, esteja em nós e não nas fotos que tiramos para postar nas redes sociais.

Falo isso como uma viciada em redes sociais que, diariamente, posta pelo menos uma imagem. Falo isso porque a tentação que me acomete muitas vezes é de simular uma vida feliz e interessante e vender isso aos meus seguidores. Falo isso como alguém que percebe a importância de ser honesta nas menores e mais frívolas coisas. Como alguém que está amadurecendo para objetivos de vida e não para momentos de gozo.

A vida é tudo isso, eu sei, não dá para separar. Mas eu quero ser alguém que resolveu ser feliz e esqueceu a câmera digital em casa. Um simples alguém que foi para a aula de Habilidades e Técnicas Culinárias, para o Pilates ou a Dança do Ventre e levou o celular do ladrão, quem nem câmera tem. Como alguém que esteve grudada por um mês com uma paixão e nunca se lembrava de eternizar o momento em imagens, pois eles se eternizaram de outra forma.

Continuarei fazendo minhas reflexões, fotografando, postando, dançando, escrevendo, rindo e sendo feliz, online ou não. Mas quero que esses momentos sejam registrados antes por meus olhos e por todos os outros sentidos e, se der tempo, também terei algumas fotos para mostrar e histórias para contar. Sonho com o dia em que o essencial volte a ser invisível aos olhos e que as nossas câmeras, smartphones e notebooks venham depois das nossas verdades.

sábado, 20 de setembro de 2014

Sobre a arte, a dança e a liberdade


Eu poderia dizer muitas coisas sobre o que a dança significa em minha vida. Eu poderia descrever cada sensação extasiática que invade meu corpo e mente sempre que subo em um palco e olho para a plateia. Poderia, mas não vou.

Hoje quero me ocupar apenas de perceber o transbordar da arte em minha vida e suas repercussões em minha autoestima, autoconfiança, crenças e percepções.

O contato com a arte sempre foi de uma ânsia enorme dentro de mim. A música, o cinema, a fotografia, a literatura e, por fim, a harmonia dos sabores, cores e cheiros me faz sentir algo muito próximo das minhas experiências espirituais. Minha sede de infinito não poderia ser melhor saciada.

Deus está em tudo, simplesmente porque Ele está em nós e na arte a qual nos dedicamos. Antes de uma busca catártica, a arte é uma aproximação com nossa essência, com o cheiro que exala de dentro de nós, com nossa busca individual e com a força criativa que aflui quando somos quem somos, quando estamos em harmonia pessoal e coletiva com nossa essência.

A busca por integração, por inteireza, por autoconhecimento e por verdade nos traz paisagens sombrias e hostis, mas se continuarmos olhando, perceberemos que, por trás do árido, o colorido floresce, o vento sopra e as pessoas bailam, cantam, riem.

Fui uma criança que sonhou ser bailarina, me tornei uma adulta que não consegue se afastar a dança, mesmo que o ambiente externo seja desfavorável, mesmo sendo autocrítica e dura demais. No fim, a alma vence, a sede de algo mais sussurra convincentemente: "- Não desista!".

E assim, eu danço. Não porque eu saiba dançar, não porque eu seja graciosa e me sinta confortável, mas porque minha alma anseia por isso. É tão vital como o ar. E quando eu subo no palco, assim como quando eu levanto a cada nova manhã, eu posso olhar para o público, me angustiar, pesar minhas incapacidades e sair correndo ou simplesmente me jogar, aprender, aperfeiçoar, sorrir das minhas imperfeições a aproveitar cada momento.

Às vezes a vida acontece e estamos tão envoltas em cobranças internas que não percebemos o brilho dos holofotes, a graça de acertar um passo e o tempo da música que nos clama movimento. Rosa Luxemburgo disse que "quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem", deste modo, como pensar a liberdade estando estanques de corpo, alma e/ou pensamento?

Liberdade é decisão, é atitude, é forma de olhar a vida, é, em última ou primeira instância, decisão. Hoje eu acordei feliz demais. Ontem dancei no Ahlan Awan Sahlan - Mostra de Alunas 2014, do Instituto de Danças Àrabes Juliana Jaraj. Já é o segundo ano em que participo de festivais do Instituto, foi minha quarta subida ao palco na Dança do Ventre. E hoje eu percebi que é preciso seguir adiante, não basta descobrir os instrumentos e chaves que libertam, é preciso saber utilizá-los da melhor forma, consciente da função que exercem em minha caminhada interior e exterior.

A vida me deu a dança e eu escolho renovar, a cada dia, o desejo de me aproximar de mim, da minha alma, do meu poder feminino, da minha intuição, do meu eu, do meu próprio corpo, sendo uma aprendiz corajosa na labuta diária, sob os holofotes e/ou no meu silêncio mais íntimo, estando onde estiver e construindo pontes com meu infinito particular e com toda a vida que me cerca. Colorindo novas páginas, ativando flashes e ampliando meu olhar, meu sentir, meu agir e meu ser, para além do que se enxerga, para além do que se espera, para o que é... Livre, leve, solta e dançante, porque, afinal, como disse Nietzsche:

"Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!"


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Avisa que eu percebi!

É incrível a cooperação que a vida oferece sempre que decidimos trilhar o caminho da evolução.
Sempre que optamos por acreditar em nós mesmos e fazer nosso melhor para seguir adiante.
Tenho experimentado há alguns dias a fascinação que é viver um dia de cada vez, sem bagagem, sem preocupação, sem pensamento acelerado, apenas observando e me priorizando.

No sábado uma colega me indicou um livro que, segundo ela, tem tudo a ver com meu processo de crescimento e desenvolvimento pessoal, com minhas buscas, questionamentos e anseios.
Ontem essa mesma colega me deu o livro de presente e eu, vidrada, não consigo parar de ler.

O livro é Mulheres que correm com os lobos, escrito por Clarissa Pinkola, que consiste em um estudo psicológico, à luz da teoria Junguiana, dos arquétipos e mitos que envolvem a Mulher Selvagem, em suma, nossa mais poderosa aliada na autodescoberta e crescimento, nossa essência intuitiva, nosso poder feminino. Infelizmente o livro encontra-se esgotado, mas procurando direitinho você consegue um download. ;)

O que eu sei é que a leitura de algumas páginas até agora me fizeram acordar para alguns pontos interessantes e importantes da minha história.

- Fui criada para ser boa. Não boazinha, mas a melhor. E sentia-me sempre impelida a melhorar mais e mais, nunca era o suficiente.

- Aprendi a valorizar, quiçá idolatrar, a figura masculina, em especial, meu pai, e relegar-me a função de servir e agradar tal figura em detrimento de minhas opiniões e necessidades.

- Desenvolvi uma forte autocrítica autodestrutiva. Dessa forma, nutri-me de insegurança, baixa autoestima e autoimagem não coerente com a realidade.

Só tenho uma sensação ao elencar esses pontos diante do que li: QUESTIONAR.

Acredito que quem tem baixa autoestima conseguirá se identificar mais com minhas percepções, mas o fato é acordei e percebi que simplesmente não preciso provar nada a ninguém, agradar ninguém, nem buscar loucamente ser melhor e melhor para provar às vozes do passado (e as interiores) que tenho valor.

Sabe o que é melhor em tudo isso? Perceber que eu sou uma criatura maravilhosa e fantástica. E isso não é programação neurolinguística, mas o que sinto. Moro há quase 11 anos sozinha, trabalho, me sustento, dou um duro danado pra me virar, me proteger, me cuidar. Trabalho proporcionando momentos de reflexão, questionamento e crescimento a outras pessoas que se encontram fragilizadas devido o uso de substâncias psicoativas, mesmo muitas vezes sentindo uma cratera dentro do meu peito.

Cumpro minhas responsabilidades, pago minhas contas, corro atrás dos meus anseios espirituais, cuido dos amigos, cuido da casa, curso nova graduação, me dedico a hobbies, sempre encontro tempo para sonhar. Poucas são as pessoas no meu caminho que me estendem a mão para oferecer um alento ou um antitérmico, não obstante a isso tento seguir adiante com o que e quem tenho.

Acho que tenho conseguido fazer um bom trabalho, me equilibrando em meio ao caos existencial, de modo que hoje, e a partir de hoje, não admito intromissão alheia no meu território psíquico, social e pessoal. Não admito que me menosprezem ou me façam sentir indigna (nem eu mesma), não aceito críticas de quem não me conhece ou acompanha minha labuta, não darei mais espaço para oportunistas que venham querer desfrutar do meu amor, carinho e atenção sem qualquer tipo de empatia ou comprometimento. Sim, é oficial, estou ligando o foda-se para você que quer compartilhar meus risos, mas que não está presente quando minhas lágrimas caem, principalmente lágrimas associadas a você.

Estou fazendo uma faxina geral e vou jogar muitas lembranças, coisas e pessoas fora, para sempre. O que não serve para tornar o caminho mais bonito e agradável não será carregado. Desapegar é a meta. Viver com o essencial é o objetivo. Olhar para frente e agir com coerência é meu acordo mais íntimo. Escutar meu coração e me deixar guiar pela minha intuição é a minha lei. Vou ali me encontrar, me amar e me fazer feliz, ok? "Vou pra frente porque pra trás não dá mais"!

Beijos, Sociedade! :***

sábado, 13 de setembro de 2014

Sobre lágrimas e dores

Todos os dias eu acordo, faço uma prece ao céu, volto meu olhar para dentro, medito, ouço palavras de sabedoria, tomo banho, como alguma coisa, coloco o coração na sacola e recomeço meu caminho. Estou seguindo adiante, seguindo meu coração. Certezas? Nenhuma. Lágrimas? Infinitas. Dores? Diárias. Desistir? Nunca.

Eu poderia relatar diariamente os caminhos que tenho percorrido. Mas no momento em que estou seria perda de tempo e de energia. Então sigo, certa de que chegarei. Agora em que cheguei neste ponto e percebo onde estou e percebo quantas necessidades urgentes deixei para depois, por medo, por priorizar outras coisas e por tantos outros motivos bobos e distrações indevidas, hoje olho apenas para frente. Este caminho não tem volta, a vida é agora, eu vou conseguir!

Todos os dias eu lamento, peço desculpas e suspiro por uma segunda chance. Quantas situações e pessoas deixei passar... Quantas vezes machuquei minha mão e meu coração dando murro em ponta de faca? E a faca estava comigo mesma. Quantas projeções e paranoias. Como me perdi? Não sei, não tenho respostas.

Se eu queria voltar atrás? Sim. Mas não é possível. Hoje o que tenho nas mãos é a possibilidade de fazer uma nova história. Acreditar e confiar que o melhor vai acontecer e que vou estar inteira quando a vida e o amor me solicitarem inteireza. Eu quero ser feliz, mas principalmente quero ser eu mesma. Quero sair desse casulo de medo e ansiedade. Quero brilhar, liberar minhas asas e voar à luz do amor.

Com lágrimas nos olhos digito essas palavras. Deus conhece a minha confusão. Não vou desistir, eu acredito, eu vou conseguir. As noites escuras vão passar e logo mais o dia amanhecerá, eu acredito.

domingo, 31 de agosto de 2014

O que você procura?

Ao longo dos anos eu pude acompanhar meu crescimento, em termos de compleição física, em termos de idade, em termos de conhecimento; mas principalmente pude observar de perto o desenrolar de batalhas íntimas e o amadurecimento subsequente a cada uma delas.

Quando criança eu me estranhava. Comecei cedo este caminho. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer eu nunca me imaginei médica pediatra, professora ou algo do tipo, como a maioria, nem tampouco cogitava o sonho que meu pai projetava para mim, comissária de bordo ou agente da aeronáutica. Eu queria ser escritora. E lá no fundo, por mais que respondesse qualquer outra coisa, nutria esse sonho em mim.

De fato, sempre me via fugindo aos padrões e expectativas culturais e sociais do ambiente que me cercava. Meus pais simples, não tiveram oportunidade de uma educação formal ampla, prezavam o trabalho, a atividade, a atitude. Eu retraída, amante dos estudos e dos livros, compenetrada, racional e tímida.

Adolescência é uma quentura não? Sexualidade à flor da pele, paixões, namoros? Não. Eu tinha crises existenciais, me questionava sobre o que estava fazendo no mundo, o que queria fazer da minha vida, quem eu era. Assim tive minhas primeiras crises de ansiedade e experimentei por diversas vezes a sensação de inadequação. Percebia que algo não ia bem comigo, mas não conseguia me achar. Experimentei a conversão religiosa, o engajamento em movimento carismático, era feliz, mas sei lá... Ainda faltavam algumas respostas.

É isto. Faltavam algumas respostas que a minha mente pensante não conseguia responder e, no auge da minha racionalidade, sentia uma angústia dilacerante. As coisas não se encaixavam.

O tempo passou, cresci mais  um pouco, me permiti um tantão de outras coisas. Amei, fui amada, fui machucada, fui abandonada, feri, abandonei, desisti, corri atrás, me apaixonei, recuei, fui, deixei de ser, acreditei, tive medo, me escondi, adoeci, me tratei, me impacientei, voltei, senti sede e aprendi a pedir ajuda.

Este final de semana foi maravilhoso. Há alguns anos li a palavra Eneagrama em algum lugar, a internet me deu uma explicação superficial, me forneceu um teste e ficou nisso. Ano passado fui atraída a um livro sobre o tema, comprei, comecei a ler, tive medo e deixei pra lá. Só que neste final de semana eu voltei a olhar para o assunto, soube de um curso e me inscrevi.

Meu coração, juízo e curiosidade foram jogados de um lado para o outro nestes dois dias em que tentava me convencer sobre minha identidade, sobre o tipo ao qual minha personalidade apresentava inclinação. Eu consegui aceitar finalmente e, mais ainda, superar medo e timidez e ir até a frente do grupo e falar sobre mim. É tão fantástico quando enfrento meus medos e percebo que eles são apenas frutos da minha cabeça, que não há o que temer. É realmente uma experiência libertadora.

E no meio de toda esta efervescência que vivi e que minhas palavras certamente não poderão narrar, ouço o padre, instrutor do curso, falar que a coisa mais bonita do meu tipo é quando ele consegue perceber que precisa seguir o coração e descobre a coragem que possui. Coragem. É preciso muita coragem para ser quem se é. É preciso muita coragem para acreditar em si. É preciso muita coragem para não desistir de si mesmo e de seus sonhos.

Eu estou neste caminho há mais de uma década e por mais dificuldades que enfrente ao longo da jornada, e elas são muitas, não trocaria essa possibilidade de me olhar, de me aceitar e de me amar por nada. Sou grata e feliz por não desistir e porque sei que cada vez mais me aproximo da minha essência. Acredito na minha busca e sei que encontrarei.

E você, que tal ter coragem de entrar neste caminho e assumir suas dúvidas, medos e anseios? Você não estará sozinho. Vamos juntos?

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Saudades de mim...

Parada no final da calçada, cabeça baixa, peso demais nos ombros. Ergo meu olhar e vislumbro o fluxo de carros, de um lado para o outro. Espero o trânsito acalmar, o sinal fechar, pra poder seguir.

Às vezes dá pra arriscar, correr um pouco e passar para o outro lado, ilesa. Noutras simplesmente fico empacada, sem conseguir atravessar.

Agora me encontro assim. Parada, agoniada, olhar triste, sem conseguir atravessar a rua que me leva para mim mesma. Estou com saudades de mim.

Queria colocar minha melhor roupa, meu melhor sorriso, meu melhor perfume e sair correndo ao meu encontro, me dar um abraço festivo e bem apertado e ficar conversando comigo até adormecer. Mas onde estou?

Sinto saudades de mim. Me procuro pelos lugares próximos. Me procuro na lembrança junto aos que se foram. Me procuro em Deus. E só consigo vislumbrar a ponta da calçada, o trânsito caótico, o medo, a solidão e o espaço vazio em mim.

Onde estou? Como será que me perdi? Como será que posso me encontrar? Será que algum jornal pode anunciar esse sumiço? Será que as pessoas farão campanhas para me localizar via facebook? Será que mais alguém sente minha falta?

Ausente-presente, vagando por aí, à procura de mim... Difícil imaginar insanidade maior.

Odeio esses finais de tarde que evidenciam ainda mais a minha solidão, que me fazem perceber que essa saudade que eu sinto não é de um amor, de uma amizade, de uma família, de uma companhia qualquer, mas é de mim mesma. Sinto saudades da pessoa que eu mais amo no mundo, que eu mais admiro, que eu mais quero ver feliz e que eu simplesmente não sei onde está.

Sim, essa é uma dor insuportável. Não, eu não quero me perder de mim. Mas parada na calçada em que estou, a ambivalência vem me fazer companhia, vem suscitar dúvidas, vem me desencorajar. Não posso desistir de procurar por mim, mas o desânimo invade. Onde me resta procurar? O que ainda não fiz que poderei fazer para me encontrar? Estou numa enrascada!

E tudo o que eu queria era sentar e conversar comigo, me consolar, me fazer sorrir um pouco, me contar as novidades, falar das coisas que aprendi enquanto não estava aqui, dizer e me convencer de que tudo vai melhorar. Me pedir pra ficar, pra seguirmos juntas, pra acreditar.

Neste dia em que a sensibilidade está à flor da pele, em que resquícios de um luto recente me enevoam a visão, queria ter a clareza de um encontro comigo mesma.

E perguntas ecoam: O que mais posso fazer para me encontrar? O que me falta tentar? O que vai funcionar de verdade? Eu quero definições, fórmulas, endereços, razões, certezas, mas tudo o que me vem são interrogações, e dúvidas, e medos, e desânimo, e ambivalência. O que mais? O que mais?

Que eu me encontre.
Que eu me encontre.
Que eu me encontre.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

#IBelieve

Há dois anos eu vivenciava minhas primeiras sessões de terapia, minha então terapeuta sempre me repetia algo, como um mantra, que até hoje vem à minha lembrança vez ou outra: "O que tem dentro, tem fora".

Por muitos dias martelei com essa frase na cabeça e tentava imaginar a real dimensão de seu significado.
Hoje eu me vi totalmente alheia. Meu corpo ocupava um espaço, eu conversava, interagia, fazia graça, mas não estava de fato ali. Numa crise de ansiedade assim, meu desejo maior é me afastar e ficar no meu cantinho, tentando meditar e "voltar".

Mas hoje, e infelizmente isso tem sido recorrente nas últimas semanas, eu queria porque queria conversar com alguém, desabafar, ouvir pela milésima vez uma opinião, obter uma resposta, uma clareza, um direcionamento. Hoje eu percebi que eu estava longe do meu corpo, mas também, o que é pior, de mim mesma, interiormente.

Todas as vezes em que preciso de ajuda, seja qual for, sei que tenho algumas pessoinhas a recorrer, que posso ligar pra conversar, desabafar, marcar uma saída de emergência para acalmar o espírito e tudo isso é muito bom, saudável e natural. Hoje, contudo, eu percebi claramente que estava delegando aos outros a condução da minha vida.

Eu pratico dança do ventre atualmente. Já fiz dança de salão por alguns anos e a maior dificuldade que sempre tive foi de me deixar conduzir. Sou muito arredia para ficar totalmente disponível para que o outro me leve como desejar, mas na dança, minimamente, tem que haver esse acordo de confiança. Dançar sozinha é mais fácil. Já fiz essa analogia em terapia e hoje isso volta a se mostrar de forma clara. Dança e relacionamentos, a necessidade de estar presente, de se deixar conduzir, mas também de saber responder aos comandos do parceiro.

Quando "desisti" da dança de salão, mesmo amando, de certa forma desisti dessa interação de conduzir, deixar ser conduzida. Mas o que isso traz aos meus relacionamentos, como reflexo? Qual a necessidade de esperar que o outro me dê as respostas ou os comandos aos quais devo observar e seguir? Onde está meu coração? Onde estou? Como posso avaliar o que tem fora sem olhar para o que tem dentro e vice-versa?

Complexidades? Não, eu diria necessidades. O dia tem apenas 24 horas, como eu consigo me perder e me encontrar tantas vezes em um espaço de tempo tão curto? Como consigo me incomodar tanto com acontecimentos externos, alheios a mim, relacionados à escolhas de outrem que não me diz respeito? Como me incomodar e irritar em simplesmente ouvir a voz de alguém, por mais desagradável que ele seja? Como não aceitar o perdão de alguém do passado, que arrependido, vem ao meu encontro se desculpar? Como fechar a cara e fugir do reflexo do espelho e de tudo o que ele mostra?

Há que diga que precisamos saber muitas respostas ao longo da vida. Hoje eu me sinto completamente feliz em poder elaborar essas perguntas. Isso mostra que estou aqui, voltando a me importar com as coisas, saindo da letargia que me anestesia diante do mundo. De volta à realidade e disposta a encarar as horas que tenho pela frente de uma forma mais branda.

Parei um pouco e consegui conversar com Deus, sem reverências, de você para você. Chorei, briguei, questionei, falei palavrão e outras "cositas inapropriadas", mas Ele me conhece... (risos) E o alívio que veio me fez entrar em estado de meditação, e como o pai daquele menino possuído (Mc 9, 14-24), o mantra que fluiu sem que eu pudesse planejar foi "Senhor, eu creio/ Mas aumenta a minha fé".

A pouca maturidade espiritual que consegui nos últimos anos não me atrai à nenhuma religião, pelo contrário, mas a cada dia sinto mais e mais necessidade de, ao me conhecer, estreitar meus laços com Deus. Então hoje a minha prece, desejo e esperança é poder acreditar cada vez mais em mim, em Deus e em tudo aquilo que preciso viver para chegar onde devo chegar.

O jogo só acaba quando termina, até o último segundo um time pode marcar ponto e reverter o placar, a vida segue a mesma lógica. E, mesmo em meio a derrotas passageiras, é possível acreditar que dias melhores virão, que serei melhor, que sairei vencedora. Eu acredito.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Acreditar


"Miomas uterinos são tumores não cancerosos do útero, que muitas vezes aparecem durante a idade fértil. Os miomas uterinos não estão associados a um risco aumentado de câncer de útero e quase nunca se transformam em câncer. Esse tumor benigno atinge cerca de 50% das mulheres na faixa etária dos 30 aos 50 anos."


Este poderia ser um texto de sensibilização quanto aos cuidados que as mulheres devem ter com relação à sua saúde ginecológica, mas não é. Experimentei a avalanche emocional de ver um diagnóstico de um "problema simples e comum" se transformar em algo persistente para o qual medidas invasivas deveriam ser tomadas.


Não quero perder a dimensão do aspecto físico da coisa e, sim, hoje defendo arduamente uma postura de atenção à saúde e de prevenção de todo tipo de doença que seja possível prevenir. Mas não é só isso. Acredito que o corpo acumula em si as dores que o psíquico não consegue ressignificar, então receber um diagnóstico em um órgão feminino, responsável pelo abrigo da vida no corpo me fez estremecer.


Eu sei que o sistema de saúde público brasileiro é terrível e que o privado não se difere muito, mas tenho convicção de que não se deve "guardar doenças". Eu não tinha sintoma nenhum que me chamasse a atenção e imagino quantas pessoas sofrem dias e dias, com dores, com sintomas desagradáveis e simplesmente não procuram ou recebem a ajuda de que necessitam. Alguma coisa precisa ser feita a este respeito. Mas não quero também que o texto assuma o caráter político reivindicatório, hoje não.


Hoje eu quero falar que entre o físico e o psíquico existe outra dimensão, existe o espiritual. Não vou falar de milagres, de cura pela fé, de noções abstratas, mas do que se passou em mim. Recebi o diagnóstico de um tumor enorme em novembro de 2013. A ginecologista me tranquilizou e me receitou um tratamento hormonal bem simples, por seis meses, mas antes de concluir este prazo percebi que as coisas não estavam melhorando.


Em abril de 2014, ela fria e objetivamente me indicou um cirurgião. Falou das possibilidades de intervenção, enfatizando a cirurgia como melhor alternativa. Eu resisti, fiquei desesperada, saí atônita, não estava preparada para aquilo. Agora eu percebo que era o que poderia ser feito e, graças a Deus, foi.


O novo médico me propôs uma intervenção com um hormônio mais pesado, por três meses, ao que no fim o mioma continuava lá, intacto. Fiquei tão triste por não ter nenhum resultado diante de mais essa tentativa. Voltei ao médico. Uma dezena de exames pré operatórios, uma centena de perguntas sem resposta, apenas atenuadas com "não é nada", confusão.


E em meio à escuridão instalada em minha vida naquele momento, o dia começou a amanhecer. "Você é supersticiosa? Pode ser dia 13?" perguntava o médico. "Não, pode marcar." E a presença de Deus me trouxe de volta um sorriso nos lábios, um pouco de alívio de todo o caos. Poderia ter sido qualquer outro dia, mas Deus sabia que eu precisava da presença da Mãe naquele momento e me deixou sentí-la objetivamente.


Eu poderia falar da felicidade que foi poder contar com amigas que se revezaram para cuidar de mim, desde o momento da internação, incluindo assistir-me reclamando fome e sede, chorando, sendo cortada e tendo as entranhas abertas; do apoio quando da reação alérgica à dipirona e queda de pressão, das primeiras idas desastrosas ao banheiro, do banho, dos curativos, das visitas. Foram tantos momentos vivenciados que me fizeram sentir o amor de Deus para comigo e nada disso era esperado por mim, mas foi milimetricamente preparado por Ele.


Hoje, passado um ano daquele 13 de agosto de 2013, posso vislumbrar um pouco do que Deus tinha em mente com tudo isso. Não acho que Deus seja sádico, mas às vezes é necessário que uma situação mais extrema nos faça perder o controle e aprender a cultivar a fé.


Meu útero está aqui, se recuperando, sendo acompanhado e recebendo todo carinho e festa. E eu não consigo expressar com palavras tudo o que a vida me oportunizou viver este ano, do cuidado dos amigos, do tempo para mim, do amadurecimento espiritual, das conquistas afetivas, do amor próprio. Foi um corte que me fez chorar, entrar em pânico, mas que me trouxe de volta - ou apenas me trouxe - à vida.



Eu já passei pelo inferno algumas vezes, mas acredito que isso não precisa ser em vão, que se pode voltar melhor de lá a ponto de não precisar estar mais lá. Estou bem. Estou feliz. E sei que é só o começo de tantas e tantas histórias que ainda vou lhes contar.


#EuAcredito 

#IBelieve

domingo, 10 de agosto de 2014

Sobre o dia dos pais

Minha amiga me contava a sinopse de um filme quando citou a frase que, segundo ela, norteava o sentido da história: "É preciso perder para ganhar". O cara do filme perdia o céu, mas ganhava o amor de sua mulher.

Eu estou aqui tão chocada com o desenrolar deste dia que só consigo chorar e agradecer a Deus. Jorge Bucay me diz, através de seu livro (*Quando me conheci) que "quando o discípulo está pronto, o mestre aparece". E eu não consigo acreditar em outra coisa neste momento.

Conheci um cara legal, que me deixou tão fascinada quanto assustada. Nos desentendemos. Depois de quatro dias sem uma palavra sequer e de alguma insistência de minha parte, ele me mandou uma mensagem hoje que meio que findava a situação.

Hoje é dia dos pais. Tenho um histórico de relacionamentos fracassados, não sei lidar com essa coisa toda. Vivi com meus pais até os 18 anos, mas era como se vivesse entre estranhos, não existia relação, diálogo, troca, amor. Eu sempre sonhava com os modelos de mãe e pai que via na TV, mas nunca pude vislumbrar nem de longe isso em minha história.

Cresci com o sentimento de rejeição, exterior, mas também interior. Não me sentindo boa o suficiente para nada. Nunca pude contar com meus pais para nada além do sustento material. Nunca. Hoje a vida me surpreendeu imensamente. Fazem cinco anos que meus pais se separaram e desde então meu pai vive com outra companheira.

Essa senhora acaba de me ligar e me propõe algo inédito: desejar feliz dia dos pais ao meu pai. Eu tremi por dentro, tive medo. Ela lhe passou o telefone e eu fiz, muito sem jeito, muito assustada, muito criança que não sabe como dizer o que sente, foi mecânico, mas eu consegui. Desliguei o mais rápido que pude e voltei a respirar.

Ela me liga novamente e conversamos. Me fala sobre o quanto ele sente minha falta, do orgulho que tem por eu ter estudado e construído minha vida com dignidade e esforço. Ela me lembra do meu valor e me faz sentir novamente pertencente a uma família. Falo da terapia, da minha dificuldade de me relacionar, do meu sentimento constante de rejeição. Ela me consola e me acolhe.

A vida prega peças a todo momento. Nunca imaginei receber tal ligação, tal afeto, tal carinho. Nunca me senti tão livre, liberta, leve. Um grito preso no peito por quase 30 anos que sai, em forma de choro e que me abre para tantas possibilidades que eu nem consigo calcular neste instante.

Como não ter fé? Como não acreditar que Deus existe? Como não me render ao amor de Deus e me deixar convencer de seu cuidado e carinho por mim? Como não olhar para todo o caminho que me resta e tentar fazê-lo melhor do que foi até agora?

Essa vida é muito boa e já não me sinto só. Tenho amigos que são como irmãos, agora tenho uma família - humilde, simples, diferente de mim, mas tenho - e sei que o amor está para chegar. Eu não tenho medo de enfrentar meus fantasmas. Só tenho medo de ver a vida passar e continuar estagnada, mas este definitivamente não é o meu caso. Que venha o amor e que me ensine, agora estou preparada.

Sobre jardins e amores

Quem tem ou já teve um jardim em casa sabe como é complexo o ofício de jardineiro.
Semear flores exige mais do que a semente ou a muda.
Exige o esforço com a preparação do terreno:
limpar cuidadosamente toda a extensão, arar a terra, adubá-la e então, só depois, propriamente plantar.

E não para por aí. Cada flor tem sua particularidade. Algumas se adaptam a determinadas condições de solo e climáticas, outras não. Algumas requerem uma adubação e regagem constante, outras nem tanto. Algumas levarão bastante tempo para florescer.

Assim como a jardinagem, a arte do relacionar-se exige cuidado, atenção às peculiaridades e muita paciência. É preciso respeitar o tempo de florescimento de cada um. E, às vezes, nunca alcançaremos contemplar o florescer, mas só conseguiremos ver a semeadura. E cabe a cada um de nós optarmos por semear ou não.

Semear pessoas exige que nos dispamos da vaidade, do egoísmo, da pressa. Requer um grande dispêndio de tempo, atenção e capacidade de doação ao outro. Demanda humildade, de reconhecer que nem sempre nossos esforços levarão ao resultado planejado, e ousadia, de arriscar tudo a cada novo dia.

Há quem passe a vida inteira contemplando os jardins alheios, há quem empreenda a fascinante jornada de construir seu próprio jardim, há quem passe numa loja e compre as flores "prontas", há quem se dedique a semear. E há uma grande aprendizagem disponível a quem se arrisca a tentar.

Quem opta por semear se depara com situações de total ausência de controle sobre o resultado, porque simplesmente existem aspectos que não podem ser previstos ou prevenidos. Arriscar atirar uma semente ao solo pode garantir a contemplação da beleza que é o desabrochar, ou nem tanto, assim como pode levar ao fracasso de ver seus esforços jogados em meio ao vão, ou nem tão pouco.

O certo é que cada realidade tem seu tempo e seu modo de ocorrer. A nós só cabe vislumbrar uma pequena parte deste processo e intuir sobre todo o restante, acreditar e investir. Assim como quem lança a semente não tem certeza do que vai colher, quem marca um encontro na vida não sabe as repercussões disso em sua história. E ainda tem o tempo, o tempo de espera. O tempo que transforma a semente potencialmente viva em vida, de fato.

Mas mesmo com toda a beleza e profundidade do semear flores, não se pode esquecer dos outros elementos que, no mais das vezes, coabitam nossos jardins e sem os quais a semeadura não seria possível. O adubo que, geralmente, é esterco nos leva a admirar a alquimia da natureza, sua capacidade de transformar o que não serve mais para nada em alimento para o novo, para o belo. Isso por si só já mostra quão surpreendente é a vida.

E não se pode esquecer dos espinhos. Uma roseira que se preze tem seus espinhos. Paramos neles? Desviamos nossa visão e tato? Eu acredito que não. Eles estão lá por algum motivo e precisamos estar sensíveis para respeitar e lidar com isso.

Acredito que a natureza é mais sábia que nós e seríamos mais sábios também se pudéssemos respeitar e aprender com tais processos. Aprender que cada um tem seu tempo, que nossa função diante do outro é limitada, que existem inúmeros fatores que repelem a aproximação, que o que cabe a nós é tão somente semear e tentar acompanhar o florescer oferecendo os elementos que possuímos, o que tiver de resultar disso vem com o tempo e uma boa dose, na maioria das vezes, de sorte.

Um belo dia você pode acordar e ver que a semente que outrora foi plantada, adubada, regada, floresceu em sua vida, assim como pode se deparar com o terreno vazio, a planta seca, a flor murcha, o luto pela perda do que nem chegou a ser real. "O que vale a pena ter, vale a pena esperar".


O que eu posso fazer? Tentar.

sábado, 9 de agosto de 2014

Noites escuras

O que me causa estranheza não é a sucessão de dias que passa igual, com breves momentos de felicidade.
O que me causa estranheza é não ouvir a sua voz, saber o que tem feito, te confidenciar uma ou duas coisas.
O que me entristece não é a sua ausência.
O que me entristece é saber que você se foi e não saber mais nada.

As noites costumavam ser menos escuras? Não.
Mas antes tudo se passava dentro de mim.
Hoje não dormi bem. Acordei cedo demais e não consigo me encontrar.
Pois há um pedaço lá fora que eu não sei como encontrar.

Talvez seja mais fácil pegar o coração ferido, magoado, maltrapilho, dilacerado e trancar dentro de uma caixinha. Isolar-me da humanidade inteira e de todas as possíveis interações, danosas ou não.
Talvez seja melhor assim. Mas por que não fazer diferente? Por que lutar contra o que mais se quer? Por que não apenas se render e se deixar surpreender?

São perguntas feitas cedo demais ou tarde demais?
E mais uma vez eu não sei.
Seria inteligente e maduro perceber o afastamento dele como prova clara, lógica e irrefutável que ele não estar mais disposto a seguir ao meu lado.
E deixar o silêncio do tempo me salvar de mim.

Mas hoje eu queria o "sim", o "vamos tentar", o "eu quero".
Hoje eu queria olhar para esta relação sem a necessidade de me mostrar cheia de defeitos e inadequações.
Hoje eu quero espaço para ser eu, boba, intensa, envergonhada, apaixonada.
Sem medo de ser quem sou. Sem medo das consequências.