quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Entre festas, olhares e exemplos

Por uma vida com menos feliz natal, feliz aniversário, feliz ano novo, feliz páscoa e mais tudo bem, estou do seu lado, vou contigo, eu ajudo.

Sabe aquela preguiça social de discutir e mostrar o ponto de vista para pessoas que jamais irão entender os argumentos? Pois é, sinto-me invadida dela neste período festivo. Não é que eu seja do contra e me recuse a comemorar o que todos comemoram, apenas paro para refletir antes de me juntar à multidão. E, neste movimento, minha decisão por muitas vezes é me manter distante, no meu cantinho, calada.

De folga do trabalho esta semana, com medo das multidões consumistas e do amor instantâneo e questionável tão presente neste período, me vejo como espectadora de todo tipo de expressão facebookiana para comunicar o espírito natalino nas timelines da vida.

Acho legal, às vezes é até bonito e autêntico, ver as pessoas manifestando amor, carinho e tantos bons sentimentos por aí. Mas em meio a isso tudo, apenas uma palavra me vem a mente: coerência. Eu não quero ser uma pessoa presente em sua vida no natal, no seu aniversário, na virada de ano. Eu prefiro estar do seu lado, dentro das possibilidades e impossibilidades do cotidiano, todos os dias.

É inverossímil essa gente toda que fecha a cara, que não cumprimenta, que finge que não viu, mas está lá sorridente e amorosa nas tais datas especiais. Acho patético. Mas, como quase tudo na vida, é questão de escolha e de consciência.

Se é Jesus que você quer comemorar, faça como Ele, principalmente quando Ele foi constante a maior parte da vida. Não deixe seus sentimentos nobres fluírem apenas nas datas tidas por especiais, seja a sua vida um transbordar desse espírito amoroso e solidário. O resto é cena desnecessária.

Que esse amor, que esse olhar bondoso, que essa solidariedade e altruísmo habitem nosso íntimo e nos impulsione a novas estratégias de vida, onde os bons exemplos sejam práticas diárias, sejam descobertas cotidianas. Que o exercício da liberdade, da responsabilidade e da verdade reflitam nos dias que estão por vir neste novo ano.

Meu abraço empático! 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Abraços

Já fazem alguns dias que não escrevo aqui. Vivo me cobrando para ser mais assídua, mas esses dias foram muito corridos e cansativos e acabei optando por outras prioridades, mas cá estou de volta.

Ontem promovemos uma confraternização no trabalho, para os pacientes do serviço. É tão raro uma manifestação mais afetuosa naquele ambiente que não consigo sequer lembrar de algum abraço permitido/recebido ali. Para minha surpresa, estou eu entregando uns bombons de chocolate com uma mensagem otimista para os participantes da festinha quando, de repente, uma senhorinha chega até mim e me abraça, de uma forma tão doce, tão terna, tão amorosa que não tive como recuar e me permiti estar ali envolta em seus braços.




Mais tarde, estou eu na última sessão de terapia do ano. Emocionada, com medo, com esperança, cheia de confusão na cabeça. Havia levado uma lembrancinha para meu terapeuta (sou de demonstrar afeto com presentes) e meio sem jeito entreguei. Mais sem jeito ainda ele recebeu, agradeceu e, talvez, contagiado pela novidade do ato, pelos afetos que inundavam-me e transbordavam na sala, me ofereceu/pediu um abraço. Coisa rara. Transgressão.

E eu penso aqui comigo. Quantas vidas são salvas diariamente por um ato tão simples e tão grandioso? Não era o meu caso naquele momento, mas me fez tão bem receber esses dois abraços. De repente é como se todos os meus cacos se reunissem e se ajeitassem para estar ali e receber aquele ato tão simbólico, tão real, de que eu estou inteira, apesar de tudo.

E é assim mesmo, apesar de tudo, estamos inteiros para receber, mas também para doar nossos braços, nosso afeto, nossa emoção. Tão difícil para mim expressar afetos, falar sobre eles cara a cara. Tão mais fácil abraçar e mostrar que estou ali inteira naquele momento. Disponível, transgredindo regras, amando, temendo, vivendo, sendo/aprendendo a ser quem sou.

Mesmo do mesmo...

"Entra ano e sai ano é a mesma coisa", apregoa em uníssono o senso comum, mas será que é assim mesmo?

Estamos nós às vésperas de mais um natal, às portas de um novo ano, e o espírito que vejo povoar as ruas, os shoppings centers, os noticiários é o mesmo: o consumo. Sei que é até comum expressar críticas ao consumismo tão característico deste período, mas será que é só isso?

Quantos vão entrar ano e sair ano e não ver nada de novo lhes acontecer? Quantos vão se sentir sozinhos e angustiados nessa tal celebração do amor? Quanto do vazio existencial os presentes que compramos conseguirão suprir?

E o que me dói em tudo isso é me ver refém de uma cultura em que existem datas específicas para abraçar, pedir perdão, recomeçar, ganhar presentes. É tudo tão cíclico para quê? Para quem?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mais perguntas do que respostas...

A vida é uma loucura. É tudo tão inédito, tão intenso. Sei não. Ter consciência de que sou responsável pelo que me acontece, pois de certa forma fiz essa escolha, é um troço estranho, mas que às vezes munda toda uma compreensão. Olhar pra dentro dói, incomoda. Não conseguir expressar o que aborrece, faz o corpo, a mente e a alma adoecerem. Sabe que às vezes dá vontade de sair correndo e desistir desse caminho hoje escolhido? Não sei como compreender a dor, tampouco amenizá-la, ressignificá-la. E esse não saber também é motivo de perturbação, dor e incômodo. Pior é quando um fato ocasional tira a paz, provoca ânsia de vômito e aperto no peito. Terá o simbolismo poder de transformar tanto machucado e desordem dentro de mim? Que as respostas e os dias de paz venham, de dentro.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sobre firulas e outros hits



Firula... Estou com essa palavra chafurdando em minha cabeça graças a uma amiga que vive falando-a. É uma palavra bonita, cheia de sonoridade e a amiga aplica para detalhar a forma de cantar de alguns de seus ídolos musicais, o que gera uma conotação super positiva dentro desse contexto. Eu, no entanto, curiosa que só eu e já doida pra escrever alguma coisinha no blog (Aproveitar que a internet tá funcionando. Não recomendo a GVT, apenas.) começo a pensar num título bacana, aproveitando a graça que o povo do trabalho faz com meu estilo "blogueira" de ser. Então me deparo com um significado interessante para a palavra.


"Firula, sm., sig. de 'simulação que visa iludir'.
Pode significar, no futebol, fazer lances ou jogadas que mesmo bonitas, não tem objetivo prático.
Fazer firula: "Fazer bonito", mas empregado no sentido depreciativo do termo.
Firula: Ato sem sentido que se presta a confundir ou apenas criar uma noção errada de quem a emprega.
Fingir que faz.".




http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/firula/1242/


Interessante não?

Confesso que jamais havia pensado profundamente sobre o que vinha a ser firula e apesar de ter uma certa familiaridade com o termo (ao ler o exemplo do futebol) não lembro de conhecê-lo. Mas o fato é que assim como no futebol, na música, a vida que vivemos está repleta de firulas (dê a essa palavra a conotação que achar melhor). Quantos acessórios bonitos estão a nos ornar neste momento, mas que de fato não representam nada além do estético? De quantos disfarces, maquiagens, cortes de cabelo, alisamentos, etc, nos valemos para parecermos algo que não somos? Quais artifícios nos levam a simular atitudes, sentimentos, pensamentos, modos de ser e viver?
Escrevo isso lembrando do quanto me chateei ao chegar no trabalho hoje e perceber que a minha franja não tava legal. Quantas vezes nossos dias são estragados por não termos uma chapinha na bolsa? Quantos xingamentos interiores (ou não) nos direcionamos por ter esquecido de colocar um brinco? Quão inadequados nos sentimos por não carregarmos uma maquiagem na bolsa para poder retocar o cansaço ao longo do dia? Tudo isso parece simples e eu posso ser exagerada ao levantar essas questões, mas não acho que seja esse o caso.

O caso é que estamos/somos bombardeados por uma cultura de firulas. Vivemos condicionados a responder determinadas expectativas sociais. E em meio a isso, não poucas vezes, nos apagamos e deixamos o espírito "firulesco" falar por nós. Já não somos, nem permitimos ser, o que grita em nós. Nos dominamos, colocamos a maquiagem da moda, uma roupa "cool" e atuamos. Não que isso seja ruim, mas o que de nós realmente deixamos transparecer em nossas relações?

E eu me pergunto sempre essas coisas... Quem sou eu no meio disso tudo? E, ao contrário do que o povo brincalhão do trabalho diz, não sou uma moça com corte de cabelo moderno, metropolitana, blogueira e que anda de metrô (kkkkkkkkkkkkk). Sou também, mas sou muito mais. Por enquanto ainda estou me descobrindo e me enfeitando um pouco mais - com menos firulas e mais Amanda.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sobre torturas e felicidades: apresentando o pilates em minha vida

Não sou uma esportista nata (ou minimamente talentosa). Não tenho muita paciência e determinação para musculação. Não gosto de correr. Não sei nadar direito. Meu espírito competitivo é um tanto preguiçoso.Tenho cifose e uma coluna cheia de outras mazelas. E minha postura... Aff! De modo que, apesar de todo meu jeito desengonçado de ser, minha atividade física favorita e principal é a dança. E seguia, dançando e errando e tentando e desistindo e voltando e dançando de novo... Até que um dia um colega de trabalho veio partilhar comigo sua experiência no pilates. Até então eu só havia ouvido falar muito por cima e por pessoas muito "phynnas e ladies" sobre tal atividade.

E no meio da empolgada explicação e defesa do pilates feita por esse colega eu comecei a pesquisar. Rapidinho encontrei uma clínica acessível, em todos os sentidos e direções, e marquei uma aula experimental. Nossa! Encontrei meu lugar. Fiquei encantada com tudo o que experimentei, pois realmente vi em meio aqueles aparelhos de tortura medieval que aquela era a atividade que mais supria as minhas necessidades de movimento, seja para cuidar do corpo em si, seja para me auxiliar na dança (flexibilidade, equilíbrio e consciência corporal), seja pela dimensão espiritual - de contato comigo mesma e de autoconhecimento - que a prática de pilates me possibilitava.

O mais bacana é que fazem apenas 13 meses dessa primeira experiência, e mesmo tendo ficado boa parte desse tempo afastada, meu corpo sentia falta, implorava. Quem já fez aula de pilates, ainda que tenha sido apenas uma aula experimental, consegue ter um vislumbre rápido do que estou falando. Não se trata de ganhar massa muscular e ficar "vistosa", mas sim de explorar o potencial do corpo, a força, e de sentir um bem estar absurdo com isso.

Hoje eu voltei, depois de mais de três meses sem qualquer tipo de atividade física (por ordem médica) e foi difícil e incrível. Apesar de meus músculos me denunciarem (se duvidar, estão tremendo até agora), perceber a reação do meu corpo aos exercícios propostos e experimentar o bem estar de me sentir alongada e lotada de dopaminas não tem preço. Indico, mais que indico!

Incômodas questões

Um dos fatos mais chocantes da vida é aquele momento, aquele justo e doloroso momento, em que nos tornamos conscientes das projeções que estabelecemos em nossos relacionamentos com os outros. Perdoem-me a forma genérica e pluralizada que assumo para lhes escrever neste momento. Mas de certa forma eu quero não ser a única a me comportar dessa maneira e, escrevendo assim, sinto que posso criar cumplicidade com meus leitores. 

O fato é que tenho percebido que as projeções estão presentes e que justamente o que mais me incomoda em minhas trocas com outras pessoas é principalmente o que há de mais recalcado dentro de mim. Já imaginaram a complicação disso? Imaginar que tudo aquilo que mais me incomoda e me tira do sério nas outras pessoas, são características mal resolvidas em mim. Nossa, eis uma constatação chocante e, mais do que isso, um incômodo.

Como lidar com o fato de nos desentendermos e nos afastarmos de pessoas que se portam de determinada forma, justamente por nos sentirmos incomodados por sermos de alguma forma do mesmo jeito? Como lidar com a falta de aceitação de si que acaba por se refletir nas relações com o exterior? Se tudo o que não integramos, de alguma forma, é "expulso de dentro de nós", como lidar com essas catarses e descontroles?

Sei que a tomada de consciência dessas situações é crucial no processo de superação das mesmas, mas às vezes me bate uma insegurança tamanha. A necessidade de controle fala mais alto e a imprevisibilidade desses fenômenos assusta. Há quem diga que terapia é luxo, que é modinha, mas mais do que nunca percebo que é necessária. 

O processo de tomada de consciência e autoconhecimento não é pontual, mas processual e não tem fim. Às vezes a bagunça é tão grande que não damos conta desse processo sozinhos, mais do que nunca eu reconheço o valor da Psicologia nesse meu caminho. Assim, mais do que problematizar e externalizar esses estranhamentos e dúvidas que me cercam, aprendo a olhar para eles e perceber que de certa forma isso faz parte de quem sou. Aos poucos vou costurando esses pedaços e me entendendo um pouco melhor, me tornando inteira de verdade...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sobre dar e receber

Carinho, amor, felicidade, verdade, presente, escuta, atenção... A cada dia que passa eu reparo e confirmo a tese de que cada um só dá aquilo que tem. E que, ainda, existem aqueles que dão, esperando a troca, ou seja, esperando receber algo que o outro tem, em contrapartida. Existem aqueles que dão, mas tem dificuldade de receber. Existe aqueles que transbordam o que são de tal  modo que dão e nem se apercebem, pois isso faz parte de sua natureza. E desta feita, não esperam nada de volta, se vier, é lucro. Devem existir muitas outras formas de dar e de receber, contudo prefiro me deter a estas.

Acho muito honesto aqueles que conseguem expressar claramente que tem em mente dar e receber na mesma proporção. Mas será que é possível precisar, quantificar, mensurar esse objeto que damos e aquele outro que recebemos? Quando se trata de bens materiais, tudo bem, até dá. Mas e os sentimentos? E a dedicação? A boa vontade? O amor? Será que dá para medir? Ou melhor, será que dá para cobrar: "Ei fulano, eu te amei com 'tal intensidade', não é justo você me amar apenas com 'tal menos trinta intensidade'"? Difícil, não? Eu acho.

De outra forma, imagina aquela pessoa que ama, que se doa, que se dedica, que - a seu modo - ama intensamente, mas simplesmente não se sente confortável com as atitudes de amor que outras pessoas tentam lhe direcionar. Acredito que de uma forma pura, é raro encontrar alguém assim, mas em menor proporção muitas pessoas apresentam alguma dificuldade em receber amor. Seja por orgulho, por constrangimento, por medo, muitos recusam o amor que bate à sua porta e se esquivam.

E deste modo, vejo o "amor-transbordamento" como uma manifestação bastante interessante e coerente com o que se fala por aí sobre amor. Por "amor-transbordamento" eu compreendo aquele amor que surge dentro do ser que ama e transborda/irradia/espalha ao seu redor. É fluído, é gratuito, é autêntico. Independe do mérito do ser amado ou do que este tenha a oferecer em contrapartida. É amor que se doa. Utópico? Quem sabe...

Penso que, em meio ao caos em que se constrói nossa sociedade, muitas "coisas" estão defeituosas: Pessoas, valores, sentimentos e outros mais. Mas antes de levantar uma discussão moral, é interessante perceber que essa "programação cultural" tem nos tornado, enquanto seres humanos, diferentes dos nossos pais, avós, bisavós, etc. 

Pensar e repensar a cultura que nos envolve e nos forma é fundamental, mas também é fundamental experimentar. Sentir, perceber, estar aberto às diversas formas de lidar com sentimentos. Permitir, conhecer, tentar criar laços de sociabilidade novos, baseados naquilo que acreditamos. É tempo de ousar, de construir a própria história e não apenas seguir modelos pré-concebidos. São novos tempos, são novas oportunidades. Por que não?

Fica a provocação no ar e infinitas reticências, afinal, quando se trata do humano e de suas relações, existem mais conjecturas do que certezas...

domingo, 10 de novembro de 2013

As pedras, as perdas

"Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes".
(Jacob Riis)

Perco a conta das caixas de lenços de papel que tive de comprar nessa vida. Pior que isso. Não consigo fazer uma aproximação justa da quantidade de lágrimas desperdiçadas com causas e pessoas sem valor. Ops! Na verdade, essa percepção "desvalorizada" das causas e pessoas pelas quais já chorei geralmente chega atrasada. Explico. Às vezes, muitas das vezes, eu me acabo de chorar e fazer drama, me desespero e vivo um luto intenso para só depois fazer uma avaliação mais justa e ressignificar a dor da perda.

Em mim parece que dói mais a sensação de perder do que, de fato, o afastamento/a extinção de determinada relação ou situação. Acredito que isso tem a ver com o olhar, relativamente trágico, com que enxergo as relações. Digamos que as perdas que já vivi me fizeram condicionada para não acreditar na manutenção de nada. Entretanto, e contraditoriamente, a cada nova perda eu sofro, não simplesmente pela perda em si, mas pela repetição de todo um ciclo.

Aí vem a proposta da Gestalt-Terapia de fazer com que o sujeito (no caso eu) se aperceba. Mas, e porque tudo tem um "mas", não consigo até agora perceber o que me leva a associar uma perda com a outra. Será a sensação de rejeição e abandono? Será a perspectiva de perpetuidade desse ciclo de desejar, ter e perder? Será a falta de autoconfiança? Como romper isso? Como quebrar essa pedra?

Então me deparo com uma infinidade de interrogações para as quais minhas conjecturas não conseguem responder satisfatoriamente. Tenho andado entre pedras, mas por mais que eu tenha aprendido com as perdas, parece que ainda estou longe demais para superá-las. Sigo martelando por aqui, uma hora ou outra, elas hão de ceder. São tempos difíceis para os cortadores de pedras...

sábado, 9 de novembro de 2013

A difícil arte de ser quem é



Ele, então, me perguntou: Amanda, você faz alguma coisa que realmente gosta?


Lembrei de uma frase muito forte a esse respeito: “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem” – Rosa Luxemburgo. Acontece que muitas vezes, em decorrência da acomodação ao olhar e à vontade do outro, ficamos parados, imóveis, inertes. Ficamos subjugados, pois achamos que o conforto de agradar e ser aceito vale mais do que a satisfação de escolher e de ser quem somos. Não sei se esse é um problema e um desafio apenas para mim, mas infelizmente percebo-me muitas vezes em volta da escolha de me anular e anular minha vontade, para seguir a expectativa de outrem. Com o passar do tempo, de tão acostumada que estou, esqueço até mesmo o que realmente gosto e do que me dá prazer. E nessa hora de confusão, de desencontro, me vem uma forte dúvida: quem sou eu? Exercitar minha vontade, dentro dos limites sociais e legais, tem sido um importante desafio de auto-descoberta. Dizer não ou sim, conscientemente. Fazer o que me dá prazer sem me sentir incomodada ou culpada. Aprender a separar o "outro" do "eu", e a me focar mais no "eu". São tarefas que parecem primárias (e talvez sejam), mas para mim só tem sido, com algum custo, executadas agora. O medo da solidão, do abandono pode justificar esse comportamento, entretanto, perceber quão bom pode ser desfrutar o tempo consigo mesmo é algo libertador. Estou bem e feliz comigo mesma, posso estar acompanhada ou não. Posso escolher sair ou ficar em casa. Posso decidir o que vou fazer com meu tempo e recursos. Eu posso, eu escolho, eu decido. Longe de ser uma atitude egoísta, é um exercício de "ser".

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Não sei se caso ou compro uma bicicleta

Não sei se caso ou compro uma bicicleta. Eis um dilema que não se resume em si mesmo. Ando pensando nessa cultura machista que ainda povoa o pensamento brasileiro, na qual a mulher só é completa se casar. Cada dia me distancio mais desse sonho de casar, ter filhos e ser feliz para sempre, da forma convencional. Não é que não queira isso para mim, é que simplesmente não sei se quero isso para mim. Uma diferença, sutil diferença, mas que muda tudo. 

Resta comprar uma bicicleta, que, além de não anular a possibilidade de um casamento mais tarde, há de me proporcionar um pouco de mobilidade nessa caótica Fortaleza lerda... O certo é que não dá para esperar durante três horas e não aparecer nenhum ônibus ou topic com capacidade de me transportar com dignidade e ter que andar por dois terços do caminho para casa a pé, até conseguir um transporte minimamente "entrável".

Como dizem por aí, não está fácil para ninguém. Daqui a pouco vai ser preciso esperar que o príncipe encantado apareça mesmo montado num cavalo e torcer para que seja príncipe mesmo e não um assaltante. É, até disso tem por aqui. Pegar ônibus é correr o risco de ser asfixiado, esmagado ou assaltado. Amar é correr o risco de ser rejeitado, traído ou abandonado. Resta comprar uma bicicleta, pois como diria a poetisa contemporânea Ivete Sangalo (tsc tsc): "Amar a pé, amor, é lenha".

Resta-me rir, tentar fazer piada e ironizar as dificuldades do cotidiano. E vou, caminhando e cantando e seguindo a canção. Vou, sem lenço e sem documento, sem celular ou bem valioso. Vou, por quê não? Por quê não?

É, não sei se caso ou compro uma bicicleta, não sei mesmo...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Dia de consulta médica

Saí do consultório pesando 20 quilos menos. Não, não fiz redução de estômago. Apenas fechei mais um ciclo. Saí leve, feliz, confiante. Aproveitei a "viagem" e caminhei até a clínica em que fazia pilates. Cheguei perguntando se me aceitavam de volta e fui recebida com um grande sorriso e elogios. Sim, sei da lógica mercadológica, mas prefiro acreditar na sinceridade da gentileza alheia, porque afinal de contas com ou sem elogios voltarei a frequentar as aulas de pilates naquele lugar. Mesmo assim fiquei satisfeita com a recepção e ainda mais confiante para essa nova fase.

Eu que sempre tentei me esconder, passar desapercebida, me sinto ultimamente completamente exposta. E felizmente já consigo me expor sem tanto medo do olhar do outro. Enquanto nas outras idas ao médico, eu passava a hora de atraso do profissional lendo algum livro, hoje pude conversar um bom tempo com uma estranha e trocar risos e cumprimentos com a família de uma futura enfermeira, estudante da Unifor e cuja mãe não se importa que o curso não dê muito dinheiro, desde que a filha possa ter um salário de R$ 3 mil trabalhando seis horas no PSF de algum interior da vida. 

Achei o máximo toda essa troca, me senti meio antropóloga, meio humana. Não lembro de ter conversado com estranhos nos últimos tempos, mas foi bom. Assim como ontem, com a mulher que estava à minha frente na fila do supermercado. Ela olhava de esgueira para mim e eu imaginando que ela me reconhecia de algum lugar. De repente a senhora se encorajou e me perguntou se meu cabelo é natural, expliquei que a parte cacheada é e ela soltou uma exclamação seguida de um sorriso, elogiando a beleza do meu cabelo. Poxa, não tenho lembrança de já ter recebido qualquer elogio pelo meu cabelo natural. Mal sabe ela, mas aquela senhora me fez fechar mais um ciclo. (É muita gestalt acontecendo!) 

Sei que o caminho de me aceitar como sou é longo e não facilmente trilhável, mas estou nele e percebo que não posso (e não quero) voltar atrás. Sabe o efeito dominó? Pois é, ele tem acontecido comigo, mas ao invés de peças caindo, vejo cadeados se abrindo. Não é fácil de viver, tampouco acredito que seja simples compreender do que falo, mas o importante é registrar que a vida acontece a medida que permitimos, estamos abertos e damos abertura. Muitas vezes me acho a pessoa mais aberta do mundo para a busca de conhecimento interior, mas não. Sou sabotada por meu ego, pelos meus exageros, pela minha intensidade. Sou assim? Tenho que integrar esses aspectos meus? Não sei, mas estou em busca...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quando uma imagem vale mais que palavras


E lá fui eu, feliz da vida depois da minha última catarse, ops... postagem, fazer aquela divulgação básica do blog no Facebook quando me deparo com essa imagem. Confesso ter uma certa ambivalência com relação aos meus escritos, pois ao mesmo tempo em que divulgo, morro de vergonha quando alguém comenta ou menciona que leu. Sinto-me despida diante do leitor, o que é bom de certo modo, porém igualmente embaraçador... Mas, voltando, fui procurar uma imagem para ilustrar minha divulgação e o Sr. Google me presenteia com esta. Poucas imagens conseguem me descrever tão bem neste momento, neste processo. Então, deixo-lhes à vontade para se deleitarem e fazerem sua própria interpretação e reflexão do que estou querendo mostrar/ falar/ compartilhar...

Para exorcizar (ou não) o cansaço...

Algumas pessoas me cansam. Termino o dia com esta constatação e com a cabeça fervilhando de raiva, de indignação, de abuso. Algumas pessoas abusam do direito de serem idiotas, inconvenientes, sem noção, estúpidas e outros mais (muitos outros mais).

A vida é uma correria louca, na qual nos equilibramos entre obrigações, vontades, metas, expectativas (nossas e dos outros). Só que às vezes percebemos simplesmente que não dá para equilibrar todos os interesses e papéis sociais, pois em alguns casos eles são conflitantes.

Hoje tentei trabalhar em um grupo reflexivo, mediado pela leitura de contos, noções de responsabilidade e empatia. Para minha surpresa, foi só terminar a atividade, já realizando outra tarefa, constato que para um dos sujeitos participantes do grupo (diga-se de passagem o mais participativo e, aparentemente, mais consciente da discussão) mostra que é muito fácil falar, mas na hora em que atitudes são testadas tudo vai por água abaixo.

Episódios como esse tiram um pouco mais da minha, já pequena, fé em alguns seres humanos. A atividade em questão foi realizada no serviço em que trabalho, um centro de tratamento do SUS para usuários de drogas. Imaginar que esses sujeitos já carregam consigo rótulos negativos e pesadíssimos, faz com que eu me esmere a cada dia para tentar contribuir com uma reflexão, uma palavra motivadora, uma nova oportunidade. Propiciar verdadeiramente um espaço de reconstrução, de questionamento cultural e discussão de valores que norteiam a vida, de forma geral, é algo que impulsiona meu agir profissional.

Porém pessoas como essa, da pior forma possível, mostram que realmente são merecedores de tantos estigmas. Ação e reação. Simples assim. Na vida todos nós temos escolhas. Por mais que a minha visão de assistente social me mostre que existem muitas desigualdades e tantos outros fatores que "justificam" tais comportamentos, na crueza da minha vida e na vida de tantos outros, sei que às vezes realmente é preciso aprender a fazer limonada com os limões que recebemos e não apenas reclamar, roubar, usar drogas, matar e se colocar como vítima da história (são vítimas sim, mas não só isso).

Sei que é um desabafo forte e até mesmo ambivalente, mas como falei antes, algumas pessoas realmente me cansam. E, para mim, essas que não sabem o que querem são as principais. Então mesmo ainda estando p. da vida, ensaio no espelho uma forma de abordar o brutamontes estúpido que me violentou verbalmente hoje e de driblar todo esse cansaço humano-existencial com um pouco de coragem, serenidade e exercícios de respiração.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Confusamente, eu.

Estou eu aqui, quase três meses depois, de volta. Desculpem-me pela inconstância queridos leitores. É que acontecimentos urgentes sempre me roubam de compartilhar reflexões e vivências.

Faz tão pouco tempo desde a última reflexão lançada aqui e mesmo assim parece que faz uma vida inteira. Fiz uma cirurgia, passei um bom tempo meio que ilhada, percebi alguns detalhes até então desconhecidos em minha vida, iniciei na terapia. Enfim, são tempos de MUITA efervescência interior, de um contato tão íntimo comigo mesma que às vezes chega a ser doloroso.

Hoje particularmente saí arrasada da sessão com meu terapeuta. Falava, mais uma vez, da minha dificuldade (quase impossibilidade) de ser "Amanda". E já escrevendo esta postagem me vem a mente que, mesmo estando nesse processo de busca de autoconhecimento, não sei quem sou de fato.

Corro, intensamente, de um lado para o outro, tentando me encontrar. Contudo vivo presa nos pólos opostos, indo do 8 ao 80 sem sequer respirar um meio termo. Sou dura comigo mesma, me exijo demais, mas hoje simplesmente percebi momentos em que minha vontade era não ter compromisso com ninguém. Experimentar...

Como essa palavra pode ser difícil e até mesmo censurável na cultura que me formou. Experimentar é feio, é pecado, é coisa de quem não tem futuro, de quem não tem o que fazer. Experimentar é coisa de gente superficial. E, contraditoriamente, me percebo agora fútil e superficial justamente por não ter experimentado, por ter me deixado prender ao que esperavam de mim. Percebo que a imagem de ousada, de transgressora com a qual muitos me definiram algum dia nada mais foi do que nada. Uma farsa, um disfarce, um faz de conta.

Era uma vez uma menina que queria ser heroína, só que ela tinha medo de errar. Então ela encontrou pessoas que tinham mais medo do que ela e essas pessoas a faziam sentir valente, poderosa. Era uma vez minha história. Acho que essa sou eu. Covarde, acuada, com medo de ser rejeitada. Procurando a todo custo uma caixinha para se enquadrar.

E hoje percebo que essas caixinhas de definições que me incomodam tanto, foram meticulosa e inconscientemente(?) escolhidas a dedo por mim. Escrevi meu script, escolhi o elenco e ao me deparar com o enredo compreendo que não é isso que eu quero, mas o que fazer se não sei o que quero, não sei sequer quem eu sou. Depois de mais de três anos, no mínimo, de caminhada pela busca interior, hoje parece ter sido a primeira vez em que de verdade dei um passo fora da zona de conforto e em direção a mim.

Minha cabeça está doendo. Já tentei meditar sem êxito. Chorei e briguei com meu passado, pela crueldade com que me tratou. Acho que agora é hora de construir novas paredes, novas estradas, novas pontes. Desejo experimentar descobrir quem eu sou. Quero isso. Espero continuar dando passos...

sábado, 3 de agosto de 2013

Coisas de A.S.'s

Tem dias que são ideais para a introspecção, para refletir sobre os rumos tomados, para traçar estratégias. Tenho estado muito em contato comigo mesma, buscado integrar aspectos ainda adversos da minha história de vida e me reconstruir a cada nova descoberta.

Aprendi com a minha primeira terapeuta que é fundamental estar em contato com outras pessoas, para compreender que os processos e dificuldades vivenciados não são únicos, que - de um modo ou de outro - não estamos sozinhos no mundo e temos muito a aprender/contribuir uns com os outros.

Hoje saí com duas amigas e pelos acontecimentos vivenciados, recordados e compartilhados, refletimos bastante sobre relações e sobre o interessante fato de que em nosso meio profissional temos muitos relatos/vivências de relacionamentos complicados.

Aos poucos fomos enumerando que essa realidade se faz presente em nossas relações e que, por mais que queiramos, ainda não conseguimos superá-las e construir um relacionamento saudável, com pessoas minimamente "normais".

Será carma profissional? Será praga da Mary Richmond? Será que reproduzimos nossos saberes profissionais na vida íntima e, de certo modo, atraímos sujeitos/usuários para os relacionamentos? É, só rindo mesmo... São muitas conjecturas, mas nenhuma que explique a contento tal problemática.

Como não me arrisco ainda a solucionar tais enigmas, recolho-me a mim mesma e busco, em mim, melhorar o que ainda precisa ser trabalhado. Não é possível entrar em uma relação e esperar aquilo que nós não temos para dar, mas é necessário entrar numa relação sabendo o que se quer e não aceitar menos. Se vamos crescer juntos e compartilhar a vida é preciso que tenhamos, minimamente, o olhar voltado para a mesma direção. 

Até encontrar essa desafiante pessoa, sigo comigo, procurando me encontrar.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Do lado de dentro...

Tenho uma curiosidade bastante aguçada, gosto de saber das novidades, de estar inteirada sobre os assuntos... Mas percebi que algumas vezes esse excesso de informações me levava a ficar ansiosa, sufocada, pesada. Nada mais difícil para alguém como eu que, "como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora; ai, eu quero chegar antes, pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus". Mas de alguma forma o autoconhecimento, o amadurecimento e, talvez, a fé, me ajudaram a relaxar mais. Dizem que os geminianos (não acredito em signos e nessas coisas astrológicas, ok?) são pessoas comunicativas, tagarelas, talvez essa tese explicasse a minha necessidade de comunicação, de informação, sei lá... O fato é que viver um dia de cada vez, sem expectativas, sem a busca constante por prever o próximo segundo tem me feito  muito bem. Quem me olha de verdade consegue perceber que estou mais calma, mais paciente, que a minha angústia existencial típica tem dado espaço a uma nova perspectiva de encarar a vida e os fatos. Ainda me apavoro, ainda me estresso, ainda sinto vontade de esbravejar alguns palavrões vez por outra, mas também já consigo "deixar estar", me importar menos, estar mais consciente dos meus valores, me deixar influenciar menos pela opinião alheia. Minha cura tem nome: liberdade de ser eu, e o melhor, ninguém pode tirar isso de mim.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pra puta que pariu!

Hoje eu saí por aí, resolvi aproveitar o feriado com amigos e fizemos alguns programas alternativos, bem diferentes do que tenho feito ultimamente. Vi gente "non sense", ri das marmotas, cantei, quase dancei, bati perna na beira mar, vi pessoas apaixonadas e, para variar, refleti. Ao chegar em casa, reparei num espinho que já estava me machucando a algum tempo e resolvi arrancá-lo de vez da minha vida.

Depois me deparei com a frase "genial": "Não deixe que a sua educação te impeça de mandar a pessoa ir pra puta que pariu". Fechou meu dia com chave de ouro! Mas espere um pouco... Tinha que vir aqui compartilhar minhas sandices com meus leitores! (Muitos risos)

Sabe, você, cidadão polido, exemplar, que paga suas contas em dia, que paga seus impostos devidamente, que trata bem as pessoas, que se dedica às relações e faz de tudo para levar boas energias para onde vai? Sabe, você, pessoa altruísta, amiga, sincera, leal, ética, pontual, trabalhadora, responsável e tudo mais? Sim, eu sei, sou dessas... Sabe, você, se ver, apesar de sempre tentar ser e dar o melhor no que faz, sempre levando a pior? Sendo envolvida em picuinhas, traída, esculhambada, injustiçada, menosprezada e tudo mais?

Pois é, minha gente, mas antes deste post assumir um discurso vitimizado, ele vem cumprir papel de catarse, de realmente mandar essa gente toda PRA PUTA QUE PARIU! Sim, porque, afinal de contas, eu e você, que se identifica com o que mencionei anteriormente, somos pessoas maravilhosas, fabulosas, incríveis, pérolas jogadas nesse chiqueiro que o mundo muitas vezes acaba sendo.

Se não nos compreendem, vão PRA PUTA QUE PARIU!
Se não nos respeitam, vão PRA PUTA QUE PARIU!
Se não nos valorizam, vão PRA PUTA QUE PARIU!

Sem mais por hoje!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Primeiros passos



Às vezes tudo parece ir de mal a pior, o amor não vem, o sono se vai, o sol desaparece e o tédio se instala, o ônibus atrasa, a dança tropeça, o coração esfria e a música se perde!

A vida tem disso, nem sempre sai como planejado e quando perdemos as rédeas da nossa história o melhor é respirar fundo e tentar novamente... Reassumir nosso papel de condutores!

É fato que nós perdemos, por diversas vezes, no placar da vida, mas mais certo que isso deve ser nossa persistência em jogar novamente, arriscar tudo, seguir adiante...

A esperança, o amor, a luz, a dignidade, a fé e a honra existem naqueles que persistem apesar dos contratempos, que não desistem quando as tempestades se instalam, que ousam sonhar, que teimam em acreditar!

Os nossos atos geram consequências sobre a vida, cada um carrega consigo essa certeza. Se plantarmos, colheremos! E assim as revoluções acontecem... E assim é que transformamos a nós mesmos constantemente...

A oportunidade de semear nos é dada a cada instante e, junto com ela, as possibilidades de também nos (re)construirmos... É preciso ter coragem e dar o primeiro passo em direção ao lugar onde queremos chegar!

domingo, 31 de março de 2013

Monólogo diário

Você sabe, menina, que precisa se agarrar à vida, erguer sua cabeça, se encarar no espelho e se amar melhor? Você sabe, menina, que você é o centro do seu universo, que é ao redor de ti que o movimento se dá?

Você sabe, menina? Sabe qual é o seu valor? Sabe quantas pessoas queriam estar no seu lugar? Sabe admirar-se pelo que se tornou? Sabe compreender-se e perdoar-se naquilo que errou? Sabe fazer da sua vida tudo aquilo que sonhou?

Menina, você não sabe ainda, mas tudo isso vai passar. Tem alguém agora se esforçando muito para segurar forte a sua mão e te ajudar a atravessar esse trecho tenebroso; para ser seu guia no meio da escuridão e te dar todo o alento e cafuné que você tem demandado.

Sim, menina, eu estou aqui por você! Não vou te abandonar! Vou te proteger, vou te dar amor, vou te mostrar quão forte és. Vamos caminhar, crescer e aprender juntas! Eu estou contigo, menina, eu não desisto de você!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Porque tem dias em que a alma dói...

Coisa mais complicada e chata é sair de um relacionamento. Cortar os vínculos que nos uniam a um ser pelo qual tínhamos sentimentos é algo muito doloroso que, na maioria das vezes, altera, ainda que por pouco tempo, o funcionamento "normal" de nós.

Ao longo do meu caminho até aqui experimentei as mais diferentes formas de separação: familiares, colegas de classe, amigos de infância, amigos de adolescência, amigos da fase adulta, primeiras paixões, primeiros amores, namorados... Todos eles tiveram como fim comum o fato de desaparecerem.

Ainda que ao deixar uma relação nutramos a doce ilusão de "manter contato", minha vida até hoje tem sido prova de que com o rompimento do convívio cotidiano, pouca coisa resta para unir duas ou mais pessoas que decidiram se afastar. Creio que isto está muito mais ligado à natureza dos laços afetivos do que à verdade ou não existente neles.

Hoje estou aqui compartilhando do meu tempo e das minhas palavras para tentar exorcizar a última experiência com a qual me comprometi, que embora tenha durado pouco, me fez aprender muita coisa e está me fazendo muita falta.

E muda muito depois que o ente amado bate a porta na nossa cara (ou nós fazemos isso com ele, não importa de que parte a iniciativa) e vai embora. Dói quando aquela pessoa que diz que sempre estará ali por nós, some, desfaz laços, destrói os canais possíveis e existentes de comunicação.

O vazio que fica depois daí parece não poder ser preenchido por nada. As madrugadas (como esta em que lhes escrevo) parecem intermináveis e a vida parece perder a cor. Mas existe uma esperança, isto passa. O luto, tão comum e esperado após uma perda significativa, tem seu momento de ser e após se concluir o processo de cura pela perda, mais uma vez estamos aí prontos para viver, aventurar, desbravar os caminhos do coração, amar novamente.

Segurança, certeza, perpetuidade? Considero ingênuo acreditar nisso para as relações humanas (os traumas que me ligam à esta descrença ainda não foram superados?), mas acredito que deve haver sim, mesmo diante da quase impossibilidade própria da efemeridade dos vínculos, comprometimento e busca dos envolvidos na relação a tornar aquele momento duradouro e investir nele como se realmente fosse durar para sempre.

Nestes tempos de Facebook, aprendemos várias filosofias de panfleto que são disseminadas incessantemente pela rede, dentre elas tem uma que eu gosto bastante: "Ou soma ou some". De minha parte, começo a acreditar que o que vale a pena em nos relacionarmos é o fato de podermos construir algo em comum com o outro, algo só nosso, que some à nossa experiência humana algum valor, algum aprendizado. E quando isto não acontece não há muito a fazer ou esperar da outra pessoa senão o sumir.

Mesmo sabendo que é muito difícil e doloroso lidar com a perda (e eu posso afirmar isto pelo que sinto neste exato momento), talvez apenas com a dor da partida e do distanciamento é que possamos reunir forças para nos reinventarmos e seguirmos adiante. E em meio às cicatrizes oriundas das tentativas de nos relacionarmos é que ganhamos condições evolutivas de nos adaptarmos melhor ao convívio social, à troca de afetos, ao amor.

No final de tudo isto, como eu li em determinado livro, quando o discípulo está pronto o mestre aparece. Nada do que se vivencia, de bom ou mau, é em vão. Tem que haver uma razão de existir tanta dor e desencontro, há de haver em tudo isto uma lição maior, um treino, um preparo para algo que ainda não se pode vislumbrar, mas é certo que vai requerer todo aprendizado acumulado. Contudo, não quero defender que é apenas com a dor ou a perda que aprendemos e evoluímos, mas antes quero compartilhar meu momento atual, em que meu crescimento está associado a estes fatos.

Então, como forma de perdão, de catarse ou do que queiram chamar, gostaria de permitir a todas as pessoas que se foram da minha vida, por escolha delas ou minha, que recebessem minha declaração de perdão e de agradecimento, por tudo o que contribuiram para eu me tornar a cada dia mais forte, mais próxima de maiores desafios, de maiores afetos, de uma vida mais completa, na qual eu esteja pronta para vivenciar tudo o que a condição humana me potencializa a ser.

sábado, 23 de março de 2013

Entre janelas e pontos finais...

Passeando pelas janelas da vida, percebo que simplesmente não se pode "criar inspiração" para homenagear ou xingar alguém. Há alguns dias queria muito dedicar algum tempo e escrita a alguém que vinha povoando meus dias de luz e de doçura, contudo algo me segurava e me dizia que não era o momento.

Talvez o momento seja agora. Ou pelo menos vou tentar fazer o melhor que puder para falar, não de flores, mas de desapego.

Estamos neste mundo sob o jugo (in)visível da efemeridade, tudo passa. O tempo deixa, quando muito, lembranças, as quais nem sempre serão propagadas, mas findarão junto com a nossa materialidade humana.

E isto não se resume aos objetos, à concretude de forma geral, mas abrange o intangível dos afetos, das emoções, das relações que travamos.

O despontar deste ano me trouxe a linda oportunidade de me aprofundar nas nuances pálidas do desapego. Experimentei a estranha sensação de tentar não me apegar a alguém que, em todos os sentidos, cativava meu afeto, mas também despertava meu desejo de controle.

E, por fim, sabendo que assim transcorreria entre nós, chega o momento deste alguém partir. As entranhas doem, o choro é inevitável, o desejo de permanência é resistente, mas como prender as águas do mar entre os dedos da mão?

Não é da natureza do mar se deixar aprisionar e, (in)felizmente, já não sou uma criança que pode bater o pé, fazer birra e exigir a satisfação imediata da vontade. No mundo dos adultos o respeito deve valer mais do que ouro e a liberdade, então, não há com que comparar.

Desta feita, eu abro a mão, permito fluir, consinto à água me banhar e a deixo ir...

Não sei aprisionar, nem me contentar com o cativeiro de quem aprecio, mas abro sempre os braços e permito que entre eles possam estar os que ali se sintam confortáveis com meu abraço. 

E o mar? Ah, sempre haverão outras águas, outros, outros e outros momentos, sempre haverá um dia depois do outro, até que não haja mais nada para ver pelas janelas desta vida reticente, mas cheia da necessidade de pontos finais...

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dançando no ar...











Dançar sempre foi fonte de prazer e de contentamento em minha vida. Lembro da menininha cujos olhos brilhavam ao ver uma apresentação de ballet e que sonhava, silenciosamente, em ser assim quando crescer. Lembro das apresentações no colégio, lindas e ingênuas coreografias das músicas da Xuxa, da Mara e de outras, nem tão ingênuas assim, mais tarde na adolescência. Lembro das apresentações na igreja, do divertidíssimo improviso no Ministério de Dança. Tudo sempre tão levemente feliz. Dançar para mim sempre foi assim: momentos de leveza, de contentamento, de deixar fluir corpo, música, energia... Embora por alguns momentos a vida, e algumas pessoas, tenham me levado ao afastamento do ato de dançar, a dança sempre esteve presente em minhas memórias, em minhas analogias, entre minhas paixões. Apesar do meu jeito tímido de ser, da minha vergonha excessiva, da minha falta de jeito e de outras trapalhadas, nunca desisti de tentar. Em 2010, graças ao incentivo de um querido amigo, criei coragem de me aventurar numa dança que, até então, não tinha tido coragem suficiente de me lançar: a Dança do Ventre. De lá para cá foram muitos aprendizados, desafios infindáveis, muita determinação, muita vontade e alguma disciplina. Amanhã estarei mais uma vez estreando num palco, um pouco mais formal desta vez, mas mais do que qualquer deleite ou vaidade, subirei lá e dançarei o meu melhor, simplesmente para desafiar a mim mesma, aos meus limites e perceber que eu posso sim... dançar, voar, ser eu mesma. E que não será qualquer outra pessoa que me ditará os limites do que eu posso ou não fazer!

terça-feira, 12 de março de 2013

MovimentAÇÃO do amor

Sim, eu sei! Tudo isto é tão efêmero. A vida flui e se esvai como o movimento das correntes de ar, como a tentativa de conter o mar. Nada pode segurá-la. Ela acontece e se vai, então acontece novamente e novamente, até se extinguir, num movimento constante de cores, gestos, sensações.

Efemeridade. Algo passageiro. Pouco duradouro. Como tentar, então, se entrelaçar a fatos que, como comprovado pela experiência, simplesmente acabarão? Como construir relações, criar vínculos, manter proximidade, sabendo que, pela própria essência da vida, se findarão?

É fato que ninguém pode viver sozinho, que o ser humano é um ser social por natureza e que depende das relações que trava com outros seres para se constituir enquanto tal. Talvez o grande "pulo do gato" em matéria de relações seja não alimentar dependências, mas cultivar a liberdade, o amor como escolha e o respeito à subjetividade do outro.

Não existe coisa mais castradora e destruidora de amor do que a prisão que se cria em torno deste sentimento. E não me refiro exclusivamente às relações afetivas de cunho amoroso/sexual, falo também de amizades, de família, de coleguismo. Reflito sobre pessoas que são incapazes de amar e respeitar a liberdade do outro, que acreditam que precisam cercar o sujeito 24 horas diárias para "cultivar o tal amor".

Na verdade, não existe fórmula para conservar o sentimento, seja o fogo da paixão ou a serenidade do amor, pois simplesmente não há como controlar sentimentos. Afetos são mutáveis, pessoas também. Tudo depende de tantos fatores, alguns externos, outros internos, além da interação entre uns e outros. O que desperta amor em algum momento, pode trazer asco nos momentos seguintes.

O que fazer então? Acredito que a base de relacionamentos saudáveis (sejam estes duradouros ou não) é o respeito, a comunicação e a liberdade. Não podemos transferir ao outro o peso da responsabilidade pelo que sentimos e pela forma como nos sentimos em relação às suas atitudes. Acredito que é necessário distinguir bem o "eu" do "outro", compreender que as minhas frustrações, expectativas e intenções são minhas e não cabe à outra pessoa satisfazê-las. 

Relacionamentos são pactos de convivência em que, ao mesmo tempo em que tentamos conhecer e interagir com alguém, criamos espaço para cultivar carinho, afeto, respeito, cumplicidade. E é importantíssimo no meio disto tudo, compreender que a relação a dois só funcionará se a relação consigo mesmo for boa. Eu só posso me dar, quando me tenho. Só posso amar, quando me amo. Só posso dar aquilo que tenho. Isto é simples e verdadeiro.

Mas tudo isto é "em tese", cada pessoa constrói suas próprias formas de se relacionar, através da mediação de seus valores pessoais, suas vivências, seus desejos, seus traumas e medos, sua disposição. Acredito que seja de fundamental valia que ao se inciar um novo relacionamento tudo isto seja pesado e colocado claramente ao outro, sem fantasias, sem subterfúgios, sem máscaras românticas.

O amor é simples, ele flui ou não flui, você suporta o convívio com o outro (apesar do que ele é) ou não. E em tudo isto não vejo muita compatibilidade com a noção romântica do amor à primeira vista, da completa afinidade das "almas gêmeas". Conviver não é fácil, amar é um terreno traiçoeiro, mas é, antes de tudo, questão de escolha. Eu escolho amar o outro, mesmo sabendo das nossas diferenças, mesmo reconhecendo que poderia encontrar outra pessoa mais adequada ao que sou.

E, certamente, a cada nova experiência, vamos afunilando o conhecimento acerca do amor, da interação e de nós mesmos. E vamos aprendendo com essas experiências até que... Quem sabe surja alguém que venha para ficar, afinal, não custa nada sonhar de vez em quando, não é?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Reflexões de uma "antevasin"

Conviver com a diversidade é o desafio lançado sobre aqueles que vem à vida neste planeta. O primeiro, talvez maior, desafio da vida humana consiste na constante necessidade de interagir. É algo extremamente relevante termos em comum o fato de sermos todos tão diferentes, tão singulares, tão únicos. 

Eis que me encontro em uma casa de praia, em Morro Branco, nos preparativos para o Reveillon, estou há umas 30 horas em companhia de completos estranhos, pessoas desconhecidas com as quais divido algumas afinidades, talvez, e inúmeras/ infindáveis diferenças. Estamos aqui dividindo espaço, mas também sonhos, desejos, esperanças...


Compartilhamos os últimos momentos de 2012, enquanto nos energizamos para construir um belo 2013. E asseguro que, apesar das semelhanças e deste clima tão propício para começar novas histórias, não está sendo nem um pouco fácil estar aqui com todos eles. Mesmo assim, sigo testando teorias, aplicando conhecimentos, criando novas hipóteses, me arriscando ao novo.

Aprendo a cada momento que nenhuma vivência é em vão, que de cada situação se pode tirar uma lição e um consequente aprendizado, portanto, creio estar assimilando muita coisa, aprendizagens que hão de me preparar para tudo o que está por vir.


Estou em paz e, por mais que sejam muitas as contrariedades, sigo mantendo a calma e caminhando. (...) E quanto mais o tempo passa, e as 'gestalts' são fechadas, mas eu percebo que nada foi em vão e que este propósito maravilhoso se cumpre em me fazer mais conhecedora de mim e do que é felicidade.


Ah, como sou grata! A Deus, à vida, à mim e aos que seguem comigo nesta trilha tão fascinante e desconhecida! 

Paisagens

A vida às vezes prega peças e traz grandes e inesperadas surpresas. 2012 foi assim para mim, chegou como um ano "normal"; veio bonitinho, regrado, imerso em uma rotina, até que...

Até que tudo isso foi por água abaixo e uma bela crise existencial veio tomar conta de mim. Leituras, conversas, novas amizades, aprofundamento espiritual, redescoberta da dança, meditação, terapia e eis-me aqui novamente, novamente outra, novamente em construção.

Ainda me encontro fascinada com as grandes lições recebidas e que me proporcionam a cada dia levantar com ânimo novo para enfrentar desafios nem tão novos assim.

E é tão bom perceber que a vida segue, às vezes tão limitada e frustrante quanto antes, mas aquela que segue vivendo tem se mostrado tão mais segura, tão mais aberta, tão mais simples, natural, guerreira.

Aprender a fazer as pazes consigo mesmo é um dos caminhos mais importantes, em minha opinião, para alcançar e manter a saúde mental. Saber se reconhecer, se aceitar, se perdoar são tarefas diárias que requerem esmero e muita perseverança.

Começo, então, mais este ano. Retomando minhas postagens aqui. Parafraseando, poetizando e compartilhando minhas catarses, minhas descobertas, meus medos, minha fome de viver, indefinida e infinitamente...