quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Sobre a arte de florescer...

É quase primavera e, apesar de na região em que moro não haver uma diferenciação das estações do ano, esta é a minha estação favorita.

De todas as metáforas que penso para a vida a de florescer é sem dúvida a mais presente e significativa. Na verdade se tratam de ciclos... E a vida é repleta destes ciclos. Você semeia algo, alguma coisa, um sentimento, um pensamento, um projeto, etc... E depois você rala, dá duro mesmo, para cuidar daquilo que plantou, porque muitas vezes por um mero descuido tudo vai por água a baixo.

Mas como você não quer isso, você realmente se esforça e dá tudo de si para poder manter sua semeadura a salvo de pragas. Daí chega o momento em que você vê seu projeto "florescer", ainda não há frutos concretos do seus esforços, apenas um presságio do que virá, mas isso já é suficiente para lhe nutrir de força e destemor para continuar esperando.

A primavera, então, antes de significar a colheita, a recompensa pelos esforços empreendidos, aponta para uma chama de esperança, isto é, nos faz perceber que todo o nosso esforço não foi em vão e que mais cedo ou mais tarde poderemos alcançar as coisas pelas quais estamos nos empenhando.

Às vezes a vida da gente parece uma seca, nada vinga, nem mesmo uma flor aparece em nosso caminho. Hoje eu sinto esse desânimo tomar conta de mim. A tristeza por me esforçar tanto e ver tão poucos sinais de que meus esforços estão sendo direcionados para um objetivo viável.

E eu me pergunto se minha plantação está realmente acontecendo em terreno fértil. Porque não adianta utilizar as melhores sementes, regar religiosamente, adubar cuidadosamente e acompanhar carinhosamente o desenvolvimento da nossa semeadura. Se a terra for seca, nada dali brotará...

Existem esses momentos cruciais na vida da gente em que é preciso ser humilde o bastante para se abaixar até o solo e ver o que há ali. Ver as bases sobre as quais estamos construindo nossa história.

Olhar bem de perto para nossas sementes e compreender se elas tem capacidade de brotar. É preciso enxergar tudo aquilo que compõe nossa vida e questionar se esses elementos estão funcionando harmonicamente e colaborando para chegarmos aos nossos objetivos.

Enfrentar nossos piores temores e entender se temos a capacidade de nos doarmos por um propósito que pode não vingar. Porque simplesmente não há certezas no caminho, são apostas de tudo ou nada e precisamos pesar bem se temos condições de apostar para perder tudo, se já nos permitimos ganhar tudo.

A vida é hoje, A vida é agora. E preciso aprender a lidar com respostas e resultados que não virão hoje ou agora. Porque a fluidez da vida depende das nossas escolhas de hoje que reverberarão no amanhã. Mas o que eu quero para amanhã? Será que o que tenho hoje em mãos pode se transformar no que quero ter amanhã? Será que minhas escolhas são coerentes com minhas buscas?

Até onde posso enxergar, a vida traz necessariamente mais perguntas do que respostas. E eu preciso aprender a responder ao dia a dia da maneira mais honesta possível, seja para mim, seja para quem faz parte da minha vida. Não dá pra jogar sementes a ermo, não dá para fingir que a colheira não importa. Tudo importa. O hoje, o amanhã e o futuro são construções que nascem do agora.

E se a cada dia as coisas não estão como eu gostaria, e precisaria, que estivessem, será que não é hora de reconsiderar as possibilidades, as escolhas e tentar ver as coisas sob um ângulo diferente? Ficam mais algumas perguntas...

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Independência ou morte?

Tomo meu ônibus costumeiro de volta para casa. O mal-estar é tanto que sufoca minha capacidade de racionar. Antecipo minha parada e vou procurar por você.
Entro ofegante, suando, nervosa. Mais bagunçado que meu cabelo são minhas ideias, minha dúvida, minha intensa confusão.

São tentativas diárias de não surtar. São demandas que eu não tenho como responder. Sou uma só, tenho tão pouco. Mas vou, faço, ouço, tento insistentemente te mostrar que sou tão humana, tão frágil ou tão vulnerável como você. Mas é em vão. Me perco em meio ao vão que é insistir com quem não se importa. Gasto meus últimos centavos na última ligação. Foram meus últimos minutos. Eu tentei.

Bato na porta, chamo, ligo, pergunto, imploro. Mas não é sim nem não. Apenas silêncio, indiferença. A sensação de inadequação, de auto-ojeriza, o medo, a falta de espaço e de ar.
Não há lugar, - para mim, para meus pensamentos, para minha vontade, para o que eu não sei explicar - e em meio a tantos espaços vazios, eu me despeço.