terça-feira, 23 de setembro de 2014

Lentes desfocadas

Sou assistente social, meu instrumento de trabalho é, basicamente, a comunicação. Trabalho informando as pessoas, orientando-as de diversas formas, propondo reflexões e outros que se assemelhem. Não sou de dar conselhos. Não gosto de opinar quando minha opinião não é solicitada (e às vezes até quando é não consigo falar muita coisa).

Sou uma pessoa super observadora, calada, introspectiva, na minha. Até você chegar ao meu centro, haja chão. Até alguém conseguir arrancar algo do meu interior, haja lábia. Sou difícil, e dura às vezes. Sou a mais calma e a mais nervosa, depende do meu humor, dos meus hormônios, mas também da sua atitude.

O objetivo de eu estar escrevendo-lhes hoje é simplesmente para dizer que se eu fosse lhes dar um conselho, diria: Não seja a pessoa que tira fotos massas de momentos incríveis, mas sim aquela que os viveu na sua totalidade. Parece contraditório eu, que amo fotos, falar isso. Parece impossível propor tal disparate na cultura do selfie, mas eu explico.

Que o seu/ o meu/ o nosso intuito nesta vida e em tudo o que fizermos para colorí-la não seja um pretexto para mostrar aos outros nossas conquistas nem ostentar nossa superioridade cultural, emocional, intelectual, econômica, seja - antes de tudo - a simples expressão de nossa identidade. Que a importância dos fatos esteja neles, esteja em nós e não nas fotos que tiramos para postar nas redes sociais.

Falo isso como uma viciada em redes sociais que, diariamente, posta pelo menos uma imagem. Falo isso porque a tentação que me acomete muitas vezes é de simular uma vida feliz e interessante e vender isso aos meus seguidores. Falo isso como alguém que percebe a importância de ser honesta nas menores e mais frívolas coisas. Como alguém que está amadurecendo para objetivos de vida e não para momentos de gozo.

A vida é tudo isso, eu sei, não dá para separar. Mas eu quero ser alguém que resolveu ser feliz e esqueceu a câmera digital em casa. Um simples alguém que foi para a aula de Habilidades e Técnicas Culinárias, para o Pilates ou a Dança do Ventre e levou o celular do ladrão, quem nem câmera tem. Como alguém que esteve grudada por um mês com uma paixão e nunca se lembrava de eternizar o momento em imagens, pois eles se eternizaram de outra forma.

Continuarei fazendo minhas reflexões, fotografando, postando, dançando, escrevendo, rindo e sendo feliz, online ou não. Mas quero que esses momentos sejam registrados antes por meus olhos e por todos os outros sentidos e, se der tempo, também terei algumas fotos para mostrar e histórias para contar. Sonho com o dia em que o essencial volte a ser invisível aos olhos e que as nossas câmeras, smartphones e notebooks venham depois das nossas verdades.

sábado, 20 de setembro de 2014

Sobre a arte, a dança e a liberdade


Eu poderia dizer muitas coisas sobre o que a dança significa em minha vida. Eu poderia descrever cada sensação extasiática que invade meu corpo e mente sempre que subo em um palco e olho para a plateia. Poderia, mas não vou.

Hoje quero me ocupar apenas de perceber o transbordar da arte em minha vida e suas repercussões em minha autoestima, autoconfiança, crenças e percepções.

O contato com a arte sempre foi de uma ânsia enorme dentro de mim. A música, o cinema, a fotografia, a literatura e, por fim, a harmonia dos sabores, cores e cheiros me faz sentir algo muito próximo das minhas experiências espirituais. Minha sede de infinito não poderia ser melhor saciada.

Deus está em tudo, simplesmente porque Ele está em nós e na arte a qual nos dedicamos. Antes de uma busca catártica, a arte é uma aproximação com nossa essência, com o cheiro que exala de dentro de nós, com nossa busca individual e com a força criativa que aflui quando somos quem somos, quando estamos em harmonia pessoal e coletiva com nossa essência.

A busca por integração, por inteireza, por autoconhecimento e por verdade nos traz paisagens sombrias e hostis, mas se continuarmos olhando, perceberemos que, por trás do árido, o colorido floresce, o vento sopra e as pessoas bailam, cantam, riem.

Fui uma criança que sonhou ser bailarina, me tornei uma adulta que não consegue se afastar a dança, mesmo que o ambiente externo seja desfavorável, mesmo sendo autocrítica e dura demais. No fim, a alma vence, a sede de algo mais sussurra convincentemente: "- Não desista!".

E assim, eu danço. Não porque eu saiba dançar, não porque eu seja graciosa e me sinta confortável, mas porque minha alma anseia por isso. É tão vital como o ar. E quando eu subo no palco, assim como quando eu levanto a cada nova manhã, eu posso olhar para o público, me angustiar, pesar minhas incapacidades e sair correndo ou simplesmente me jogar, aprender, aperfeiçoar, sorrir das minhas imperfeições a aproveitar cada momento.

Às vezes a vida acontece e estamos tão envoltas em cobranças internas que não percebemos o brilho dos holofotes, a graça de acertar um passo e o tempo da música que nos clama movimento. Rosa Luxemburgo disse que "quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem", deste modo, como pensar a liberdade estando estanques de corpo, alma e/ou pensamento?

Liberdade é decisão, é atitude, é forma de olhar a vida, é, em última ou primeira instância, decisão. Hoje eu acordei feliz demais. Ontem dancei no Ahlan Awan Sahlan - Mostra de Alunas 2014, do Instituto de Danças Àrabes Juliana Jaraj. Já é o segundo ano em que participo de festivais do Instituto, foi minha quarta subida ao palco na Dança do Ventre. E hoje eu percebi que é preciso seguir adiante, não basta descobrir os instrumentos e chaves que libertam, é preciso saber utilizá-los da melhor forma, consciente da função que exercem em minha caminhada interior e exterior.

A vida me deu a dança e eu escolho renovar, a cada dia, o desejo de me aproximar de mim, da minha alma, do meu poder feminino, da minha intuição, do meu eu, do meu próprio corpo, sendo uma aprendiz corajosa na labuta diária, sob os holofotes e/ou no meu silêncio mais íntimo, estando onde estiver e construindo pontes com meu infinito particular e com toda a vida que me cerca. Colorindo novas páginas, ativando flashes e ampliando meu olhar, meu sentir, meu agir e meu ser, para além do que se enxerga, para além do que se espera, para o que é... Livre, leve, solta e dançante, porque, afinal, como disse Nietzsche:

"Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!"


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Avisa que eu percebi!

É incrível a cooperação que a vida oferece sempre que decidimos trilhar o caminho da evolução.
Sempre que optamos por acreditar em nós mesmos e fazer nosso melhor para seguir adiante.
Tenho experimentado há alguns dias a fascinação que é viver um dia de cada vez, sem bagagem, sem preocupação, sem pensamento acelerado, apenas observando e me priorizando.

No sábado uma colega me indicou um livro que, segundo ela, tem tudo a ver com meu processo de crescimento e desenvolvimento pessoal, com minhas buscas, questionamentos e anseios.
Ontem essa mesma colega me deu o livro de presente e eu, vidrada, não consigo parar de ler.

O livro é Mulheres que correm com os lobos, escrito por Clarissa Pinkola, que consiste em um estudo psicológico, à luz da teoria Junguiana, dos arquétipos e mitos que envolvem a Mulher Selvagem, em suma, nossa mais poderosa aliada na autodescoberta e crescimento, nossa essência intuitiva, nosso poder feminino. Infelizmente o livro encontra-se esgotado, mas procurando direitinho você consegue um download. ;)

O que eu sei é que a leitura de algumas páginas até agora me fizeram acordar para alguns pontos interessantes e importantes da minha história.

- Fui criada para ser boa. Não boazinha, mas a melhor. E sentia-me sempre impelida a melhorar mais e mais, nunca era o suficiente.

- Aprendi a valorizar, quiçá idolatrar, a figura masculina, em especial, meu pai, e relegar-me a função de servir e agradar tal figura em detrimento de minhas opiniões e necessidades.

- Desenvolvi uma forte autocrítica autodestrutiva. Dessa forma, nutri-me de insegurança, baixa autoestima e autoimagem não coerente com a realidade.

Só tenho uma sensação ao elencar esses pontos diante do que li: QUESTIONAR.

Acredito que quem tem baixa autoestima conseguirá se identificar mais com minhas percepções, mas o fato é acordei e percebi que simplesmente não preciso provar nada a ninguém, agradar ninguém, nem buscar loucamente ser melhor e melhor para provar às vozes do passado (e as interiores) que tenho valor.

Sabe o que é melhor em tudo isso? Perceber que eu sou uma criatura maravilhosa e fantástica. E isso não é programação neurolinguística, mas o que sinto. Moro há quase 11 anos sozinha, trabalho, me sustento, dou um duro danado pra me virar, me proteger, me cuidar. Trabalho proporcionando momentos de reflexão, questionamento e crescimento a outras pessoas que se encontram fragilizadas devido o uso de substâncias psicoativas, mesmo muitas vezes sentindo uma cratera dentro do meu peito.

Cumpro minhas responsabilidades, pago minhas contas, corro atrás dos meus anseios espirituais, cuido dos amigos, cuido da casa, curso nova graduação, me dedico a hobbies, sempre encontro tempo para sonhar. Poucas são as pessoas no meu caminho que me estendem a mão para oferecer um alento ou um antitérmico, não obstante a isso tento seguir adiante com o que e quem tenho.

Acho que tenho conseguido fazer um bom trabalho, me equilibrando em meio ao caos existencial, de modo que hoje, e a partir de hoje, não admito intromissão alheia no meu território psíquico, social e pessoal. Não admito que me menosprezem ou me façam sentir indigna (nem eu mesma), não aceito críticas de quem não me conhece ou acompanha minha labuta, não darei mais espaço para oportunistas que venham querer desfrutar do meu amor, carinho e atenção sem qualquer tipo de empatia ou comprometimento. Sim, é oficial, estou ligando o foda-se para você que quer compartilhar meus risos, mas que não está presente quando minhas lágrimas caem, principalmente lágrimas associadas a você.

Estou fazendo uma faxina geral e vou jogar muitas lembranças, coisas e pessoas fora, para sempre. O que não serve para tornar o caminho mais bonito e agradável não será carregado. Desapegar é a meta. Viver com o essencial é o objetivo. Olhar para frente e agir com coerência é meu acordo mais íntimo. Escutar meu coração e me deixar guiar pela minha intuição é a minha lei. Vou ali me encontrar, me amar e me fazer feliz, ok? "Vou pra frente porque pra trás não dá mais"!

Beijos, Sociedade! :***

sábado, 13 de setembro de 2014

Sobre lágrimas e dores

Todos os dias eu acordo, faço uma prece ao céu, volto meu olhar para dentro, medito, ouço palavras de sabedoria, tomo banho, como alguma coisa, coloco o coração na sacola e recomeço meu caminho. Estou seguindo adiante, seguindo meu coração. Certezas? Nenhuma. Lágrimas? Infinitas. Dores? Diárias. Desistir? Nunca.

Eu poderia relatar diariamente os caminhos que tenho percorrido. Mas no momento em que estou seria perda de tempo e de energia. Então sigo, certa de que chegarei. Agora em que cheguei neste ponto e percebo onde estou e percebo quantas necessidades urgentes deixei para depois, por medo, por priorizar outras coisas e por tantos outros motivos bobos e distrações indevidas, hoje olho apenas para frente. Este caminho não tem volta, a vida é agora, eu vou conseguir!

Todos os dias eu lamento, peço desculpas e suspiro por uma segunda chance. Quantas situações e pessoas deixei passar... Quantas vezes machuquei minha mão e meu coração dando murro em ponta de faca? E a faca estava comigo mesma. Quantas projeções e paranoias. Como me perdi? Não sei, não tenho respostas.

Se eu queria voltar atrás? Sim. Mas não é possível. Hoje o que tenho nas mãos é a possibilidade de fazer uma nova história. Acreditar e confiar que o melhor vai acontecer e que vou estar inteira quando a vida e o amor me solicitarem inteireza. Eu quero ser feliz, mas principalmente quero ser eu mesma. Quero sair desse casulo de medo e ansiedade. Quero brilhar, liberar minhas asas e voar à luz do amor.

Com lágrimas nos olhos digito essas palavras. Deus conhece a minha confusão. Não vou desistir, eu acredito, eu vou conseguir. As noites escuras vão passar e logo mais o dia amanhecerá, eu acredito.