segunda-feira, 18 de julho de 2016

Das coisas que aprendi com meu cabelo cacheado

Às vezes me parece que a vida é um grande jogo de blefe. Não importa realmente o que você é, e sim o que você transmite. Passei dos 15 aos 27 anos fazendo químicas de relaxamento/ alisamento em meus cabelos. Nessa época, não tinha a menor vontade de conhecer como era meu cabelo de fato. Importava mais, a mim, controlá-lo, domá-lo, torná-lo socialmente aceitável, me encaixando no padrão do cabelo disciplinado.

Hoje eu observo tantas situações em que minha atitude segue a mesma lógica de como cuidei do meu cabelo durante esses 12 anos. Não existe tempo nem vontade para realizar os cuidados necessários, então é praticamente óbvio recorrer à fórmulas que ajudem a colocar as coisas no lugar e não destoar do restante do gado. E assim vou disciplinando a minha vida a um molde absurdamente destoante de mim.

E assim acontece com amizades, com relacionamentos, com trabalho, com os sonhos de consumo e as aspirações diversas da vida (não tão) moderna.

Em 2013 eu disse a mim mesma, e por mim mesma, que não queria mais alisar meu cabelo, que não aguentava mais aquela tortura semestral e que estava disposta a pagar o preço que fosse preciso para ter meus cabelos naturais. Foi um caminho difícil tantas vezes. Meses depois de tomar essa decisão corri até o salão para novamente alisá-lo. Mas minha ficha realmente caiu e, ali no meio do procedimento, eu vi que não queria mais aquilo.

A vida e as situações do dia-a-dia me levam ao mesmo entendimento: não quero mais isso para mim. Não quero uma vida plástica, em que tudo tem uma aparência bonita, mas na verdade é oco, sem conteúdo, sem alma.

Para ter cabelos naturais, e ,consequentemente, cacheados, eu disponho de pelo menos 3 horas da minha semana de cuidados: higienização, hidratação, nutrição reconstrução, umectação, finalização... Testo produtos, sigo técnicas o mais naturais possíveis, invisto em cremes caros (para o meu orçamento) porque eu sei que nada é caro demais para eu ter o meu cabelo do jeito que ele é. E o amo. E cuido dele com toda felicidade, mesmo quando a preguiça e o cansaço da rotina me consomem. Porque faço por mim e não por quem quer que seja.

A minha necessidade, neste momento, é de também retirar todas as químicas nocivas com as quais venho nutrindo a minha alma, em relacionamentos tóxicos, em comportamentos autodestrutivos, em um desânimo que parece não ter fim. Dar um fim nisso. Abolir as más influências. Cortar. E deixar o que é natural emanar de dentro de mim e vir a tona. Parar de encenar e de tentar me adequar às expectativas dos outros

Sei, a exemplo do que experimentei com meu cabelo, que tal processo é vagaroso e provavelmente eu tenha ganas de desistir em muitos momentos. Outrossim, reconheço que a recompensa de tudo isso valerá cada lágrima, cada domingo solitário, cada vontade de desistir definitivamente. E no final, o que, e quem, virá/ permanecerá me fará entender que tudo valeu a pena.

É, a vida é assim mesmo... Nunca se pode ter tudo o que se quer, mas é imprescindível que se tenha a si mesmo, em abundância. E que se aprenda a construir a vida em bases possíveis, recíprocas e verdadeiras. Porque, afinal de contas, nenhuma maquiagem dura a vida inteira.