Fui ao cinema agora à tarde assistir ao filme Boa Sorte, havia visto o trailer anteriormente e me interessei bastante pelo tema. Filme forte, poeticamente dolorido, visceralmente bonito. O fato é que numa das falas do protagonista ele cita o hábito de andarmos todos ultimamente olhando apenas para frente, indiferentes a quem está ao nosso lado, não enxergamos os outros.
E dentre os muitos paradoxos desta vida, que nem sempre é vivida no amor, está justamente o fato de como seres humanos necessitarmos do outro para nos fazermos e socializarmos, embora ultimamente a cultura nos aponte para o egoísmo, a indiferença, o passar por cima sem olhar para os lados.
Talvez em última (ou primeira) instância tenhamos medo. Medo de sermos tocados pelo outro. Medo de criarmos laços. Medo da perda. Medo da solidão. E, confusa e contraditoriamente, atraímos para nós aquilo que mais tememos.
Sei que essa é uma experiência própria e recorrente da minha vida, mas acredito que muitos outros já se viram na situação de "antecipar uma desgraça pressentida" por acreditar que não aguentaria passar por aquilo. E o pior, a gente traz a "desgraça" para si e se vê tendo que aguentar o tranco da dor, da solidão, do desamor, do que podia ter sido, mas a gente por medo do fim finalizou.
Minha personalidade já me fez muitas vezes caminhar por estradas totalmente escuras, tortuosas e cheias de buraco. Até que eu consegui compreender que não sou a minha personalidade, mas a utilizo desde muito tempo para lidar com situações que de certa forma abalam minha segurança. E hoje, minimamente, consigo perceber quando ela está no comando e, na busca por me tornar consciente de tal, já consigo diferenciá-la de mim.
Este final de semana foi de uma confusão de sentimentos que eu nem tentaria escrever a respeito. Passou um filme e tanto da minha vida. Tentei fugir dessa avalanche me refugiando em distrações, mas ela estava sempre lá, ou melhor, aqui, bem pertinho. As lágrimas vieram algumas vezes, o aperto no peito, aquele "se" tão mais torturante do que o "não". A vontade de fazer algo para mudar o final de determinada história. As mãos atadas. E os fantasmas...
Não entendo muito bem o que ocorre, nem o que me leva a ter esses arroubos repentinos de inquietação, ansiedade e nostalgia. Sei que já lutei muito contra tudo isso e atualmente simplesmente tenho deixado vir a tona, sentindo a dor doer, as lágrimas molharem meu rosto e todo o resto fluir.
Na caminhada de volta para casa ouço Frejat cantando Túnel do Tempo, chego em casa e ponho tal música para tocar e ela me fala:
![]() |
Nosso encontro aconteceu como eu imaginava
Você não me reconheceu, mas fingiu que não era nada
Eu sei que alguma coisa minha, em você ficou guardada
Como num filme mudo antes da invenção das palavras
Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler
Nas nossas conversas demoradas
Mas há dias em que nada faz sentido
E o sinais que me ligam ao mundo se desligam
Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto, eu vou em frente
De volta pro presente
Sozinho no escuro nesse túnel do tempo
Sigo o sinal que me liga à corrente dos sentimentos
Onde se encontra a chave que me devolverá
O sentido das palavras ou uma imagem familiar
Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam
Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto, eu vou em frente
De volta pro presente