terça-feira, 4 de novembro de 2014

O acender das luzes

Ontem alguém no trabalho falava sobre insônia e eu tive o "insight" de que em minha vida a insônia estava sempre atrelada aos meus projetos de relacionamentos. Ledo engano. Aqui estou eu, às 00:53 para me mostrar o contrário. Ansiedade. Estou ansiosa, muito ansiosa. Amanhã, ou melhor, daqui a pouco, vou a uma consulta com um especialista em joelhos para "discutir" sobre o melhor tratamento para a minha mais recente aquisição clínica: condromalácia patelar.

De toda forma, de tudo o que me aconteceu nesta noite típica, que se tornou atípica, ficam algumas constatações. A ansiedade tem a capacidade de me desestabilizar por completo e é uma grande e desgastante luta sempre que tento domá-la, prova disso são os quatro, cinco dias passados em que tento fazer minhas práticas diárias de meditação e o máximo que consigo são dois, três minutos conturbados de relacionamento interior.

Mesmo assim é válido observar que a ansiedade, e não os relacionamentos, é a raiz do meu mal estar e a sementinha que me leva à quase total insanidade. Contudo, percebo também que a ansiedade nasce em momentos de dúvida, de incerteza, de ausência de controle, momentos em que preciso confiar em alguém "externo" para percorrer determinado caminho. Acredito que esta seja a raiz ainda mais profunda de toda essa problemática.

Considero de suma importância mapear essas "causas-efeito" em meu funcionamento psíquico para a organização de esforços para lidar com as consequências turbulentas que sempre vem. Observar o que me causa mal estar e de onde vem essa inquietação que me acomete e que não me deixa em paz serve para que eu busque novos mecanismos para lidar com essas situações ou outras similares.

E no meio de toda essa teorização-sistematização sobre meus mecanismos, nem sempre amigáveis, de funcionamento, me vem um novo "insight" (agora sim!). Sabe quando uma criança, no auge do seu medo e incerteza, fantasia monstros e todos os terrores possíveis nas sombras projetadas em seu quarto? Pois é, isso acontece porque ela não consegue enxergar o que realmente existe e não tem coragem para levantar da cama, acender a luz e perceber os objetos que criaram as projeções mentirosas. Crianças geralmente gritam pelos pais, para que eles mostrem a elas que o medo é infundado.

Nos últimos dias sinto-me acometida por uma incômoda sensação de solidão, independente de onde estou e de quem me acompanha, sinto-me inexoravelmente só. E essa solidão me causa uma angústia e um medo profundos e inexplicáveis. Neste caso, meu grito de socorro é direcionado a Deus. Mas minha incapacidade de "levantar e acender" a luz na minha psique me fazem procrastinar a percepção da ilusão das projeções que tenho criado. Deste modo, o medo, a angústia e o grito de socorro constante criam um estado de mal estar que só se desfaz quando passo a enfrentar meus fantasmas e, olhando corajosamente para eles, acendo a luz e os desfaço com um feixe de realidade.

O que há de reconfortante e alentador em tudo isso é que, metáforas a parte, tudo se processa realmente dessa forma. Enquanto minha luta contra os "fantasmas" se passa no nível mental, com argumentos racionais, lógicos, eu me afundo em trevas. E só quando - por coragem, acidente ou acaso - acendo a luz e vejo o que a realidade é, é que me convenço de que não há monstros e a ansiedade se esvai, ou pelo menos diminui, e eu posso voltar a apagar a luz e dormir em paz.

Amanhã (daqui a pouco, na verdade) é um novo dia, e eu espero que seja colorido, que a consulta transcorra bem e, principalmente, que meu joelho não acumule uma cicatriz causada por bisturi. Melhor ficar com a lembrança boa de outras cicatrizes (!!!), mas que o melhor aconteça...

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