Nesses primeiros dias do ano, tendo a oportunidade de falar quase diariamente com minha melhor amiga, venho percebendo as mudanças que a vida esculpiu ao longo dos anos em mim, nela, na nossa amizade e nos relacionamentos aos quais nos permitimos.
Cris disse-me um dia desses que talvez nossa amizade sobreviva para nos apoiarmos diante da confusão que os homens ainda conseguem nos causar. Não foram exatamente essas as palavras, mas creio ter reproduzido o sentido geral. O fato é que já são quase doze anos de amizade, regados de cumplicidade e da certeza de uma sempre estará do outro lado quando a outra precisar.
Essa amizade me faz feliz, mas faz, sobretudo, com que eu pense a respeito da minha vida, das minhas escolhas e da minha dificuldade em lidar com fins e, de muitas vezes, me colocar em primeiro lugar.
Esta noite eu me sinto terrivelmente confusa. Diferente dos dias de paz que experimentei recentemente, hoje sinto um buraco imenso no meu peito e uma vasta gama de incertezas e insuficiências se mostrando como catálogo de loja.
Entre devaneios e incertezas, mal-estar e inquietação, sinto um mosquitinho me perturbando o tempo inteiro. E apesar de figurativo, esse "mosquito" me tira a paciência. Há uma ânsia urgente em mim por entender a vida, entender meus sentimentos e por descobrir o final de todas as histórias que se desenrolam em minha vida agora.
E a agonia que essa ânsia me causa já é velha conhecida e ela, geralmente, me faz agir no calor da emoção. Me faz mergulhar de cabeça numa onda forte, entrar desafiante no olho do furacão, enfrentando medos e driblando minha própria razão.
Neste momento é inevitável não ponderar tudo o que ouvi de minha amiga recentemente. E é difícil me segurar, segurar minha ansiedade, não agir nem reagir.
Há uma frase atribuída a Rosa de Luxemburgo que eu considero muito interessante, ela diz: "Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem".
Desde o final de semana a palavra movimento me acompanhou. Eu senti uma necessidade enorme de me mexer, literalmente ou não, de fazer alguma coisa. De certa forma, senti uma ânsia por me libertar, por me resgatar. Tenho me sentido muito acomodada à vida medíocre que tenho hoje. Uma vida de acomodação, de medo de perder as seguranças e me deparar com o abismo.
Mergulhei nessa necessidade de movimento, experimentando muita satisfação em pequenas atitudes que tomei. E hoje, de certa forma, sinto as correntes me machucarem...
Sinto uma inquietação grande que me impele a desapegar de posturas de auto-boicote e de me permitir viver a vida que quero, preciso e mereço. De parar de me contentar com água de poço que não vai matar minha sede nem hoje nem jamais. De virar a mesa, mais uma vez, e outras mesas, outras vezes, indefinidamente.
E essa inquietação surge nesse contexto, de querer driblar o tédio, a mesmice e o morno - das pessoas, dos afetos, da profissão, de mim mesma. De querer seguir em frente, transgredir, reconhecer, perceber onde estou presa e me alforriar. De querer abraçar o infinito, agarrar sonhos e pessoas grandes, de não ter fronteiras nem limites, de poder me jogar sem rede de segurança, de rir na cara do abismo... Eu quero ser verbo.
Por onde começar?
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