quarta-feira, 18 de julho de 2018

Bloqueio intelectual

Quanto mais eu penso nos tempos que vivemos, mais forte é a sensação de que vivemos uma época de bloqueio intelectual, sob os mais diversos aspectos da existência e experiência humana...

Primeiramente, podemos observar o acúmulo de atividades, de informações, de obrigações e disso decorre um intenso cansaço, desgaste e, em alguns momentos, colapso. Ficamos paralisados diante de tantos estímulos e não conseguimos respondê-los adequadamente.

Em outra instância, temos uma busca por explicar o cotidiano que se centra não mais na razão ou na ciência, mas em outros aspectos mais subjetivos, como espiritualidade, religiosidade, valores individuais e sensações experimentadas individualmente. Este fenômeno nos remete a um certo e
essencialismo, pois os processos sociais passam a ser reduzidos a apreensão do sujeito e de um subjetivismo, muitas vezes retirado de "teorias coaching".

Finalmente temos a deficiente formação escolar, que constrói sujeitos desprovidos da curiosidade investigativa, preguiçosos e acomodados ao trinômio: google - netflix - redes sociais, nós geralmente buscamos informações superficiais para as questões que surgem, mas dificilmente nos aprofundamos em quaisquer assuntos.

E esse bloqueio intelectual traz sérias consequências, que já são percebidas em nossa sociedade. Dentre as quais podemos destacar: apatia política, superficialidade nas relações, desinteresse acadêmico, desequilíbrio nos afetos, fanatismo religioso e a prevalência dos interesses do eu mediante o todo.

É preocupante observar que cada vez mais formamos pessoas desprovidas da capacidade de se enxergar como sujeitos de um processo histórico, responsáveis e implicados socialmente. E a apatia, incapacidade de refletir e buscar transformar a realidade que nos cerca faz com que sigamos por um caminho de pouco desenvolvimento, seja no âmbito social, político ou intelectual, propriamente.

Desbloquear a tela de um smarphone é simples, mas como podemos encontrar um mecanismo capaz de nos desbloquear. Como podemos reiniciar nosso sistema operacional e retomar a capacidade de enxergar um pouco além da nossa tela? Como podemos experimentar os aspectos humanos subjetivos sem esquecer as questões maiores que nos cercam e que precisam ser contempladas com nossos esforços?

Precisamos recordar que o ser humano é múltiplo e mover nossas ações para o encontro com essa múltipla complexidade. Se precisamos de uma experiência espiritual, se precisamos encontrar o sentido de nossas vidas, não devemos deixar de lado o aspecto coletivo de tudo aquilo que contempla nossa humanidade, pois como cantava Chico Science: "o homem coletivo sente a necessidade de lutar".

E, assim, não devemos fugir às lutas que devem ser lutadas. Não podemos parar de exercitar os músculos que dão sentido à nossa existência como sujeitos transformadores (não apenas de nós mesmos) da realidade que nos rodeia.

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