Nesses últimos dias alguns acontecimentos tem me levado a refletir sobre o valor das pessoas. Lembro das aulas de economia política em que o Bigodão, professor querido do meu coração, explicava os conceitos de valor de uso e valor de troca. A grosso modo o valor de uso é a utilidade social do objeto. Enquanto o valor de troca seria o valor do objeto mediante o tempo de trabalho e a matéria prima nele gastos.
E confesso que tentar compreender em que ponto da humanidade nós passamos a ver as pessoas com as quais nos relacionamos como um jogo de capital me deu um certo nó no juízo. Na verdade vejo uma proximidade assustadora do conceito de valor de troca como filosofia norteadora de alguns (muitos) relacionamentos.
Nessa nossa falida sociedade machista e capitalista seria algo como:
- Quanto você vale?
- Você vale uma ligação demorada?
- Você vale um jantar?
- Você vale uma noite de sexo?
E pronto. Dificilmente o ciclo continua a partir daí. Afinal, tem muitas figurinhas novas para preencher o álbum. Mas alguém me responda, por favor, que álbum patético é esse? Que bizarrice é essa de colecionar casos de uma noite, ou apenas frações disso, desenfreadamente? Qual o prazer que se tem de transformar as pessoas em mero objetos?
Talvez eu soe completamente conservadora e quadrada em meus questionamentos. Talvez seja meio démodé insistir em romantizar os casos e teimar em acreditar no amor e coisa e tal.
Ao longo dos meus trinta anos eu perdi muito do meu romantismo e meiguice, mas ainda não consegui perder o respeito pelo outro. Não consegui a proeza de jogar, seduzir, iludir e investir energia com intenção de levar alguém pra cama e depois desaparecer (até quando?).
Mas apesar disso, chega uma hora em que o cinismo acaba contagiando e a gente que é humano igual a todo mundo (será?) pensa: E se eu cansar de ser tratada como objeto e resolver, já que sou objeto, cobrar o meu valor de troca?
Estava conversando com uma colega ontem e ela, machista declarada, me falava de seu último homem. Falava de sua condição de mulher independente e da mesmice que era encontrar alguém que não acrescentava, não somava valor ou experiências significativas (para além do abstrato) aos seus dias. E foi bonito de ouvir e compartilhar da sinceridade e verdade dessa mulher.
E essa conversa só me fez reafirmar minha convicção íntima de não me rotular machista ou feminista, porque muitas vezes esses conceitos tão discutidos nas rodas de conversa da vida acabam não sendo suficientes para abarcar a realidade. Será que é injusto um ser objetificado pelo outro começar a cobrar, em forma de valores concretos, pelo aluguel de seu corpo, paciência e envolvimento? Será que mesmo os machistas convictos ou os feministas esclarecidos nunca se viram numa relação afetivo-mercantil? Será que é machismo, feminismo, prostituição? Será que a vida cabe mesmo em caixinhas de conceitos?
Enfim, acho que estamos ainda afogados pela hipocrisia, que - como onda constante - vem e nos afunda, nos tira o ar e a clareza de quem realmente somos e do que realmente fazemos e queremos fazer. Será que no auge da minha consideração pela dignidade alheia e do respeito pelo território sagrado do outro eu nunca quis algo mais, uma compensação?
Bom, o que eu consigo ver é que poucas coisas nessa vida são gratuitas. E por mais que eu não queira, peça ou espere um valor financeiro, nos relacionamentos, minha tendência é querer uma retribuição pelo tempo, afeto e participação oferecidos com a tão cobiçada reciprocidade. Então, como julgar alguém que, diferente de mim, cobra um jantar, um presente, uma mensalidade da academia/faculdade?
E existem casos de pessoas que querem estar com alguém bonito, interessante, inteligente, independente e tantos outros "in's", no entanto essas pessoas pouquíssimas vezes tem o mesmo a oferecer de volta. Nesses casos, o que fazer? Como cobrar? A cobrança financeira começa até a soar justa... Sei que é um tema delicado e controverso. Peço perdão aos que se ofenderem com as palavras fortes usadas, mas é que realmente é um assunto que tem me incomodado bastante recentemente.
Acho que vou começar a ler mais sobre o assunto, porque viu, não tá fácil não...
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