domingo, 14 de fevereiro de 2016

Finitudes

O ser humano é algo bastante complexo. Parece viver preso em dicotomias e contradições infindáveis. Parece sempre confuso e perdido entre escolhas: o presente X o futuro, a realidade X o sonho, o que se tem X o ideal. E sempre preso neste mar de possibilidades, esquece que, apesar da complexidade, é fundamental escolher, tomar partido, pois não se pode fugir a vida inteira.

Algumas pessoas crescem acreditando que tudo será fácil, que ao fazer sua parte todo o resto se resolverá, e aí a realidade mostra que nem sempre os frutos de nossas ações são imediatos, e, muitas vezes, a pessoa vai plantar laranja e colher banana. Não faz sentido algum.

Hoje eu estou realmente confusa, perdida em sentimentos, em aflições, me sentindo sozinha, me sentindo com medo. Minha gastrite dói, e dói mais ainda a sensação de bagunça que toma conta de mim.

O fato de eu me sentir oferecendo meu melhor gera um conflito dentro de mim, pois, erroneamente, me faz evocar o "falso direito"de receber mais. E isso é uma prisão doentia e perigosa. Primeiro porque não se deve dar o que quer que seja com a expectativa de obter algo em troca. Segundo porque nos relacionamentos esse tipo de cobrança tem geralmente o poder de atrair justamente o contrário. E quanto mais se cobra/espera, menos se recebe.

Eu sou orgulhosa, meus amigos que o digam. Eu não peço nada. E quando eu peço, pode ter certeza que é zoação. Ao mesmo tempo, sou de oferecer muito, seja em afeto ou em concretudes. E isso gera um déficit emocional gigantesco que nem terapia, nem reza, nem conselho, nem nada tem atenuado. Então, vivo em risco de criar um lugar de vítima, de coitadinha que tudo dá e nada tem, que, como a bíblia exemplifica, acredita tanto que será recompensada que doa tudo o que tem.

Hoje eu simplesmente invejo as pessoas egoístas. Na verdade essa inveja nem é de hoje. Me sinto encenando constantemente um certo papel de trouxa na vida. Deixando que as pessoas pisem em mim, se aproveitem do meu altruísmo e da minha boa vontade, e acabem muitas vezes a me usarem ao seu bel prazer.

Daí eu recordo de uma sessão de terapia, que inclusive já devo ter mencionado por aqui, em que discutíamos sobre ser aceita X ser rejeitada e que como o medo de ser rejeitada gera comportamentos autodestrutivos, como os que enumerei anteriormente. Em que nos colocamos em último lugar e nos ocupamos tão somente de agradar o outro, deixando totalmente de lado quem somos e o que queremos.

Ao passo que ser aceita engloba a mais absoluta transparência, inclusive daquelas características mesquinhas e deploráveis, de quem nós somos (com valores, falhas, exigências e limites). Ser aceito implica, muitas vezes, delinear claramente para - e na convivência com - o outro todos os contornos que nos compõem, sem medo de que isso signifique repulsa ou separação do outro. Ser você, sem qualquer maquiagem, e saber que o outro vai te acolher do mesmo jeito.

Mas o que fazer quando sempre que se abre esse ciclo de intimidade, de abertura e vem à tona as características mais desagradáveis, a vulnerabilidade e finitude que nos fazem ser quem/como somos o outro vai embora ou demonstra não nos querer desse jeito?

É sabido que não se pode trabalhar em terapia, autoconhecimento ou qualquer outro tipo de técnica de autodesenvolvimento a figura do outro, apenas o EU. Mas como fazer quando o eu se torna frágil e transparente diante do outro, mas não existe uma implicação da outra parte? Eu mesma respondo mentalmente enquanto digito...

É tudo tão complexo, finalmente. E, ao mesmo tempo, muito óbvia a maneira de se resolver. Eu e esse meu medo...

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