Esses dias tenho sentido fortes ondas de ansiedade. Aquele desconforto que nos lembra que é preciso olhar também para dentro, que é preciso parar, que é preciso cuidar de si. Hoje esse sentimento foi mais forte. E aquele aperto no peito me indicava que algo ruim estava por vir. E veio...
Assim como há um ano tive uma excelente surpresa, que foi a reaproximação com minhas irmãs. Agora a vida me traz a constatação, mais uma vez forte e dolorosa, que minhas companheiras de cativeiro sofrem. Ouvir o relato do sofrimento alheio é sempre difícil, trabalho com isso, mas é uma realidade com a qual não desejo ter uma relação naturalizada. Eu sofro e me desgasto na escuta dos usuários do serviço em que exerço minha profissão.
Porém, ouvir relatos de sofrimento de alguém tão próximo e não conseguir transpor o muro da impotência me faz muito mal. Sei que na maioria das vezes o simples fato de quem passa por dificuldades conseguir expressar sua dor já lhe traz alívio, contudo para mim, como família-ouvinte, não há semelhante sensação. A angústia toma conta e aperta o peito. Dói demais ver quem a gente ama se sentir mal e muito pouco ou quase nada poder fazer.
Observo, todavia, que o sofrimento pelo qual esta pessoa passa advém de sua escolha abnegada por cuidar dos outros em detrimento de si mesma e de permitir que os outros a tratem mal, a desrespeitem. Existe um dito popular segundo o qual: "Os outros nos tratam da forma que permitimos que eles nos tratem", isto é, nós somos diretamente responsáveis pela forma como somos tratados pelos outros, nós permitimos o desrespeito, o desamor, a injúria e a humilhação que nos dirigem.
Quando se está no meio de um momento de fragilidade é muito difícil perceber isso e, mais ainda, conseguir encontrar meios de transpor tal situação. Entretanto, cabe a nós esse papel de avaliar constantemente a forma com que as pessoas nos tratam, pois geralmente o abuso e o desrespeito tendem a se generalizar em nossas relações como sintomas de que algo em nós não está bem.
Às vezes precisamos estar cercados de amor, de reconhecimento por nossos atos nobres e altruístas. Precisamos preencher um modelo social que diz que devemos ser pessoas de família, com boa saúde e forma física, equilibrados psicológica e financeiramente. Enfim, devemos a todo custo preencher um padrão. O que poucos fazem é questionar se tal padrão se encaixa em sua vida, se lhe faz algum sentido ou se é só um eco que ressoa em seu autoconceito vazio.
Eu, pessoalmente, me entristeço sempre que vejo alguém sucumbir diante dos padrões de normalidade social e se prostrar ao "deus aparência" para encenar uma vida que não lhe pertence. Dói ver alguém humilhar outrem simplesmente por ver no outro os reflexos de um fracasso que é seu. Sei que muitas vezes é preciso descer ao fundo do poço e permitir que nos torturem e humilhem ao extremo para nos decidirmos a mudar.
Passei por algo assim e, em meio a uma relação familiar abusiva, tive de romper definitivamente o laço de convívio sociofamiliar com determinado parente. E ver essa história de abuso levar outra pessoa ao mesmo entristecimento que já experimentei me sufoca. E, assim como digo aos usuários do serviço em que trabalho, aos amigos que compartilham relatos pesados comigo, hoje eu tive de repetir a ladainha.
Diz a sabedoria das redes sociais que "Todo mundo que a gente encontra na vida está enfrentando uma batalha que você não sabe nada a respeito. Portanto, seja gentil com todos." E eu acredito que uma palavra gentil, uma preocupação autêntica, a tentativa de mostrar para quem está sofrendo suas qualidades e seu valor pode e vai aliviar sua carga.
Existem muitas situações complicadas acontecendo com pessoas que amamos neste momento. Talvez se conseguíssemos olhar com mais atenção, poderíamos lhes proporcionar algum tipo de auxílio. Ter alguém próximo sofrendo com os efeitos da depressão - como é o caso que relatei - é muito angustiante, mas é importante entender que não se trata tão somente de desânimo. E a depressão, como toda doença, requer tratamento.
Não é preciso ser super herói para ajudar, um pouco de empatia já faz muita diferença! :)
https://www.youtube.com/watch?v=VRXmsVF_QFY
Um forte abraço!
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