Coisa mais complicada e chata é sair de um relacionamento. Cortar os vínculos que nos uniam a um ser pelo qual tínhamos sentimentos é algo muito doloroso que, na maioria das vezes, altera, ainda que por pouco tempo, o funcionamento "normal" de nós.
Ao longo do meu caminho até aqui experimentei as mais diferentes formas de separação: familiares, colegas de classe, amigos de infância, amigos de adolescência, amigos da fase adulta, primeiras paixões, primeiros amores, namorados... Todos eles tiveram como fim comum o fato de desaparecerem.
Ainda que ao deixar uma relação nutramos a doce ilusão de "manter contato", minha vida até hoje tem sido prova de que com o rompimento do convívio cotidiano, pouca coisa resta para unir duas ou mais pessoas que decidiram se afastar. Creio que isto está muito mais ligado à natureza dos laços afetivos do que à verdade ou não existente neles.
Hoje estou aqui compartilhando do meu tempo e das minhas palavras para tentar exorcizar a última experiência com a qual me comprometi, que embora tenha durado pouco, me fez aprender muita coisa e está me fazendo muita falta.
E muda muito depois que o ente amado bate a porta na nossa cara (ou nós fazemos isso com ele, não importa de que parte a iniciativa) e vai embora. Dói quando aquela pessoa que diz que sempre estará ali por nós, some, desfaz laços, destrói os canais possíveis e existentes de comunicação.
O vazio que fica depois daí parece não poder ser preenchido por nada. As madrugadas (como esta em que lhes escrevo) parecem intermináveis e a vida parece perder a cor. Mas existe uma esperança, isto passa. O luto, tão comum e esperado após uma perda significativa, tem seu momento de ser e após se concluir o processo de cura pela perda, mais uma vez estamos aí prontos para viver, aventurar, desbravar os caminhos do coração, amar novamente.
Segurança, certeza, perpetuidade? Considero ingênuo acreditar nisso para as relações humanas (os traumas que me ligam à esta descrença ainda não foram superados?), mas acredito que deve haver sim, mesmo diante da quase impossibilidade própria da efemeridade dos vínculos, comprometimento e busca dos envolvidos na relação a tornar aquele momento duradouro e investir nele como se realmente fosse durar para sempre.
Nestes tempos de Facebook, aprendemos várias filosofias de panfleto que são disseminadas incessantemente pela rede, dentre elas tem uma que eu gosto bastante: "Ou soma ou some". De minha parte, começo a acreditar que o que vale a pena em nos relacionarmos é o fato de podermos construir algo em comum com o outro, algo só nosso, que some à nossa experiência humana algum valor, algum aprendizado. E quando isto não acontece não há muito a fazer ou esperar da outra pessoa senão o sumir.
Mesmo sabendo que é muito difícil e doloroso lidar com a perda (e eu posso afirmar isto pelo que sinto neste exato momento), talvez apenas com a dor da partida e do distanciamento é que possamos reunir forças para nos reinventarmos e seguirmos adiante. E em meio às cicatrizes oriundas das tentativas de nos relacionarmos é que ganhamos condições evolutivas de nos adaptarmos melhor ao convívio social, à troca de afetos, ao amor.
No final de tudo isto, como eu li em determinado livro, quando o discípulo está pronto o mestre aparece. Nada do que se vivencia, de bom ou mau, é em vão. Tem que haver uma razão de existir tanta dor e desencontro, há de haver em tudo isto uma lição maior, um treino, um preparo para algo que ainda não se pode vislumbrar, mas é certo que vai requerer todo aprendizado acumulado. Contudo, não quero defender que é apenas com a dor ou a perda que aprendemos e evoluímos, mas antes quero compartilhar meu momento atual, em que meu crescimento está associado a estes fatos.
Então, como forma de perdão, de catarse ou do que queiram chamar, gostaria de permitir a todas as pessoas que se foram da minha vida, por escolha delas ou minha, que recebessem minha declaração de perdão e de agradecimento, por tudo o que contribuiram para eu me tornar a cada dia mais forte, mais próxima de maiores desafios, de maiores afetos, de uma vida mais completa, na qual eu esteja pronta para vivenciar tudo o que a condição humana me potencializa a ser.
Desencontros. Com certeza existem poucas coisas piores. Mas daqui a pouco o sentimento não é nada mais do que uma débil lembrança. Mesmo assim, não estou pronto a ponto de agradecer ao meu algoz.
ResponderExcluirTenho a mesmíssima sensação. Hoje me deixei chorar e perguntar, ainda que à distância, aos meus algozes: por quê?
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