Sim, eu sei! Tudo isto é tão efêmero. A vida flui e se esvai como o movimento das correntes de ar, como a tentativa de conter o mar. Nada pode segurá-la. Ela acontece e se vai, então acontece novamente e novamente, até se extinguir, num movimento constante de cores, gestos, sensações.
Efemeridade. Algo passageiro. Pouco duradouro. Como tentar, então, se entrelaçar a fatos que, como comprovado pela experiência, simplesmente acabarão? Como construir relações, criar vínculos, manter proximidade, sabendo que, pela própria essência da vida, se findarão?
É fato que ninguém pode viver sozinho, que o ser humano é um ser social por natureza e que depende das relações que trava com outros seres para se constituir enquanto tal. Talvez o grande "pulo do gato" em matéria de relações seja não alimentar dependências, mas cultivar a liberdade, o amor como escolha e o respeito à subjetividade do outro.
Não existe coisa mais castradora e destruidora de amor do que a prisão que se cria em torno deste sentimento. E não me refiro exclusivamente às relações afetivas de cunho amoroso/sexual, falo também de amizades, de família, de coleguismo. Reflito sobre pessoas que são incapazes de amar e respeitar a liberdade do outro, que acreditam que precisam cercar o sujeito 24 horas diárias para "cultivar o tal amor".
Na verdade, não existe fórmula para conservar o sentimento, seja o fogo da paixão ou a serenidade do amor, pois simplesmente não há como controlar sentimentos. Afetos são mutáveis, pessoas também. Tudo depende de tantos fatores, alguns externos, outros internos, além da interação entre uns e outros. O que desperta amor em algum momento, pode trazer asco nos momentos seguintes.
O que fazer então? Acredito que a base de relacionamentos saudáveis (sejam estes duradouros ou não) é o respeito, a comunicação e a liberdade. Não podemos transferir ao outro o peso da responsabilidade pelo que sentimos e pela forma como nos sentimos em relação às suas atitudes. Acredito que é necessário distinguir bem o "eu" do "outro", compreender que as minhas frustrações, expectativas e intenções são minhas e não cabe à outra pessoa satisfazê-las.
Relacionamentos são pactos de convivência em que, ao mesmo tempo em que tentamos conhecer e interagir com alguém, criamos espaço para cultivar carinho, afeto, respeito, cumplicidade. E é importantíssimo no meio disto tudo, compreender que a relação a dois só funcionará se a relação consigo mesmo for boa. Eu só posso me dar, quando me tenho. Só posso amar, quando me amo. Só posso dar aquilo que tenho. Isto é simples e verdadeiro.
Mas tudo isto é "em tese", cada pessoa constrói suas próprias formas de se relacionar, através da mediação de seus valores pessoais, suas vivências, seus desejos, seus traumas e medos, sua disposição. Acredito que seja de fundamental valia que ao se inciar um novo relacionamento tudo isto seja pesado e colocado claramente ao outro, sem fantasias, sem subterfúgios, sem máscaras românticas.
O amor é simples, ele flui ou não flui, você suporta o convívio com o outro (apesar do que ele é) ou não. E em tudo isto não vejo muita compatibilidade com a noção romântica do amor à primeira vista, da completa afinidade das "almas gêmeas". Conviver não é fácil, amar é um terreno traiçoeiro, mas é, antes de tudo, questão de escolha. Eu escolho amar o outro, mesmo sabendo das nossas diferenças, mesmo reconhecendo que poderia encontrar outra pessoa mais adequada ao que sou.
E, certamente, a cada nova experiência, vamos afunilando o conhecimento acerca do amor, da interação e de nós mesmos. E vamos aprendendo com essas experiências até que... Quem sabe surja alguém que venha para ficar, afinal, não custa nada sonhar de vez em quando, não é?
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