Já fazem alguns dias que não escrevo aqui. Vivo me cobrando para ser mais assídua, mas esses dias foram muito corridos e cansativos e acabei optando por outras prioridades, mas cá estou de volta.
Ontem promovemos uma confraternização no trabalho, para os pacientes do serviço. É tão raro uma manifestação mais afetuosa naquele ambiente que não consigo sequer lembrar de algum abraço permitido/recebido ali. Para minha surpresa, estou eu entregando uns bombons de chocolate com uma mensagem otimista para os participantes da festinha quando, de repente, uma senhorinha chega até mim e me abraça, de uma forma tão doce, tão terna, tão amorosa que não tive como recuar e me permiti estar ali envolta em seus braços.
Mais tarde, estou eu na última sessão de terapia do ano. Emocionada, com medo, com esperança, cheia de confusão na cabeça. Havia levado uma lembrancinha para meu terapeuta (sou de demonstrar afeto com presentes) e meio sem jeito entreguei. Mais sem jeito ainda ele recebeu, agradeceu e, talvez, contagiado pela novidade do ato, pelos afetos que inundavam-me e transbordavam na sala, me ofereceu/pediu um abraço. Coisa rara. Transgressão.
E eu penso aqui comigo. Quantas vidas são salvas diariamente por um ato tão simples e tão grandioso? Não era o meu caso naquele momento, mas me fez tão bem receber esses dois abraços. De repente é como se todos os meus cacos se reunissem e se ajeitassem para estar ali e receber aquele ato tão simbólico, tão real, de que eu estou inteira, apesar de tudo.
E é assim mesmo, apesar de tudo, estamos inteiros para receber, mas também para doar nossos braços, nosso afeto, nossa emoção. Tão difícil para mim expressar afetos, falar sobre eles cara a cara. Tão mais fácil abraçar e mostrar que estou ali inteira naquele momento. Disponível, transgredindo regras, amando, temendo, vivendo, sendo/aprendendo a ser quem sou.
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