sábado, 6 de dezembro de 2014

Laços

Tenho testemunhado, como protagonista e expectadora, nos últimos anos um interessante fenômeno no que diz respeito aos relacionamentos afetivos. Primeiramente vem o arrebatamento da "paixão" você não consegue esconder que está completamente envolvida com outra pessoa. Daí começam as fotos, as declarações de amor, os infinitos check-ins mútuos e uma felicidade que não tem fim...

A seguir vem o afastamento, a reclusão, um sumiço repentino, sem aviso prévio ou explicação e você se pergunta: "- Onde andará fulan@ e todo aquele amor que el@ vivia esfregando na cara da sociedade?" As fotos não são mais compartilhadas, muda o clima e teor das postagens ou a pessoa simplesmente exclui seu perfil na rede social.

O próximo passo é como o ressurgir da fênix. A pessoa volta repaginada, com um discurso zen, espiritual, religioso, automotivado ou algo equivalente. Ela se mostra mais confiante, mais autoconsciente e pela forma como se expressa e se expõe percebemos que aquela relação que parecia verdadeira e perfeita findou, e como diria Marx: "Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas".


Ao iniciar este texto, deixei claro que já protagonizei algo assim, então talvez fique mais fácil compreender esse movimento tão comum entre meus amigos de redes sociais. Entretanto, levando em conta minha experiência pessoal, o perigo está quando a descoberta do amor próprio, do autoconhecimento, da espiritualidade, ou seja lá qual ferramenta você opte por utilizar para se refazer, sejam usadas apenas nos momentos "fundo do poço", para superar o término.


Na minha vida, experimentei todo esse (ou quase) arrebatamento também. "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei". O relacionamento acabou (GRAÇAS A DEUS!) e eu tive que lidar com um escuro, frio e assustador fundo do poço. E foi só lidando com a dor e a tristeza de me ver perdida e sem referências que percebi um mapa, um guia, dentro de mim. E comecei o meu caminho de volta.


Depois disso já tive oportunidade de "quebrar a cabeça e o coração" com algumas pessoas. E quando terminou sofri bastante. Mas o que ficou daquele "relacionamento sério de rede social" é que eu venho em primeiro lugar sempre, sozinha ou acompanhada, apaixonada ou cínica. Aprendi que meu caminho é contínuo e que o processo de me conhecer e de pertencer a mim mesma não tem fim.


Pode ser que daqui a pouco eu esteja novamente estampando as redes sociais com aquelas fotos chatas que só alguém apaixonado é capaz de publicar, talvez não. Hoje o mais importante é o que é vivido na intimidade, e não a fotografia, as declarações públicas ou qualquer outro excesso "facebookiano".


Começo a acreditar que a felicidade deve ser vivida sem grandes alardes, no íntimo do ser, a sós, compartilhada apenas nos momentos certos e com pessoas de confiança, o resto é marketing pessoal e eu, honestamente, não tenho interesse nisso. "Amar e mudar as coisas (começando por mim) me interessa mais".

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