quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Deixa passar... Deixa pra lá... ♪

"Você é confusa demais".

A voz ainda ecoa. O olhar vazio de desprezo ainda dói em mim. Mas passa...

E eu fico repetindo que passa, sempre passa e que isso não me pode fazer desistir.

Foram anos e anos de desistências, de desconfianças, de repetições do mantra da inadequação.
E eu me pergunto, o que tem mais?
Será que a vida toda vai ser assistir a repetição dessa mesma lenga lenga?
Será mesmo que sou tão insuportável assim?
Eu duvido.

Acho que minha autoestima hoje está um pouco melhor.
Não consigo entender como é que alguém se chateia e vai embora sem paciência alguma com alguém que possivelmente gosta.
Fugir de complicações. Simplificar.
Engraçado que é o meu lema atual, mas é mais complicado do que me esconder do mundo e das possibilidades.
Eu não sei se consigo ser a pessoa simples interiormente como sou exteriormente.

Eu não sei como avançar para um abraço, para um beijo, para uma conexão íntima se tiver que fazer isso só.
Hoje eu não queria estar só. Cheguei a pedir. O que considero humilhante ao extremo.
Aprendi que a vida passa rápido e que não se deve deixar quem se gosta ir embora sem ao menos tentar.
Não sei se tentei, mas pedi para ficar.
Porém hoje sei que existem momentos em que por mais que doa ver o outro partir, é preciso ficar e assumir a rédea das coisas.

Começar, recomeçar, cair, chorar, machucar?
Hoje não. Hoje não quero drama. Hoje não acredito em milagres. Hoje não vou alimentar a mocinha romântica que vive em mim.
Vou ficar só.
Mas vou ficar comigo.

É difícil encontrar comprometimento hoje em dia.
É difícil encontrar alguém que de fato queira ficar, mesmo em meio aos turbilhões emocionais, à confusão, à complicação, às cicatrizes do outro.
O esperado é que você seja perfeita, simétrica, bem resolvida, inteligente, com autoestima e um palavreado sujo para aquelas horas.

Mas o que mais?
Acho que sou idealista demais para os padrões contemporâneos.
Assim eu fico aqui, cheia de ideias, de sonhos, de desejos, de saudades.
Trancada.
Não tenho com quem compartilhá-los (ainda).
Porque abrir a porta para o outro nem sempre é como se gostaria.
Porque abraçar nem sempre é reconfortante.
Porque olhar nos olhos pode fazer a alma perecer.
Dor e contentamento.

Hoje eu quero ficar só.
Esquecer o mundo lá fora.
Esquecer o que ganhei e o que perdi.
Esquecer o que joguei fora e das vezes em que fui jogada nas sarjetas existenciais.
Não exagero.
Mas hoje prefiro simplesmente contemplar os fatos e deixá-los passar.
Não me doer, não chorar, não lamentar, apenas aceitar.

Desde 2008/2009 carrego comigo a frase do Shinyashiki, "Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa".
E hoje eu não vou me desculpar, não vou procurar justificativas nem explicações.
Hoje vou segurar minha mão bem forte, uma presa à outra, e vou me aceitar.
São tantos os que batem à porta, querendo algo em troca, um "retorno" qualquer.
São tão poucos os que realmente se importam e conseguem enxergar além de suas próprias necessidades.

Desta vez prometo não desanimar, apenas deixar pra lá.
Deixar que o vento cubra as palavras que foram escritas na praia, que a areia trate de cobrir a areia.
Deixar que eu me ajude a ressignificar o que não foi bom, mas também o que foi e, ainda, o que pode ser.
Preciso me aceitar, me respeitar.
E seguir adiante.

Vou conhecer alguém que me aceite de verdade, com tudo o que sou.
Mas antes, vou continuar a me conhecer.



E quero deixar uma indicação de leitura. Este é um livro que recomendo a todos que conheço e que quero bem. Um livro tão simples e tão extraordinário que me acompanhou ao longo de algumas frustrações e muitos aprendizados. Nem sei quantas vezes o li, mas sei que sempre encontro algo novo para me inspirar.
Desta vez não será diferente!
Vamos lá, Amanda!
A vida é muito curta para não amar e ser amada.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Cada cicatriz...

Eu acordei e estava num lugar escuro, gelado. Havia pessoas em minha volta, mas eu me sentia irremediavelmente sozinha, muda, dormente. Eu tremia de frio, pedia abrigo, agasalho, mas na dimensão em que eu estava as coisas se passavam em outro ritmo.

Daí eu acordei e tinha uma cicatriz em mim, uma não, várias. Era tão grande e violenta que atravessava a pele e se mostrava na superfície, à flor da pele. "Sim, deu tudo certo. Seu útero está aí, são e salvo", repetia uma amiga ao me ver confusa e incrédula.

Eu acordei várias vezes de um pesadelo terrível, em que me cortavam, e minha primeira reação era procurar a cicatriz, e ela estava lá. E o luto não cessava, já não pela carne, mas pelos afetos violados, pela nudez do olhar, pelo silenciar da palpitação.

Fria, inerte, apagada, hipotensa, assustada, chorona. Não sozinha. Eu estava lá.

“A mais carinhosa também é a mais bruta, a mais inteligente é ao mesmo tempo a mais sensível, a mais bonita é a mais emburrada, a mais esperta é ao mesmo tempo a mais mundo da lua, a mais bem humorada também é a mais chorona, a mais falante é ao mesmo tempo a mais secreta, a mais velha é ao mesmo tempo a mais moleca, a mais moça também é a mais madura , e uma não vive sem a outra." 
(Martha Medeiros)

Eu acordei e estava inteira de novo. Sonhava, sorria, respirava, palpitava, inflamava e ardia. Eu estava lá, mas já não era eu, era outra. Simplificar.

Eu acordei e percebi que se leva uma vida inteira para ser quem se é e que não há tempo a perder. Aprendi que olhar para os lados pode ser enriquecedor. Que arriscar pode render boas histórias. Que amar pode doer e que não amar dói mais ainda. Aprendi não, tenho aprendido. Estou a caminho. Estou me fazendo. 

Eu acordei querendo matar a saudade que sinto, de tudo aquilo que ainda não vivi. Acho que não custa nada arriscar. Não se perde por amar, perde quem não consegue receber o amor. Simplificar.

Eu acordei e resolvi aparar os excessos, cortar o cabelo, abrir minhas entranhas - meu peito, meu coração, minha confusão - para mim. A brigar comigo mesma, mas me aceitar. A ter medo, mas marcar o encontro desejado. A sentir vergonha, mas tentar. A ter raiva, mas não me deixar dominar pelo medo. A ser patética, mas me perdoar TODAS AS VEZES.

Eu estou aqui. Acordada. Insone. Lúcida. Intensa. Dramática. Feliz. Assanhada. Inteira. Sem arrebatamentos que me impeçam de querer ser arrebatada. Com sede de água e, mais ainda, de infinito.

"Moço, não retoque minhas fotos, cada cicatriz tem sua história..."

terça-feira, 29 de julho de 2014

Rompimento: começando pra valer.

Quantas madrugadas ainda me verei assim, sozinha, estranha, triste, encarando minhas obscuridades sem saber o que fazer?

Não existe sensação mais amarga e que faça meu estômago doer tanto quanto a de perder o controle. E o que hoje vem se mostrar mais nítido do que nunca é que esta falta de controle que tanto me incomoda não diz respeito aos outros, mas a mim.

De repente me vi cercada pelos espelhos de infindas projeções que tenho criado para os outros, mas que são minhas. Refletindo minha falta de confiança, minha incoerência, minha instabilidade, meu medo. É catastrófico perceber que todos os sentimentos e intuições negativos que observo em minhas relações com o mundo, são meus. Meus para comigo mesma, apenas meus.

É estarrecedor, e não menos libertador, perceber que o mundo não me odeia, que as pessoas não se esquivam, que não estou subjugada, mas eu tenho sido minha ferrenha algoz esse tempo todo.

Será que cura perceber que a imagem que a gente faz de si mesma simplesmente é falsa? Será que me fará mais solta saber que eu não afasto as pessoas por ser quem sou, mas que sou eu que as expulso a gritos e pontapés, nem sempre sutis, da minha vida? Será que me ajudará a recomeçar de novo saber que não tenho inimigos mais fortes do que minha própria inimizade e auto-sabotagem?

Dizem que amar cura, liberta, renova... Dizem que lágrimas verdadeiras tem o poder de enferrujar a armadura e liberar a pessoa para a vida de verdade. Eu espero que as dessa noite me sejam suficientes.

Eu espero que esse aperto no peito e dificuldade de respirar tão presentes nos últimos dias me deixem, em definitivo. Eu espero não perder alguém especial por medo de me abrir para a vida. Eu espero tantas coisas. Mas agora eu só quero que o dia amanheça na minha vida.

Meu Deus, será possível passar uma vida inteira me escondendo de tudo e de todos? Me podando, me afastando, fugindo da minha humanidade imperfeita? Repetindo o mantra da minha inadequação? Me torturando por não ser digna? Me achando desprezível e sempre pouca demais? Sendo vítima de mim mesma?

Não sei se existe algum manual de psicologia ou de psiquiatria que me ensinem a ser de verdade, a estar de verdade, inteiramente, em minha vida. Sei que por hora eu tenho a fé, a fé em me dobrar diante da minha imperfeição e me aceitar, a fé de rejeitar meu olhar crítico e lhe dizer: não mais. A fé de querer recomeçar e correr atrás do tempo perdido. A fé de que eu posso ser melhor do que isso.

Nada do que me aconteceu foi em vão. Cansei de procurar e de dar explicação para tudo. Hoje eu quero começar a viver, somente viver. E começar a escrita de um novo volume. Novo não, o primeiro, o primeiro que é de verdade, fruto de um encontro emocionado e sincero com o que há de mais verdadeiro sobre mim. No que isso vai dar? Eu não sei. Sei que por hora basta. E como Deus disse a Liz Gilbert uma vez, eu agora o acolho: Vá para cama, Amanda.

domingo, 20 de julho de 2014

Domingando

A vida é tão vasta. Repleta de tantos momentos. São tantas sensações. Como não se perder em meio à tantas possibilidades de resposta?

Domingo é um dia triste para mim, não por algum motivo específico, apenas o considero um dia melancólico demais. Dia de solidão, de vazio, de se confrontar consigo mesmo, com fantasmas, medos...

A incerteza dos dias que passam. O descompassar dos ponteiros do relógio que mesmo funcionando parecem não sair do lugar. O que fazer para aplacar o tédio? Recorro a um filme, mas não funciona. Escolho um livro, mas minha atenção está em outro lugar. Procuro conversar, mas o diálogo não flui.

Domingo é desses dias que faz parecer que o sangue da gente não flui, que estamos sufocados, encarcerados numa emoção inerte e estamos também assim, adormecidos, sem movimento, definhando em nossos mais íntimos desejos.

Será que em meio ao turbilhão de vida que nos alcança durante a semana, o domingo vem para mostrar que nem tudo dura para sempre? A vida social uma hora acaba. As amizades podem se afastar. A família pode estar longe. Quem ficou de vir pode não ter encontrado o caminho. E nós? Onde estamos nós? Onde estou eu neste domingo triste, insosso e sem cor?

Será o domingo apenas reflexo do nosso interior, cansado, esgotado, assustado, querendo algo que não vem? Confesso que hoje minha companhia não foi suficiente. E depois de muitos dias bem, sinto falta de algo. Mas o pior é não saber por onde começar a procurar o que me falta.

Pior é contemplar uma vida de possibilidades e ter que respirar fundo e engolir o choro, mais uma vez. Mas é claro que as coisas melhoram, elas melhorarão. Mas até lá, até chegar a segunda-feira, será que eu vou conseguir esperar?

terça-feira, 10 de junho de 2014

Ano novo, velhos problemas e esperanças persistentes

Hoje eu tive uma conversa que me serviu de catarse para todo o turbilhão de emoções, nem sempre positivas, que tem me acompanhado ultimamente. Conectar o blog e encarar minha ausência nesse espaço me faz ainda mais perceber que algo não está como o planejado.

Queria estudar, desbravar novas searas, experimentar novos conhecimentos, interagir com o novo, contudo meus últimos meses tem me proporcionado também muito estresse, chateação, cansaço e outros desagrados. Me vi mais uma vez envolta em um ciclo de responsabilidades que me empurra penhasco abaixo para o peso de uma vida de obrigações e focos exagerados.

Cansada. Terminando o semestre letivo. Começando um novo ano (amanhã é meu aniversário). E fazendo balanço da vida.

Assando bolo, terminando uma sopa, escrevendo nesse blog, pensando numa postagem que preciso fazer para outro. Essa sou eu. Sempre atarefada, sempre correndo para dar conta de tudo, sempre me culpando pelos momentos de pausa, de ócio, de não fazer.

Talvez essa nossa cultura, talvez meu quadro de ansiedade, talvez condicionamento que não me permito ultrapassar. Sei que chego ao hoje, 10 de junho de 2014, com a sensação de estar carregando o mundo nas costas e infeliz com os resultados dessa tola correria.

Quero para esse novo ano, que essa nova idade inaugura, me traga novas oportunidades de me renovar, de sair da caxinha, de olhar para os lados, de me lançar de fato ao desconhecido, sem agendas, sem relógios, sem chaves, sem hora para voltar. Quero a irresponsabilidade e a coragem dos apaixonados, quero a ousadia e a leveza dos que tem fé, quero a sabedoria e o equilíbrio dos que aprendem com as experiências vividas. E quero mais... Que venha meu ano novo!!!