sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O essencial

Olho para o relógio no canto do computador e constato que já é 11 de setembro. Quem de nós não lembra o que fazia naquela manhã? Eu cursava o primeiro ano do ensino médio e estava estudando física na casa de um amigo nerd. Mas não é bem sobre isso que quero escrever. Hoje é aniversário da minha avó. E ela foi uma das grandes amigas, incentivadoras, mães que a vida me ofereceu.

E lembrar de minha avó me evoca fortes sentimentos de amizade, de alguém que me ofereceu a mão, o ombro, a escuta e tantas outras coisas. Que me ensinou sobre resiliência e sobre tantos valores que eu não seria fiel em reproduzir neste momento.

Estava há pouco tempo relendo algumas mensagens trocadas com uma amiga e meu coração esbarrou com a seguinte frase mais uma vez: "Levamos a vida motivados por medo ou por amor. Não há espaço para os dois". E ela, diante daquela conversa, poderia ter falado tanto, sobre tantas coisas, mas resolveu digitar esta frase. E hoje essa frase ecoa em minha cabeça e faz eu sentir meu coração se mover, mesmo sem tocá-lo. Pensando na frase eu percebo que somente alguém que me conhece bem poderia me oferecê-la neste tempo em que meu coração e minha razão, para variar, duelam.

Falando em medo, lembro da tensão que foi, quando do 11/09/2001. O pânico, a comoção mundial, os filmes, as homenagens às vítimas, a perseguição massiva aos terroristas e tantas vozes sobre o acontecido que ainda hoje se fazem ouvidas.

Lembro de minha avó. Da mulher que fugiu dos padrões da época, casando "velha" aos 25 anos. Casou sem amor, por orientação dos pais. Engravidou de uma menina, teve um parto complicado no qual perdeu a filha e sua capacidade de andar sozinha. Engravidou novamente, nasceu meu pai. Foi abandonada pelo marido com um filho de cinco anos de idade para criar e não desistiu.

Minha avó é daquelas pessoas difíceis de se lidar. A vida a fez dura, justamente para resistir às tantas adversidades que lhes apresentaria. Ela nunca desistiu. Criou como pôde o filho único e me criou como minha mãe não soube fazer. E apesar de discordar tanto de tantas coisas dessa velhinha chata, eu reconheço que não teria conseguido passar por tudo que passei se não fosse por ela e por tudo o que ela me ensinou da vida.

Lembro da Andréa. Minha amiga que já foi mãe, irmã, cupido, enfermeira, confidente, guia e sempre será Andréa Alcoviteira e Astuciosa. Uma mulher de sensibilidade ímpar, coração grandioso e sabedoria admirável. Aquela de sorriso aberto, abraço acolhedor e cheia de palavras para tornar a vida mais suportável.

E lembrando dessas mulheres, lembro também do Pequeno Príncipe. Aquele menininho que habitou a infância e adolescência de muitos de nós e nos ensinou que o essencial é invisível aos olhos, mas, mais ainda, que as pessoas só passam a ter significado em nossa vida a partir do momento em que cativamos/ somos cativados por elas.

Aquele personagem que nos faz entender, depois de adultos, a importância de cultivar amizades e de tantas outras parábolas magníficas que tão sabiamente Antoine de Saint-Exupéry nos deixou. Então, no meio dos percalços do cotidiano nem sempre alegre e colorido, é sempre bom recordar de pessoas e personagens que nos marcaram e marcam a vida, que contribuíram e contribuem para nosso amadurecer humano.

Apesar da insônia, sinto-me honrada em ter a oportunidade de escrever. Em poder, através de palavras, recordar quem é fundamental em minha vida e, por conseguinte, quem eu sou. Porque acredito que somos resultado das interações às quais somos expostos durante a vida. Desta forma, não há como não me sentir feliz em partilhar com pessoas tão especiais este dia, esta data, esta memória que, para mim, vai muito além do terror que se celebra atualmente no 11 de setembro.

Feliz aniversário, D. Nenzinha!!! Obrigada!


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