Ao longo dos anos eu pude acompanhar meu crescimento, em termos de compleição física, em termos de idade, em termos de conhecimento; mas principalmente pude observar de perto o desenrolar de batalhas íntimas e o amadurecimento subsequente a cada uma delas.
Quando criança eu me estranhava. Comecei cedo este caminho. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer eu nunca me imaginei médica pediatra, professora ou algo do tipo, como a maioria, nem tampouco cogitava o sonho que meu pai projetava para mim, comissária de bordo ou agente da aeronáutica. Eu queria ser escritora. E lá no fundo, por mais que respondesse qualquer outra coisa, nutria esse sonho em mim.
De fato, sempre me via fugindo aos padrões e expectativas culturais e sociais do ambiente que me cercava. Meus pais simples, não tiveram oportunidade de uma educação formal ampla, prezavam o trabalho, a atividade, a atitude. Eu retraída, amante dos estudos e dos livros, compenetrada, racional e tímida.
Adolescência é uma quentura não? Sexualidade à flor da pele, paixões, namoros? Não. Eu tinha crises existenciais, me questionava sobre o que estava fazendo no mundo, o que queria fazer da minha vida, quem eu era. Assim tive minhas primeiras crises de ansiedade e experimentei por diversas vezes a sensação de inadequação. Percebia que algo não ia bem comigo, mas não conseguia me achar. Experimentei a conversão religiosa, o engajamento em movimento carismático, era feliz, mas sei lá... Ainda faltavam algumas respostas.
É isto. Faltavam algumas respostas que a minha mente pensante não conseguia responder e, no auge da minha racionalidade, sentia uma angústia dilacerante. As coisas não se encaixavam.
O tempo passou, cresci mais um pouco, me permiti um tantão de outras coisas. Amei, fui amada, fui machucada, fui abandonada, feri, abandonei, desisti, corri atrás, me apaixonei, recuei, fui, deixei de ser, acreditei, tive medo, me escondi, adoeci, me tratei, me impacientei, voltei, senti sede e aprendi a pedir ajuda.
Este final de semana foi maravilhoso. Há alguns anos li a palavra Eneagrama em algum lugar, a internet me deu uma explicação superficial, me forneceu um teste e ficou nisso. Ano passado fui atraída a um livro sobre o tema, comprei, comecei a ler, tive medo e deixei pra lá. Só que neste final de semana eu voltei a olhar para o assunto, soube de um curso e me inscrevi.
Meu coração, juízo e curiosidade foram jogados de um lado para o outro nestes dois dias em que tentava me convencer sobre minha identidade, sobre o tipo ao qual minha personalidade apresentava inclinação. Eu consegui aceitar finalmente e, mais ainda, superar medo e timidez e ir até a frente do grupo e falar sobre mim. É tão fantástico quando enfrento meus medos e percebo que eles são apenas frutos da minha cabeça, que não há o que temer. É realmente uma experiência libertadora.
E no meio de toda esta efervescência que vivi e que minhas palavras certamente não poderão narrar, ouço o padre, instrutor do curso, falar que a coisa mais bonita do meu tipo é quando ele consegue perceber que precisa seguir o coração e descobre a coragem que possui. Coragem. É preciso muita coragem para ser quem se é. É preciso muita coragem para acreditar em si. É preciso muita coragem para não desistir de si mesmo e de seus sonhos.
Eu estou neste caminho há mais de uma década e por mais dificuldades que enfrente ao longo da jornada, e elas são muitas, não trocaria essa possibilidade de me olhar, de me aceitar e de me amar por nada. Sou grata e feliz por não desistir e porque sei que cada vez mais me aproximo da minha essência. Acredito na minha busca e sei que encontrarei.
E você, que tal ter coragem de entrar neste caminho e assumir suas dúvidas, medos e anseios? Você não estará sozinho. Vamos juntos?
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