Parada no final da calçada, cabeça baixa, peso demais nos ombros. Ergo meu olhar e vislumbro o fluxo de carros, de um lado para o outro. Espero o trânsito acalmar, o sinal fechar, pra poder seguir.
Às vezes dá pra arriscar, correr um pouco e passar para o outro lado, ilesa. Noutras simplesmente fico empacada, sem conseguir atravessar.
Agora me encontro assim. Parada, agoniada, olhar triste, sem conseguir atravessar a rua que me leva para mim mesma. Estou com saudades de mim.
Queria colocar minha melhor roupa, meu melhor sorriso, meu melhor perfume e sair correndo ao meu encontro, me dar um abraço festivo e bem apertado e ficar conversando comigo até adormecer. Mas onde estou?
Sinto saudades de mim. Me procuro pelos lugares próximos. Me procuro na lembrança junto aos que se foram. Me procuro em Deus. E só consigo vislumbrar a ponta da calçada, o trânsito caótico, o medo, a solidão e o espaço vazio em mim.
Onde estou? Como será que me perdi? Como será que posso me encontrar? Será que algum jornal pode anunciar esse sumiço? Será que as pessoas farão campanhas para me localizar via facebook? Será que mais alguém sente minha falta?
Ausente-presente, vagando por aí, à procura de mim... Difícil imaginar insanidade maior.
Odeio esses finais de tarde que evidenciam ainda mais a minha solidão, que me fazem perceber que essa saudade que eu sinto não é de um amor, de uma amizade, de uma família, de uma companhia qualquer, mas é de mim mesma. Sinto saudades da pessoa que eu mais amo no mundo, que eu mais admiro, que eu mais quero ver feliz e que eu simplesmente não sei onde está.
Sim, essa é uma dor insuportável. Não, eu não quero me perder de mim. Mas parada na calçada em que estou, a ambivalência vem me fazer companhia, vem suscitar dúvidas, vem me desencorajar. Não posso desistir de procurar por mim, mas o desânimo invade. Onde me resta procurar? O que ainda não fiz que poderei fazer para me encontrar? Estou numa enrascada!
E tudo o que eu queria era sentar e conversar comigo, me consolar, me fazer sorrir um pouco, me contar as novidades, falar das coisas que aprendi enquanto não estava aqui, dizer e me convencer de que tudo vai melhorar. Me pedir pra ficar, pra seguirmos juntas, pra acreditar.
Neste dia em que a sensibilidade está à flor da pele, em que resquícios de um luto recente me enevoam a visão, queria ter a clareza de um encontro comigo mesma.
E perguntas ecoam: O que mais posso fazer para me encontrar? O que me falta tentar? O que vai funcionar de verdade? Eu quero definições, fórmulas, endereços, razões, certezas, mas tudo o que me vem são interrogações, e dúvidas, e medos, e desânimo, e ambivalência. O que mais? O que mais?
Que eu me encontre.
Que eu me encontre.
Que eu me encontre.
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