Não sei se caso ou compro uma bicicleta. Eis um dilema que não se resume em si mesmo. Ando pensando nessa cultura machista que ainda povoa o pensamento brasileiro, na qual a mulher só é completa se casar. Cada dia me distancio mais desse sonho de casar, ter filhos e ser feliz para sempre, da forma convencional. Não é que não queira isso para mim, é que simplesmente não sei se quero isso para mim. Uma diferença, sutil diferença, mas que muda tudo.
Resta comprar uma bicicleta, que, além de não anular a possibilidade de um casamento mais tarde, há de me proporcionar um pouco de mobilidade nessa caótica Fortaleza lerda... O certo é que não dá para esperar durante três horas e não aparecer nenhum ônibus ou topic com capacidade de me transportar com dignidade e ter que andar por dois terços do caminho para casa a pé, até conseguir um transporte minimamente "entrável".
Como dizem por aí, não está fácil para ninguém. Daqui a pouco vai ser preciso esperar que o príncipe encantado apareça mesmo montado num cavalo e torcer para que seja príncipe mesmo e não um assaltante. É, até disso tem por aqui. Pegar ônibus é correr o risco de ser asfixiado, esmagado ou assaltado. Amar é correr o risco de ser rejeitado, traído ou abandonado. Resta comprar uma bicicleta, pois como diria a poetisa contemporânea Ivete Sangalo (tsc tsc): "Amar a pé, amor, é lenha".
Resta-me rir, tentar fazer piada e ironizar as dificuldades do cotidiano. E vou, caminhando e cantando e seguindo a canção. Vou, sem lenço e sem documento, sem celular ou bem valioso. Vou, por quê não? Por quê não?
É, não sei se caso ou compro uma bicicleta, não sei mesmo...
Muito bom! O difícil, com a pressão social pela formação de uma família convencional, é saber identificar se a vontade que surge na gente é genuína ou fruto dessa coerção...
ResponderExcluir