quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Não sei se caso ou compro uma bicicleta

Não sei se caso ou compro uma bicicleta. Eis um dilema que não se resume em si mesmo. Ando pensando nessa cultura machista que ainda povoa o pensamento brasileiro, na qual a mulher só é completa se casar. Cada dia me distancio mais desse sonho de casar, ter filhos e ser feliz para sempre, da forma convencional. Não é que não queira isso para mim, é que simplesmente não sei se quero isso para mim. Uma diferença, sutil diferença, mas que muda tudo. 

Resta comprar uma bicicleta, que, além de não anular a possibilidade de um casamento mais tarde, há de me proporcionar um pouco de mobilidade nessa caótica Fortaleza lerda... O certo é que não dá para esperar durante três horas e não aparecer nenhum ônibus ou topic com capacidade de me transportar com dignidade e ter que andar por dois terços do caminho para casa a pé, até conseguir um transporte minimamente "entrável".

Como dizem por aí, não está fácil para ninguém. Daqui a pouco vai ser preciso esperar que o príncipe encantado apareça mesmo montado num cavalo e torcer para que seja príncipe mesmo e não um assaltante. É, até disso tem por aqui. Pegar ônibus é correr o risco de ser asfixiado, esmagado ou assaltado. Amar é correr o risco de ser rejeitado, traído ou abandonado. Resta comprar uma bicicleta, pois como diria a poetisa contemporânea Ivete Sangalo (tsc tsc): "Amar a pé, amor, é lenha".

Resta-me rir, tentar fazer piada e ironizar as dificuldades do cotidiano. E vou, caminhando e cantando e seguindo a canção. Vou, sem lenço e sem documento, sem celular ou bem valioso. Vou, por quê não? Por quê não?

É, não sei se caso ou compro uma bicicleta, não sei mesmo...

Um comentário:

  1. Muito bom! O difícil, com a pressão social pela formação de uma família convencional, é saber identificar se a vontade que surge na gente é genuína ou fruto dessa coerção...

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