terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sobre dar e receber

Carinho, amor, felicidade, verdade, presente, escuta, atenção... A cada dia que passa eu reparo e confirmo a tese de que cada um só dá aquilo que tem. E que, ainda, existem aqueles que dão, esperando a troca, ou seja, esperando receber algo que o outro tem, em contrapartida. Existem aqueles que dão, mas tem dificuldade de receber. Existe aqueles que transbordam o que são de tal  modo que dão e nem se apercebem, pois isso faz parte de sua natureza. E desta feita, não esperam nada de volta, se vier, é lucro. Devem existir muitas outras formas de dar e de receber, contudo prefiro me deter a estas.

Acho muito honesto aqueles que conseguem expressar claramente que tem em mente dar e receber na mesma proporção. Mas será que é possível precisar, quantificar, mensurar esse objeto que damos e aquele outro que recebemos? Quando se trata de bens materiais, tudo bem, até dá. Mas e os sentimentos? E a dedicação? A boa vontade? O amor? Será que dá para medir? Ou melhor, será que dá para cobrar: "Ei fulano, eu te amei com 'tal intensidade', não é justo você me amar apenas com 'tal menos trinta intensidade'"? Difícil, não? Eu acho.

De outra forma, imagina aquela pessoa que ama, que se doa, que se dedica, que - a seu modo - ama intensamente, mas simplesmente não se sente confortável com as atitudes de amor que outras pessoas tentam lhe direcionar. Acredito que de uma forma pura, é raro encontrar alguém assim, mas em menor proporção muitas pessoas apresentam alguma dificuldade em receber amor. Seja por orgulho, por constrangimento, por medo, muitos recusam o amor que bate à sua porta e se esquivam.

E deste modo, vejo o "amor-transbordamento" como uma manifestação bastante interessante e coerente com o que se fala por aí sobre amor. Por "amor-transbordamento" eu compreendo aquele amor que surge dentro do ser que ama e transborda/irradia/espalha ao seu redor. É fluído, é gratuito, é autêntico. Independe do mérito do ser amado ou do que este tenha a oferecer em contrapartida. É amor que se doa. Utópico? Quem sabe...

Penso que, em meio ao caos em que se constrói nossa sociedade, muitas "coisas" estão defeituosas: Pessoas, valores, sentimentos e outros mais. Mas antes de levantar uma discussão moral, é interessante perceber que essa "programação cultural" tem nos tornado, enquanto seres humanos, diferentes dos nossos pais, avós, bisavós, etc. 

Pensar e repensar a cultura que nos envolve e nos forma é fundamental, mas também é fundamental experimentar. Sentir, perceber, estar aberto às diversas formas de lidar com sentimentos. Permitir, conhecer, tentar criar laços de sociabilidade novos, baseados naquilo que acreditamos. É tempo de ousar, de construir a própria história e não apenas seguir modelos pré-concebidos. São novos tempos, são novas oportunidades. Por que não?

Fica a provocação no ar e infinitas reticências, afinal, quando se trata do humano e de suas relações, existem mais conjecturas do que certezas...

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